São Paulo, terça-feira, 07 de maio de 2002

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BIOTECNOLOGIA

Rascunho com 96% do genoma do animal estará disponível ao público e deve ajudar a combater doenças

Consórcio decifra o DNA do camundongo

DA REDAÇÃO

Uma equipe internacional de pesquisadores anunciou ontem a conclusão de um rascunho da sequência genética do camundongo (Mus musculus), um feito que deve trazer conhecimentos importantes sobre a constituição do próprio DNA humano, que compartilha boa parte de seu conteúdo com o do animal.
O trabalho foi realizado por cientistas do Wellcome Trust Sanger Institute, do Reino Unido, do Whitehead Institute, nos Estados Unidos, e da Universidade Washington em Saint Louis, também nos EUA.
O consórcio público, cujos principais participantes lideraram o sequenciamento do genoma humano, obteve até agora 96% do código genético do animal, enquanto a empresa Celera Genomics, em maio do ano passado, publicou um rascunho que tinha 99% do DNA do camundongo. Os dados da Celera, no entanto, são mantidos numa base de dados cujo acesso é pago, enquanto o o consórcio disponibilizará seus dados gratuitamente.
O genoma do roedor contém cerca de 30 mil genes, valor próximo ao estimado para o ser humano, embora com um número 15% menor de pares de bases, as "letras" químicas do DNA: 2,7 bilhões, distribuídas por 20 pares de cromossomos.
De acordo com Eric Lander, diretor do Centro de Pesquisa Genômica do Whitehead Institute, humanos e camundongos descendem de um ancestral comum que viveu há 100 milhões de anos, na época dos dinossauros. Essa distância evolutiva permite que as duas espécies compartilhem os genes mais importantes, afirma.
"O genoma do camundongo é um capítulo muito importante do caderno de notas da evolução. Ser capaz de ler esse caderno e comparar a informação genômica das duas espécies nos dará informações importantes sobre nós mesmos", diz Lander. "Se sequências de DNA específicas foram preservadas pela evolução ao longo de milhões de anos, elas devem ser funcionalmente importantes."

Potencial terapêutico
Essa comparação evolutiva deverá ter aplicações práticas para o entendimento e tratamento de problemas do organismo humano, dizem os cientistas.
"Estamos trabalhando com um grupo internacional de especialistas para explorar o conteúdo da sequência e usá-la para melhorar nossa compreensão do genoma humano", afirma Robert Waterston, diretor de pesquisa genômica da Universidade Washington.
"Para a maioria das moléstias humanas, do câncer às doenças auto-imunes, dados importantes vieram do estudo de camundongos como modelo clínico. O rascunho da sequência genética do animal vai acelerar a identificação precisa da contribuição genética para esses males", ressaltam os pesquisadores.
A aplicação desse conhecimento deve ser facilitada pelo muito que já se conhece a respeito da conformação genética dos camundongos, utilizados para as mais variadas pesquisas por laboratórios do mundo todo.
Embora tenham apresentado seus dados um ano depois da Celera Genomics, os pesquisadores do consórcio ressaltaram a confiabilidade de seu sequenciamento, que determinou sete vezes a posição de cada "letra" do DNA dos camundongos.
"A qualidade da sequência-rascunho excede em muito as expectativas originais do consórcio para esse estágio e foi completada muito antes do que se esperava originalmente", afirmou um porta-voz dos institutos de pesquisa.


Com "The Independent" e agências internacionais


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