São Paulo, segunda-feira, 07 de fevereiro de 2011

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Brasileiro "guerreia" para salvar baleias

Na Antártida, voluntários lançam cabos de aço e gás de pimenta contra navios que tentam abater os animais

Japão é, hoje, principal caçador de baleias, apesar de ser signatário de acordo que proíbe sua pesca comercial

Ignácio Aronovich/Sea Shepherd
Daniel Fracasso e colega nadam rumo a iceberg

LUIZ GUSTAVO CRISTINO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A paisagem é linda. Mas os voluntários que vão à Antártida tentar evitar a morte de baleias vivem em tensão permanente de guerra com os navios baleeiros.
Os métodos da ONG Sea Shepherd são variados. A fotógrafa carioca Bárbara Veiga, 27, exemplifica: "Conseguimos, por meio de cordas com metal dentro que se enrolam na hélice, interceder em um dos navios, que agora está parado. Eles provavelmente terão de colocar alguns mergulhadores na água para cortar a corda, e devem atrasar a caça por dias.
Além dos cabos, os voluntários lançam projéteis com gás de pimenta no deque dos barcos baleeiros japoneses.
Se necessário, eles também ficam no caminho entre os navios caçadores e as baleias, ou tentam danificar seus radares, para que os animais não sejam localizados.
Todas essas atitudes são, claro, revidadas. A brasileira Veiga, que está desde 5 de dezembro a bordo do Steve Irwin, barco da Sea Shepherd (com mais quatro membros do Brasil), diz se sentir sob risco constante.
Mas, para ela, "não há nada mais especial do que documentar este crime".
Não é a primeira vez que Veiga participa de uma ONG: ela já foi do Greenpeace por quatro anos. Faz isso por causa dos seus ideais.

MEDO A BORDO
No Sea Shepherd, a sensação de insegurança descrita por Veiga é compartilhada por outro voluntários. "Uma vez, japoneses atiraram contra o nosso navio. Todos nós ficamos dentro, mas, quando o capitão Paul Watson saiu, ele levou um tiro no peito. Graças a Deus, ele estava com colete à prova de balas", diz o relações-públicas Daniel Fracasso, 31.
Ele esteve na primeira campanha da Sea Sheperd, de dezembro de 2002, com outros 44 tripulantes.
Há ainda situações de perigo independentes dos navios baleeiros, como tempestades fortes e a presença de grandes blocos de gelo, que dificultam a movimentação do navio, pois podem rachar o casco caso haja uma colisão.
"Além disso, à medida que o tempo passa, os alimentos frescos, como frutas, vão acabando e começam a fazer falta. Também sinto vontade de dar uma caminhada, o que não é muito possível aqui. Mas vale a pena", diz Veiga.
Assim como ela, Fracasso acredita que os riscos não reduzem a motivação. "Poder presenciar um ambiente intocado pelo homem é uma experiência incrível. Nem dá vontade de dormir, porque você corre o risco de perder alguma coisa", diz.
"Quero que minha filha [de 5 anos] possa um dia ver as baleias. Por isso, quero ser útil para ajudar a preservar o planeta", completa. Antes de partir para as expedições, os voluntários passam para um treinamento, nas palavras de Fracasso, "de guerrilha". Eles aprendem, por exemplo, a arremessar os cabos de aço e o gás de pimenta.
Também são preparados para todo tipo de emergência, especialmente para o risco de ter de abandonar repentinamente o barco.
Segundo Fracasso, a atuação dos voluntários reduziu o número de baleias caçadas em 20% na expedição em que participou.
Com o fim do verão, época de caça, a Sea Sheperd traz o seu barco de volta da Antártida e organiza campanhas em outros mares, como os de Galápagos (Equador), da África do Sul e do Canadá, lidando com outras espécies.


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