São Paulo, segunda-feira, 07 de maio de 2007

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Zonas ambientais têm 587 garimpos

Mapa da Geodiversidade do Brasil enxerga choque entre o uso do subsolo e a tentativa de preservar o que há sobre ele

Produto feito pelo Serviço Geológico do Brasil, além de identificar os conflitos, quer ser uma ferramenta para as obras de infra-estrutura

Lalo de Almeida - 7.maio.2004/Folha Imagem
CONFLITO PELO SUBSOLO
Neide Cinta Larga, 26, dá banho em seu filho recém-nascido no rio Rooselvelt, Rondônia , onde os índios mataram 29 pessoas no garimpo conhecido como Grota do Sossego, em 2004


EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL

Sob pena de intensificar os conflitos pelo uso da terra, em algum momento, o governo terá que decidir por qual atividade ele prefere. O Brasil tem hoje 587 garimpos em áreas de proteção ambiental, o que, segundo lei, não deveria ocorrer.
Essa sobreposição entre exploração do subsolo e uma tentativa de preservar o que está sobre ele surge do Mapa da Geodiversidade do Brasil, produto feito pelo SGB (Serviço Geológico do Brasil).
O cruzamento dos números foi feito à pedido da Folha pelo geólogo Cássio Roberto da Silva, do departamento de gestão territorial do SGB. Ele é o coordenador do mapa.
O documento identificou a existência de 207 garimpos em reservas indígenas, 56 em parques nacionais, 292 nas chamadas áreas especiais de proteção permanente e 32 nos vários tipos de reserva.
Apenas as áreas com metais preciosos foram consideradas na tabulação dos dados. Algumas dessas ocupações ocorreram antes de a região ter sido transformada em área de proteção ambiental.
No total, existem 1.906 ocorrências minerais nas áreas de preservação ambiental. Menos de 20% delas ainda estão intocadas, informa o SGB.
"Essa é uma das funções do projeto, mostrar onde podem ocorrer os conflitos e abrir uma discussão sobre esse problema", afirmou o pesquisador.
O produto inédito criado pelo SGB, na escala de 1:250.000.000, pretende ser uma ferramenta essencial para qualquer obra de infra-estrutura que venha a ser feita no Brasil. Ele não apenas identifica em um mesmo mapa onde estão as riquezas do subsolo brasileiro, como onde se localizam estradas, ferrovias, portos, linhas de transmissão elétrica e até os gasodutos.
O mapa exibe ainda as fragilidades e as potencialidades dos terrenos diante dos empreendimentos humanos. Isso, segundo o SGB, ajudar a credenciar o documento como um importante instrumento de ordenamento territorial.
O órgão, por exemplo, já usa parte de seus estudos para desenvolver meios de monitorar os deslizamentos de terra que ocorrem nas encostas da cidade fluminense de Angra dos Reis, no litoral sul do Estado.

Conflitos na construção
Além de todas as áreas de preservação, a fertilidade do solo e a qualidade da água também foram mapeadas.
"Esses dados são importantes para alertar os empreendedores, públicos ou privados, a não projetarem obras dentro das reservas. E isso se aplica a construção civil, mineração, agricultura, pecuária, turismo e outros empreendimentos", explica o geólogo Iran Machado, também do SGB.
Para o pesquisador, no caso das grandes obras de engenharia, os conflitos podem surgir, por exemplo, no momento da construção. "As fontes de materiais naturais que serão usadas para a obtenção do material podem estar localizadas dentro de reservas. Caberá aos órgãos ambientais administrar esses conflitos", disse Machado.
Segundo o geólogo, no passado, a construção de algumas hidrelétricas já geraram conflitos desse tipo. "Isso ocorreu, nas últimas décadas, tanto na Amazônia quanto também no Estado de São Paulo, na Usina Hidrelétrica do Tijuco Alto, no Vale do Ribeira.
Apesar da tensão que existe entre a mineração e a preservação ambiental, José Carlos Garcia Ferreira, superintendente regional de São Paulo do SGB, lembra que a idéia não é ser contra esse tipo de atividade econômica.
"A mineração é muito importante para o Brasil. A questão não é ser contra, mas sim contribuir para que ela possa ser feita de forma organizada", explica Ferreira.
O SBG, que passou a usar novamente a sigla CPRM em seu dia-a-dia, está completando 100 anos de atividades agora em 2007. Até dezembro deverão ser lançados também, segundo Ferreira, alguns mapas de geodiversidade regionais. "E, nesse caso, com escalas bem mais detalhadas do que a usada para o mapa do Brasil".


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