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Mercado de CO2 reduz 70% do desmate
Estimativa de ONG sugere que devastação na Amazônia pode ser freada a um custo baixo com comércio de emissões
Estudo do Ipam calcula em US$ 10 por tonelada de carbono o custo da redução;
mercado para carbono de
floresta, porém, é incipiente
Fernando Donasci - 06.jun.2005/Folha Imagem
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Queimada em floresta derrubada para plantio de soja em MT |
DA REDAÇÃO
Custa muito pouco reduzir
70% do desmatamento na
Amazônia. Um novo cálculo
feito por uma ONG, que será
apresentado hoje em Brasília,
estima que a maior parte da devastação -e das emissões de
carbono dela decorrentes- pode ser contida a menos de US$
10 por tonelada de carbono.
Esse é o valor que deveria ser
pago a produtores rurais em várias regiões do Norte do país
para que deixar suas florestas
em pé fosse mais lucrativo do
que derrubá-las para dar lugar
a pasto e lavoura.
A conta, explique-se, leva em
consideração um fato econômico ainda inexistente: um mercado de carbono no qual a redução do desmatamento pudesse
valer créditos para países como
o Brasil, que detêm florestas
tropicais e que têm na destruição destas uma fonte importante de emissões dos gases que
causam o aquecimento global
(dois terços das emissões brasileiras vêm dessa fonte).
Tal mercado, no entanto, não
é um delírio de ambientalistas:
uma coalizão de países tropicais deve colocar sua criação na
mesa no mês que vem, numa
reunião na Indonésia que começará a definir os rumos da
proteção ao clima depois de
2012, quando expira o Protocolo de Kyoto. E o Banco Mundial
lançou neste ano um fundo experimental para comercializar
o carbono de florestas -baseado justamente na lógica de que,
em algumas regiões, não desmatar faz muito mais sentido
do ponto de vista econômico.
O novo cálculo foi feito por
pesquisadores do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da
Amazônia) e do Woods Hole
Research Center, nos EUA. Ele
integra o relatório "Três Estratégias Fundamentais para a Redução do Desmatamento", que
será lançado hoje na Câmara
dos Deputados.
"Nós calculamos o chamado
custo de oportunidade, ou o
quanto se deveria pagar para
um proprietário em terra privada com aptidão agrícola para
não desmatar, mais um fomento a povos da floresta para a
proteção de terras indígenas
com dignidade e boa qualidade
de vida [para os índios]", afirmou Paulo Moutinho, diretor
de Pesquisa do Ipam.
O estudo econômico, do qual
o Ipam prepara uma versão
aprofundada, estabelece um teto para a chamada "redução
factível" do desmatamento, ou
seja, aquela que pode ser obtida
sem prejuízo de atividades econômicas rentáveis.
"A curva de custo não é linear", diz Moutinho. "Para evitar emissões por fogo florestal e
queimadas o custo é muito baixo. À medida que você adiciona
nessa curva o custo de não formar pasto em áreas marginais,
o custo é pequeno. Até que você
entra numa parte onde o custo
sobe exponencialmente, que é
a região mais apta à soja, onde
manter floresta por opção [econômica] seria burrice."
Moutinho diz que o valor a
ser pago é baixo -cerca de metade do preço da tonelada de
carbono no mercado hoje-, o
que tornaria o carbono de florestas uma opção atraente para
países que tenham metas de redução a cumprir por Kyoto.
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