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Para Hershko, câncer é próximo alvo
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Um Avram Hershko cansado,
porém ligeiramente extasiado,
atendeu o telefone ontem, em sua
casa na cidade de Haifa, no norte
de Israel. Ele passou as últimas
horas entre entrevistas e congratulações pelo trabalho, após receber a notícia quando estava na
piscina com suas quatro netas.
O pesquisador israelense (nascido na Hungria) reconhece a importância do próprio trabalho e
acredita que ele ainda trará impactos positivos para a medicina,
como caminhos novos para o tratamento do câncer. Leia a entrevista concedida à Folha.
(CAm)
Folha - O sr. esperava receber o
Prêmio Nobel?
Avram Hershko - Eu realmente
não esperava. Mas eu sei quão importante é o trabalho desenvolvido por nós na área da medicina, e
já recebi outros prêmios por ele. E
estou feliz por ter trazido um Nobel para meu país.
Folha - Vocês desvendaram um
dos processos cíclicos básicos que
acontecem dentro de uma célula, e
isso há mais de 20 anos. Você acha
que a Real Academia de Ciências
demorou para reconhecer a importância do trabalho?
Hershko - Na verdade, o primeiro trabalho foi publicado há 25
anos. Mas não, não acredito que a
academia tenha se atrasado. Geralmente, mais de dez anos são
necessários para ela medir o impacto de uma descoberta. Acho
que é normal.
Folha - A premiação pode ser uma
conseqüência da moda gerada em
torno das proteínas nos últimos
anos, especialmente depois do lançamento de projetos de proteoma?
Hershko - Acho que uma coisa
não exclui outra. O proteoma está
ligado à interação entre as proteínas, enquanto nosso trabalho
desvendou uma parte do processo bioquímico intracelular. As
duas áreas de completam e serão
importantes para o total conhecimento de diversos processos que
ocorrem no corpo humano, como
as inflamações.
Folha - Vinte e cinco anos depois
da primeira publicação, como a
descoberta influencia sua vida?
Hershko - Ele é parte do trabalho
que desenvolvo hoje, que é o papel de proteínas reguladas pela
ubiquitina no ciclo de divisão celular. Acho que isso pode ter um
grande impacto na medicina,
principalmente se ajudar a esclarecer processos anormais que
causam o aparecimento de tumores, por exemplo.
Folha - O que o sr. vai fazer com o
dinheiro?
Hershko - Vou dar para a minha
mulher (risos)! É ela quem administra todo o dinheiro em casa,
então decidirá o que fazer com o
prêmio.
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