|
Próximo Texto | Índice
Crise da água pode afetar 41 milhões no semi-árido
Escassez em 2025 ameaça 70% das cidades com mais de 5.000 habitantes
Levantamento da Agência
Nacional de Águas indica
que será preciso investir R$
3,6 bilhões no período para
solucionar o problema
VALDO CRUZ
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Mais de 70% das cidades com
população acima de 5.000 habitantes do semi-árido nordestino enfrentarão crise no abastecimento de água para consumo humano até 2025, independentemente da megaobra de
transposição do rio São Francisco, concluiu um estudo feito
pela ANA (Agência Nacional de
Águas).
Problemas de abastecimento
deverão atingir cerca de 41 milhões de habitantes da região
do semi-árido e entorno, prevêem pesquisadores da agência, que estimaram o crescimento da população e a demanda por água em cerca de 1.300
municípios dos nove Estados
do Nordeste e do norte de Minas Gerais.
Para resolver o problema, o
estudo ao qual a Folha teve
acesso lista 546 obras. São investimentos calculados em R$
3,6 bilhões, sobretudo em Pernambuco e na Bahia, Estados
que concentram os pontos críticos de abastecimento de água.
A maior parte do dinheiro teria
de sair da arrecadação de tributos federais, sugere a ANA.
Intitulado "Atlas Nordeste",
o estudo não menciona a transposição do São Francisco, projeto de custo estimado em R$
4,5 bilhões e que desvia uma
parcela das águas do rio para
quatro Estados do Nordeste
(Ceará, Rio Grande do Norte,
Paraíba e Pernambuco) por
meio de canais de concreto.
Defendida pelo presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, a
obra depende de uma autorização do STF (Supremo Tribunal
Federal) para sair do papel.
"A transposição aumenta a
segurança hídrica e a oferta de
água para outros usos, ela não
resolve por si todos os problemas", comentou o diretor-presidente da agência, José Machado. Ele acredita que uma
parcela dos municípios pesquisados pela ANA eventualmente
dependerá das obras da transposição para o abastecimento
humano em períodos mais rigorosos de seca. "São obras
complementares", disse.
Embora a principal preocupação do "Atlas Nordeste" seja
com o colapso no abastecimento de água para o consumo humano, o estudo pesquisou a demanda futura por água para
outros usos. Projetos de irrigação e o abastecimento das indústrias exigiriam um volume
muito maior: isoladamente,
áreas irrigadas precisariam de
mais do que o dobro do volume
de água destinado ao consumo
humano hoje.
Minas Gerais
Em toda a região do semi-árido nordestino e entorno, apenas 26,8% dos municípios -a
maioria em Minas Gerais-
conseguiriam chegar a 2025
com a situação de abastecimento de água para consumo humano considerada "satisfatória" sem os investimentos recomendados pela agência, conclui o estudo.
A maior parcela dos municípios (52,8%) com população
acima de 5.000 habitantes
(com base no censo do IBGE de
2000) enfrentaria "quadro crítico" por problema dos sistemas que levam água desde poços ou barragens até as cidades.
Problemas decorrentes de
fontes de água insuficientes
atingiriam apenas 2,7% dos
municípios. Uma outra parcela
de 17,7% enfrentaria, ao mesmo tempo, problemas nas fontes de água, nos sistemas de
captação e nas adutoras.
Na região pesquisada, haveria água suficiente para uma
população estimada em 8,4 milhões de habitantes em 2025.
Outros 41 milhões não teriam
garantida a oferta para consumo humano caso não sejam feitos os investimentos recomendados pelo estudo, aponta o
"Atlas Nordeste". Esse seria um
cenário "otimista", segundo o
estudo, no qual estão contempladas medidas para conter
perdas de água e melhorar o gerenciamento da demanda.
Detalhes do estudo estarão
disponíveis no endereço eletrônico da Agência Nacional de
Águas (www.ana.gov.br) a
partir de amanhã.
Próximo Texto: Espaço: Sem orçamento extra, Nasa planeja base na Lua em 2020 Índice
|