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Governo quer dobrar usinas poluentes
Ministério de Minas e Energia planeja construção de 82 termelétricas até 2017, 68 delas movidas a combustíveis fósseis
Plano colocado em consulta
pública na véspera de Natal
prevê aumento de 172% nas
emissões de gás carbônico
do parque térmico nacional
DA REPORTAGEM LOCAL
No ano em que o mundo terá
de entrar em acordo sobre a
adoção de metas para reduzir
as emissões de gases de efeito
estufa, o Brasil apresenta um
Plano Decenal de Energia que
dobra o parque termelétrico do
país e enfatiza as fontes de
energia sujas, que colaboram
para o aquecimento global.
O plano prevê a criação de 82
usinas termelétricas de 2008 a
2017, com potência total de
15.305 MW. Dessas, 68 serão
movidas a combustíveis fósseis.
Hoje, há 77 térmicas instaladas,
74 delas de fontes fósseis, que
juntas têm potência de 15.444,7
MW. Com o plano, as emissões
de gás carbônico das termelétricas subirão 172% -passando
de 14,43 milhões de toneladas
para 39,3 milhões de toneladas.
Se as emissões de todos os
outros setores da economia, como transportes e indústria,
permanecessem estáveis nesse
período, as emissões das termelétricas passarão de 4,3% do
total atual para 12% em 2017.
O plano prevê ainda a criação
de 71 hidrelétricas, 11 usinas a
menos em relação às térmicas.
Porém, o potencial hidrelétrico
a ser instalado será bem maior
que o do novo parque termelétrico, com 28.938,5 MW.
Na opinião de Luiz Pinguelli
Rosa, diretor da Coppe-UFRJ
(Coordenação dos Programas
de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro), o governo está cometendo um "erro
grande" ao priorizar as termelétricas. "Entramos na contramão da história e vamos aumentar a emissão de gases-estufa desnecessariamente."
Dois países?
O Ministério de Minas e
Energia colocou o plano que
prevê a expansão da energia suja em consulta pública na internet (www.mme.gov.br) no dia
24 de dezembro. Duas semanas
antes, o Brasil recebia em Poznan, Polônia, elogios internacionais por seu Plano Nacional
de Mudanças Climáticas. No
documento, o governo assume
metas internas de redução do
desmatamento e defende a ampliação das energias renováveis. No final deste ano, deve
ser fechado na conferência de
Copenhague, na Dinamarca,
um acordo entre os países sobre as novas metas de redução
das emissões a partir de 2012.
Para a senadora Marina Silva
(PT), ex-ministra do Meio Ambiente e colunista da Folha, o
Plano Decenal de Energia "é
uma contradição". "Se for para
o Brasil ir pelo caminho mais
fácil, não precisa do plano [de
Mudanças Climáticas]."
"Se vai reduzir emissão em
função da diminuição do desmatamento você não pode aumentar as emissões por outro
lado, senão você não fecha essa
conta", disse.
Ela ressaltou que a energia
eólica é pouco explorada no
Plano Decenal, por exemplo.
Hoje, os ventos representam
0,3% da geração total de energia no Brasil e, em 2017, passarão para 0,9%.
Dos 15.305 MW previstos para entrar em operação no horizonte do plano por meio das
usinas térmicas, 89,4% são
provenientes de combustíveis
fósseis. E as usinas a óleo combustível dominarão o cenário a
partir de 2010 até o final do período -serão 41 usinas novas.
A maior parte das térmicas,
um total de 55, deve ser instalada no Nordeste. A segunda região que mais receberá esse tipo de usinas será o Sudeste,
que deve ganhar 20 delas.
Culpa
Segundo Pinguelli Rosa, a
população também tem sua
parcela de culpa na ampliação
das térmicas, ao criticar a construção de hidrelétricas no país.
"Mas o governo tem maior responsabilidade. Não pode cometer um erro desses só porque a
sociedade se equivoca", disse.
O Ministério de Minas e
Energia, procurado na manhã
de ontem, não respondeu à Folha até o fechamento desta edição. De acordo com a página do
ministério na internet, a consulta pública sobre o Plano Decenal de Energia terminará em
30 de janeiro.
Sérgia Oliveira, do Ministério do Meio Ambiente, não respondeu às questões específicas
da reportagem sobre o Plano
Decenal de Energia. Ela afirmou que a pasta defende a promoção da energia renovável e
que o Ministério de Minas e
Energia "tem sido muito aberto" para discutir a questão.
(AFRA BALAZINA)
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