São Paulo, Domingo, 07 de Fevereiro de 1999
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FUTURO
Novos satélites, programados para entrar em órbita até 2003, deverão estudar o planeta com imagens em 3D
De olho na Terra

Divulgação
Imagem da Cloudsat, satélite que deverá obter dados e imagens tridimensionais sobre a formação e o papel de nuvens na temperatura global


MARCELO FERRONI
da Reportagem Local

Em busca de estudar os efeitos climáticos da Terra com maior precisão, universidades norte-americanas e a Nasa (agência espacial dos EUA) lançam, nos próximos quatro anos, três missões espaciais para estudar o planeta.
A primeira deverá estudar a Terra Äflorestas tropicais e sua relação com o aquecimento globalÄ; a segunda, a água Ärios, umidade do ar e efeitos da gravidade sobre oceanosÄ; e a terceira, o ar Ä a formação de nuvens e sua influência na temperatura do planeta.
Os projetos, realizados a partir de satélites na órbita terrestre, fazem parte do programa Ciência para a Exploração do Sistema Terrestre (ESSP, na sigla em inglês), que pesquisa os efeitos de mudança climática global.
O primeiro satélite, o VCL (Estudo da Cobertura Vegetal), tem lançamento previsto para maio de 2000 e deverá investigar a absorção de gás carbônico (CO2) por florestas tropicais.
Os dados obtidos deverão auxiliar no estudo da relação entre florestas tropicais e o aquecimento excessivo da Terra devido à acumulação de CO2 na atmosfera. No caso, se a floresta absorve mais CO2 do que elimina, ela pode contribuir para reduzir a intensificação do efeito estufa.
O satélite possui sensores a laser capazes de realizar um modelo tridimensional da cobertura florestal. O mapeamento será usado para a determinação mais precisa da biomassa (matéria de origem vegetal) de florestas tropicais.
A maior quantidade de biomassa está ligada à maior absorção de carbono e, consequentemente, a uma contribuição para a diminuição do efeito estufa.
O VCL, desenvolvido pela Nasa e pela Universidade de Maryland, deverá também obter dados topográficos precisos devido ao mapeamento em três dimensões.

Gravidade e as marés
Em julho de 2001 deverá se iniciar o segundo programa ESSP. O Grace (Recuperação da Gravidade e Experimento Climático) contará com dois satélites e terá como objetivo principal recolher dados para o desenvolvimento de um novo modelo da gravidade terrestre.
Em órbita, os satélites deverão permanecer a uma distância de 100 km a 400 km entre si, por cinco anos, e enviar dados sobre a gravidade a cada 12 ou 15 dias.
A missão Grace deverá também obter dados sobre o clima global a partir do estudo de correntes marinhas e a mudança de massa dos oceanos devido à ação gravitacional, além de medir a umidade do solo e acompanhar o estado de bacias hidrográficas.
O projeto é coordenado pela Universidade do Texas, pelo Laboratório de Propulsão a Jato (JPL), da Nasa, e por universidades alemãs.

Nuvens em 3D
A terceira missão está prevista para 2003. O satélite, desenvolvido pelo JPL, terá duas funções, uma primária e outra secundária. Ainda não foi definida a prioridade entre os dois campos de atuação do satélite devido à fase ainda inicial de planejamento do projeto.
Na primeira missão, o CloudSat, satélite envolvido no projeto, deverá recolher informações para entender o papel das nuvens na retenção parcial dos raios solares e no controle indireto da temperatura global.
O satélite será equipado com um radar que deverá obter dados tridimensionais das nuvens nas regiões tropicais do planeta.
Segundo os pesquisadores envolvidos no projeto, do JPL e da Universidade Estadual do Colorado, essa será a primeira missão a obter dados globais de formação e atuação das nuvens no clima.
O CloudSat deverá operar em conjunto com um satélite da Nasa (IceSat) com previsão de lançamento para 2001, que também deverá recolher informações de nuvens, além de detectar gelo na atmosfera.
O projeto opcional para o CloudSat é chamado Missão para as Cinzas Vulcânicas (Volcam).
Nele, o satélite deverá monitorar nuvens de gases vulcânicos a partir de uma órbita geoestacionária Äem que o satélite fica sobre o Equador, apontando sempre para o mesmo ponto da Terra.


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