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ASTRONOMIA
Norte-americano aproveita "trânsito" do planeta vizinho diante do Sol, amanhã, para buscar traços de água
Passagem solar de Vênus pode indicar vapor
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Amanhã, quando Vênus começar a passar sobre o disco solar,
Timothy Brown usará essa rara
oportunidade para procurar vapor d'água na atmosfera daquele
planeta. Num evento com sabor
mais histórico que científico, o
cientista americano espera coletar
novos dados sobre o vizinho planetário mais próximo e, paradoxalmente, inspirar estudos de astros muito mais longínquos.
Não que ele já não tenha provocado coisa parecida no passado; o
pesquisador, que trabalha no
Centro Nacional para Pesquisa
Atmosférica dos EUA, fez parte
da equipe que, usando o Telescópio Espacial Hubble, pela primeira vez detectou traços de uma atmosfera num planeta localizado
nas imediações de outra estrela
que não o Sol. Usando método similar, ele agora tentará desvendar
os mistérios do ar venusiano.
"Eu espero fazer um acréscimo
substancial ao conhecimento de
uma região atmosférica não muito bem observada no passado",
afirma o pesquisador,. "Mas o experimento também será fonte de
grande inspiração e motivação
para a investigação de atmosferas
de planetas extra-solares."
Eclipse miniatura
O segredo é usar a luz do Sol como "espiã". Amanhã de manhã
(horário de Brasília), Vênus e Terra -respectivamente segundo e
terceiro planetas do sistema- estarão alinhados, o que fará com
que o minúsculo disco escurecido
venusiano se projete sobre o do
Sol -versão em miniatura de um
eclipse solar.
O evento é raro e acontece apenas duas vezes em cada século,
aproximadamente. A última
ocorreu em 1882. A próxima, em
2012, não será visível do Brasil. E,
depois dela, novas oportunidades
só voltarão a surgir no século 22.
No momento do alinhamento,
alguns raios vindos do Sol chegarão à Terra mesmo depois de ter
atravessado a atmosfera de Vênus, que estará no meio do caminho. Essa luz trará uma "assinatura" das substâncias que encontrar
no caminho. Pode até revelar a direção dos ventos venusianos, se a
observação for bem-sucedida.
"Esse é o primeiro trânsito de
Vênus na frente do Sol desde que
a espectroscopia astronômica
quantitativa foi inventada, então é
nossa primeira chance de usar a
tecnologia para observar de perto
o trânsito de um planeta com atmosfera", explica o cientista.
O mesmo processo pode ser
aplicado também a trânsitos de
planetas extra-solares na frente de
suas respectivas estrelas -mas,
nesse caso, os desafios para a coleta de dados, dada a enorme distância, são hercúleos.
"Observações de planetas extra-solares tão precisas e interessantes quanto as de Vênus não vão
acontecer em meu tempo de vida
ou no de meus filhos", diz Brown.
"O que podemos ver em Vênus
hoje antecipa o que será visto em
planetas longínquos muito depois
de eu ter morrido. Pode-se dizer
que estou tapeando o tempo."
Em seu estudo original do planeta ao redor da estrela
HD209248, localizada a 150 anos-luz da Terra, Brown detectou traços de sódio. Na continuação desse estudo, ele está à caça da "assinatura" do dióxido de carbono.
Para tanto, usará novamente o
Telescópio Espacial Hubble.
A observação do trânsito de Vênus, entretanto, exigirá muito
menos -um modesto observatório instalado nas ilhas Canárias.
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