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Biocombustível pode ser sujo, diz estudo
Comparação entre 26 produtos "verdes" e gasolina indica que 12 são mais nocivos ao ambiente, até o álcool do Brasil
Certificados internacionais e uma política mais seletiva para o combustível feito a partir de biomassa é a saída, dizem os pesquisadores
Adam Gerik/Associated Press/Peoria Journal Star
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Pôr-do-sol visto por trás de uma usina de álcool, produzido neste caso a partir de milho, no Estado norte-americano de Illinois
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
Os biocombustíveis não são
sempre melhores que os combustíveis fósseis em termos
ambientais. A tese, defendida
por uma dupla de pesquisadores do Instituto Smithsonian,
na sua base no Panamá, inclui
inclusive os produtos feitos no
Brasil, seja a partir de cana-de-açúcar ou de soja.
"O álcool de cana-de-açúcar
produz até 60% menos gases de
efeito estufa, mas causa impactos ambientais bem maiores do
que a gasolina se outros parâmetros forem considerados",
afirma à Folha o pesquisador
William Laurance, um dos autores do comentário sobre os
biocombustíveis publicado na
edição desta semana da revista
científica "Science".
A revisão tem como base
principal um estudo divulgado
no ano passado na Suíça, feito
com apoio estatal. A pesquisa
analisou 26 tipos de biocombustíveis feitos no mundo. De
um lado, ela mostrou que 21
deles reduzem em mais de
30%, na comparação com a gasolina, as emissões de gases
que contribuem para o efeito
estufa. Porém 12 são mais nocivos para o ambiente do que os
combustíveis fósseis.
"Incluído o álcool de milho
dos Estados Unidos e o de cana-de-açúcar do Brasil. Além
do biodiesel, tanto o brasileiro,
de soja, quanto o da Malásia, de
palma", diz Laurance, que já
trabalhou no Brasil, em Manaus, no Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia).
Sobre a cana-de-açúcar e a
soja, apesar de o discurso oficial do governo brasileiro negar
que estas monoculturas vão tirar o espaço de outras lavouras
ou ainda causar mais desmatamento no cerrado ou na floresta amazônica, as críticas são várias, segundo Laurance.
Soja é pior
"A produção de cana-de-açúcar usa muita água e ainda provoca a poluição dos rios próximos", explica o pesquisador.
"Os fertilizantes nitrogenados
usados em grandes quantidades nas plantações, após serem
quebrados em óxidos de nitrogênio, também vão afetar a camada de ozônio".
Para Laurance, também não
é verdade que a cana não contribui em nada para o aumento
do efeito estufa. "Isso ocorre,
normalmente, quando os campos são queimados".
Mas, no caso da soja, que
também é produzida com a ajuda de fertilizantes com nitrogênio, a situação pode ser considerada ainda pior. "A soja [grão
que esta semana atingiu um
preço recorde no mercado internacional] é atualmente pior
do que a cana-de-açúcar".
Para Laurance, essa cultura é
a principal protagonista do desmatamento na Amazônia. "O
que torna ela mais poluente
que a própria gasolina em termos de gases que contribuem
para o efeito estufa".
Preços altos
A análise da dupla do Smithsonian também menciona um
outro fator, nem sempre considerado segundo eles, quando se
fala das vantagens dos biocombustíveis mundiais.
"A produção de combustível,
seja de soja ou de cana, também
causa um aumento no custo
dos alimentos, tanto de forma
direta quanto indireta. O preço
do açúcar também está muito
alto porque muitos produtores
brasileiros estão produzindo
apenas álcool".
Tanto o estudo original, feito
pelo governo da Suíça, quanto a
revisão da dupla dos Estados
Unidos não condenam a produção dos biocombustíveis, mas
defendem que as grandes estratégias de produção dos governos sejam feitas de forma mais
seletiva. E que certificados internacionais para os produtos
feitos a partir de biomassa sejam costurados com urgência.
Um dos exemplos de política
errada, segundo Laurance, vêm
do próprio Estados Unidos.
"Os subsídios multibilionários para a produção de milho
parecem ser incentivos perversos, se eles forem analisados
sob uma perspectiva racional
de custo-benefício ambiental".
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