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Transplante mais "suave" ataca diabetes
Células-tronco de parentes de diabético diminuem necessidade de insulina sem uso de drogas contra o sistema imune
Teste com três pacientes,
feito pela USP de Ribeirão
Preto, levou a recuo parcial
da doença; ideia é chegar a
protocolo mais eficiente
REINALDO JOSÉ LOPES
DA REPORTAGEM LOCAL
Pesquisadores da USP de Ribeirão Preto estão testando
uma nova maneira de usar células-tronco adultas contra o
diabetes tipo 1, forma da doença que é fatal caso o paciente
não receba doses regulares de
insulina. Três diabéticos receberam transplantes de células
de parentes seus, o que levou à
menor necessidade de insulina
e, num dos casos, ao recuo total
da doença durante seis meses.
Os resultados podem não parecer milagrosos, mas representam um protocolo potencialmente mais promissor e
menos agressivo contra o diabetes tipo 1 do que o utilizado
pela equipe da USP até agora.
O que ocorre é que, em testes
anteriores, os pacientes eram
preparados com uma forte dosagem de medicamentos imunossupressores (ou seja, que
"desligam" o sistema de defesa
do organismo) antes de receber
células-tronco obtidas de sua
própria medula óssea.
Além do risco associado à
imunossupressão -infecções
severas podem matar o paciente sem contribuição alguma do
diabetes-, há outros efeitos colaterais graves do tratamento
experimental. "Os pacientes do
sexo masculino ficam com oligoespermia [baixa quantidade
de espermatozoides no sêmen]", diz o coordenador do
grupo, o médico Júlio César
Voltarelli. "Tanto é assim que
os que participaram do protocolo tiveram seu esperma congelado [para o caso de desejarem ter filhos mais tarde]."
A nova versão da terapia experimental toma partido das
características especiais de um
subgrupo das células da medula, as células-tronco mesenquimais (CTMs, para encurtar).
"Primeiro, elas são pouco
imunogênicas", diz Voltarelli.
Ou seja, a chance de que elas levem à rejeição nos pacientes
transplantados é baixa. Para
garantir esse risco menor, as
células para transplante são obtidas de parentes dos doentes.
As CTMs apresentam ainda
outras vantagens. Sabe-se, por
exemplo, que elas podem agir
sobre o sistema de defesa do organismo e deixá-lo menos ativo. Isso é importante porque o
diabetes tipo 1 é uma doença
autoimune, na qual as defesas
do corpo se voltam contra o
próprio organismo que deveriam proteger. No caso dos diabéticos, o grosso do ataque é
sentido pelas células produtoras de insulina do pâncreas dos
doentes, impedindo que eles
controlem seus níveis de açúcar no sangue.
Voltarelli e seus colegas, após
a obtenção das CTMs dos doadores, cultivaram as células em
laboratório entre quatro e seis
semanas antes de transferi-las
para os diabéticos. "Dar aula
sobre isso é fácil, difícil é fazer
direito", brinca o médico.
Nos três doentes, o organismo respondeu necessitando de
menos insulina. Em um dos
doentes, não foi preciso administrar a substância durante
seis meses, mas depois desse
período os médicos tiveram de
receitar insulina novamente.
"É possível que uma quantidade maior de células-tronco
mesenquimais, ou então a realização de mais transplantes,
consigam um efeito mais potente e duradouro", diz o pesquisador. Os resultados foram
apresentados durante o 55º
Congresso Brasileiro de Genética, em Águas de Lindoia (SP).
Definindo "cura"
Voltarelli também falou dos
resultados mais recentes do
primeiro protocolo testado por
sua equipe contra o diabetes tipo 1. De 21 pacientes que passaram pela imunossupressão e
pelo autotransplante, dez continuam sem precisar de insulina, um dos quais há cinco anos.
"Não é cura, é remissão prolongada", ressalta o médico, cujo trabalho gerou muita expectativa entre portadores da
doença. "Os tratados tiveram
recaídas apenas parciais, provavelmente porque eles ainda
tinham reservas de células produtoras de insulina", afirma.
Em vários casos, a necessidade de receber o tratamento voltou depois de uma infecção por
vírus. Isso pode indicar que a
invasão viral fez o sistema de
defesa hiperativo dos pacientes
"acordar". Uma das opções para enfrentar isso pode ser o uso
de substâncias que estimulam
o pâncreas "cansado" a produzir mais insulina, diz ele.
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