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Dinamarquesa "mata" e "ressuscita" luz
Experimento da Universidade Harvard usou matéria ultrafria para fazer um laser desaparecer e reaparecer no espaço
Trabalho bancado pela Nasa
e pela Força Aérea dos EUA
busca tecnologia para criar
supercomputadores e novos
sistemas de código secreto
RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Um trio de físicos anuncia
hoje ter conseguido fazer um
feixe de luz sumir e reaparecer
em outro lugar no espaço.
O experimento, bolado no laboratório da cientista dinamarquesa Lene Hau, na Universidade Harvard, é o mais novo
truque da física quântica feito
com auxílio dos chamados condensados de Bose-Einstein, ou
BECs (na sigla em inglês).
Esses objetos são aglomerados de matéria resfriados a
temperaturas tão baixas que se
comportam como um novo e
singular estado da matéria. Todos os seus átomos agem coordenadamente, como se fossem
um único "superátomo".
Hau já havia conseguido, há
dois anos, fazer um pulso de laser desacelerar e parar dentro
de um condensado de Bose-Einstein de sódio. Agora ela
anuncia que pode "ressuscitar"
a mesma luz que havia aniquilado -um feixe com as mesmas
características daquele que havia sido congelado- em um outro bloco de condensado (veja
infográfico acima).
"Fizemos isso criando uma
"cópia" do pulso de luz feita de
matéria, que pôde então viajar
no espaço livre entre os dois
condensados", disse Hau à Folha. "Quando ela entra no segundo condensado, podemos
reavivar o pulso de luz."
Em estudo na revista "Nature" (www.nature.com), Hau
descreve como um átomo contendo a informação luminosa
viajou entre os dois condensados por 16 centésimos de milímetro. Pode parecer pouco,
mas na verdade é uma longa
distância do ponto de vista da
física quântica. "E a distância,
neste caso, não importa", explica a pesquisadora. "O importante é que não havia comunicação entre os dois BECs."
A maior contribuição do truque de Hau para a ciência é ajudar os físicos a compreenderem melhor a natureza quântica. Mas engana-se quem pensa
que o experimento não terá
aplicações práticas.
Códigos e computadores
"Nosso trabalho é financiado
pela Força Aérea dos EUA, pela
Nasa e pela Fundação Nacional
de Ciência, por causa de seu potencial de aplicação a longo
prazo", diz a pesquisadora. No
horizonte do laboratório de
Hau estão a criptografia (criação de informação para transmissão em códigos secretos) e a
computação quântica, o "Santo
Graal" da informática.
Computadores quânticos,
por enquanto, existem apenas
em teoria. Mas, se os cientistas
forem capazes de fabricá-los (e
uma legião de físicos acredita
ser possível), serão máquinas
com o poder de processamento
maior que o de qualquer supercomputador atual. Isso seria
possível porque bits de informação quântica, diferentemente dos bits que compõem a
informação nos computadores
comuns, processariam mais de
um dado ao mesmo tempo.
O problema é que ninguém
inventou ainda uma maneira
prática de manter e manipular
esses bits. Hau e outros pesquisadores acreditam que usar luz
para isso, em vez de eletricidade, pode ser o caminho correto.
O que ela tenta agora é encontrar brechas para imaginar como isso poderia ser feito.
"Nós convertemos um pulso
de luz em uma "cópia" de matéria, e matéria é muito mais fácil
de manipular do que luz", diz.
"Com esses experimentos,
nós estamos chegando ao ponto em que poderemos formar
uma unidade de processamento, em vez de apenas enviar informação e armazená-la. Poderemos começar a manipulá-la e
processá-la."
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