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Plutão pode ganhar 30 parceiros na "série B"
Buscas mais refinadas por planetas-anões nas regiões mais distantes do Sistema Solar poderá revelar centenas deles
Astrônomo que ajudou a
"rebaixar" o antigo nono
planeta afirma que até os
astrólogos já se conformam
com nova posição do objeto
RAFAEL GARCIA
ENVIADO ESPECIAL AO RIO DE JANEIRO
O principal responsável por
Plutão ter sido rebaixado três
anos atrás diz que o ex-planeta
já tem muitos companheiros
para se juntar a ele, e que ninguém precisa se preocupar com
a solidão do pobre astro. Para o
astrônomo americano Michael
Brown, apesar de oficialmente
só existirem quatro outros planetas-anões (atual classificação de Plutão), há centenas a
serem descobertos.
O próprio pesquisador, que
trabalha no Instituto de Tecnologia da Califórnia, diz que há
provavelmente 30 objetos já
qualificados. Brown descobriu
cerca de 20 deles. Os três já ratificados pela IAU (União Astronômica Internacional) são
Eris, Makemake e Haumea.
O carrasco
Brown é apontado como o
carrasco de Plutão por ter achado Eris em 2005. Como o novo
objeto era o maior dos dois, astrônomos se viram na obrigação de promovê-lo a planeta, ou
então de rebaixar Plutão.
"A segunda coisa era realmente a mais sensata", disse
Brown à Folha ontem, antes de
apresentar uma palestra na Assembleia Geral da IAU, no Rio.
Com a proliferação de novos
planetas-anões, que mal começou, ele rejeita o rótulo de culpado pelo rebaixamento. "Se
há algum culpado, é Plutão, por
ser muito pequeno."
Com exceção de Ceres, que
fica perto do cinturão de asteroides, todos os planetas-anões
oficiais estão em uma faixa orbital chamada cinturão de Kuiper, a mesma região de Plutão.
Segundo Brown, só não conhecemos mais planetas-anões
porque o céu não foi suficientemente investigado.
"Nós já cobrimos cerca de
50% do céu, principalmente no
hemisfério Norte" conta o pesquisador, que mora numa casa
em Los Angeles, a três horas de
distância do Observatório Palomar, onde realiza seus trabalhos. "Grandes telescópios que
devem ser construídos na Austrália e no Chile sul vão cobrir
mais 30% disso", conta.
Depois de passar mais de
dois anos recebendo mensagens de pessoas descontentes
com a destituição do astro,
Brown diz que agora o fenômeno arrefeceu. Os devotos da astrologia estavam entre os que
mais reclamavam. "Eu dei um
bônus para eles", diz Brown.
"Plutão não é mais planeta,
mas os astrólogos ganharam
agora vários planetas-anões
com os quais mexer."
O maior número de planetas-anões que está por vir, porém, não é do cinturão de Kuiper. Segundo Michael Brown,
deve existir uma série de planetas com órbitas alongadíssimas, cerca de vinte vezes mais
distantes que Plutão.
Um objeto com essas características, batizado de Sedna,
foi achado em 2003 por Brown.
"Estamos procurando outro
assim. É o que mais queremos
achar, mas até agora nada."
O problema, diz, é que Sedna,
que leva 12 mil anos para circular o Sol, só pode ser visto porque está num ponto mais aproximado de sua órbita. Outros
planetas-anões de órbita superesticada só poderão ser encontrados por grandes varreduras celestes futuras. "Se esses projetos vingarem, poderemos achar mais dezenas ou até
centenas de Sednas."
Sem possibilidade de descobrir novos planetas agora, o astrônomo resolveu se dedicar
mais a estudar os objetos que já
havia apontado. Ontem, Brown
apresentou uma palestra sobre
o exótico Haumea. Já se sabe
que ele é um corpo rochoso
ovalado coberto de uma camada relativamente fina de gelo
puríssimo. Ele roda extremamente rápido, uma volta a cada
4 horas, e possui duas luas.
Brown defende a teoria de
que isso tudo é sinal de que
houve uma colisão fortíssima
que originou seus satélites.
Ele explica que Haumea é
originalmente o nome da deusa
havaiana da fertilidade. No mito, os filhos surgem de pedaços
do corpo arrancados da mãe.
Estudar crenças de povos
tradicionais, aliás, é outra coisa
à qual Brown tem se dedicado.
Além de ser divertido, diz, é
útil, pois a IAU em geral só
aceita nomes derivados de figuras mitológicas.
"Eu me divirto", diz, explicando as origens dos nomes.
Makemake, flagrado num dia
de Páscoa, ganhou o nome de
uma divindade da ilha de Páscoa. Eris, por ser frio e distante,
foi batizado com o nome da
deusa grega da discórdia, responsável pela guerra de Troia.
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