São Paulo, quinta-feira, 08 de fevereiro de 2001

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PANORÂMICA

COSMOLOGIA

Astrônoma brasileira ajuda a fixar idade do cosmo em 13,5 bilhões de anos
A idade do Universo é como a de certos artistas: todo mundo sabe que é muito alta, mas há tantas plásticas no meio que ninguém consegue estimar com precisão. Agora, os cientistas conseguiram um bom meio para calibrar o palpite -ao menos no caso do Universo.
O segredo foi observar a cicatrização dessas "operações cósmicas" -os resquícios deixados pelas primeiras estrelas formadas após o Big Bang. Quando esses astros pioneiros explodiram, produziram vários átomos pesados -como tório e urânio-, que foram incorporados às estrelas que viriam depois.
Usando um grande telescópio no Chile, um grupo internacional de astrônomos liderado por Roger Cayrel, do Observatório de Paris, identificou uma das mais velhas estrelas da Via Láctea. Análises de sua luz mostraram presença de tório e urânio.
"É a primeira vez que detectamos urânio fora do Sistema Solar", disse à Folha Beatriz Barbuy, uma pesquisadora do Instituto Astronômico e Geofísico da USP que participou do estudo.
Os elementos radioativos das estrelas servem como "cosmocronômetros" para estimar a idade do astro. O seu decaimento (a conversão do átomo em uma versão mais leve e estável) ocorre gradualmente, em velocidade conhecida. Comparando o quanto já decaiu com o tamanho da amostra original, é possível estimar a idade do objeto.
Várias análises já foram feitas com tório, mas, como seu tempo de decaimento é muito grande, as medições ficam pouco precisas. Já o urânio oferece condições melhores -com ele foi possível medir com mais precisão a idade do astro: 12,5 bilhões de anos, pondo ou tirando 3 bilhões de anos. Trata-se da melhor estimativa direta já obtida da idade da Via Láctea.
"O Big Bang deve ter ocorrido mais ou menos 1 bilhão de anos antes da formação da galáxia, tendo, portanto, cerca de 13,5 bilhões de anos", diz Barbuy.
Embora a margem de erro continue grande, basta lembrar que as diversas estimativas anteriores, feitas tanto pelo decaimento do tório quanto por análises da expansão do Universo, levam a números que variam de 10 bilhões a 18 bilhões de anos.
O estudo está publicado na revista "Nature". (SALVADOR NOGUEIRA, FREE-LANCE PARA A FOLHA)


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