São Paulo, domingo, 07 de setembro de 2008

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+ Marcelo Leite

Gigantes


As maiores árvores do mundo crescem na Califórnia, perto da divisa com o Oregon

Galgar uma torre de pesquisa na floresta amazônica e assomar ao topo do dossel, 50 metros acima do solo, é experiência recomendável para qualquer pessoa. Não há ali espaço para ufanismo, porém, nem num 7 de Setembro: não são elas as árvores mais altas do mundo. Tinha uma vaga noção disso, depois de visitar o Parque Nacional das Sequóias, na Califórnia (Estados Unidos), e a General Sherman, com seus 84 m de altura, maior árvore do mundo em volume de madeira (quase 1.500 m3).
Mas não sabia que outras sequóias vão muito além dela. Para descobrir, foi preciso ler o livro "As Árvores Gigantes", de Richard Preston (Editora Rocco, 336 págs., R$ 43,50). Ali se aprende que a General Sherman e suas irmãs confinadas à Serra Nevada pertencem à espécie Sequoiadendron giganteum. Verdadeiras tampinhas, perto das primas costeiras, Sequoia sempervirens. As maiores árvores do mundo em altura crescem no norte da Califórnia, perto da divisa com o Oregon. Chegam a alcançar 115 m, duas a três vezes mais que as árvores amazônicas, ou a altura de um prédio de quase 40 andares (pense no Edifício Itália, no centro de São Paulo).
Estima-se que algumas estejam vivas há mais de 3.000 anos. Seriam remanescentes de grandes extensões de florestas úmidas que cobriam toda a faixa temperada do hemisfério Norte, centenas de milhões de anos atrás -antes mesmo do surgimento dos mamíferos sobre a Terra. Por volta de 1850, a madeira das sequóias passou a ser derrubada nos 8.000 km2 que ocupavam. Em 1918 começou um movimento por sua preservação, que resultou na criação de vários parques nacionais e estaduais.
Restam hoje meros 4% dos bosques originais. Por coincidência, mais ou menos a mesma parcela de devastação sofrida pela muito mais extensa mata atlântica brasileira (cerca de 1 milhão de km2 originais).
O mais incrível, narra Preston, é que até a década de 1990 o dossel das sequóias costeiras permanecia quase inteiramente inexplorado. Só então começou a ser visitado sistematicamente por biólogos. E eles descobriram coisas intrigantes.
A copa das árvores gigantes abriga verdadeiros terraços e jardins. Tempestades de vento e raios quebram e queimam o topo das sequóias. Mas elas lançam novos ramos, às vezes vários, em direção ao céu. Nos espaços entre eles acumulam-se detritos, até formar uma espécie de solo. É o suficiente para sustentar um bocado de vida. Além de dezenas de variedades de liquens e epífitas, crescem ali arbustos, como mirtilos, e até pequenas árvores. Há salamandras, seres dependentes de água para as trocas gasosas que efetuam pela pele, que passam a vida toda nas copas. Preston não escreveu uma obra de divulgação científica, contudo.
Apesar da precisão nos detalhes, seu livro é de aventura. A base da narrativa se apóia sobre um trio excêntrico de carne e osso, os biólogos Steve Sillett e Marie Antoine e o explorador (na falta de outro nome) Michael Taylor, o fanático caçador das maiores árvores do mundo que sofre de vertigem. Sillett e Antoine se tornam escaladores de árvores. Primeiro, com métodos convencionais de montanhismo. Depois, com a incorporação de técnicas de arboristas, como o uso de cordas auxiliares que permitem o deslocamento ao estilo do Homem-Aranha, mas em velocidade consideravelmente menor.
O próprio Preston adere à atividade. Para saber no que deu seu esforço de reportagem, leia o livro.


MARCELO LEITE é autor de "Promessas do Genoma" (Editora da Unesp, 2007) e de "Brasil, Paisagens Naturais - Espaço, Sociedade e Biodiversidade nos Grandes Biomas Brasileiros" (Editora Ática, 2007). Blog: Ciência em Dia ( cienciaemdia.folha.blog.uol.com.br ). E-mail: cienciaemdia.folha@uol.com.br


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