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São Paulo, sábado, 08 de março de 2003

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TECNOLOGIA

Método para produzir combustível com óleos vegetais e etanol é mais rápido e eficiente; uso começaria em 2005

Álcool de cana permite diesel renovável

REINALDO JOSÉ LOPES
FREE-LANCE PARA A FOLHA

O primeiro biodiesel totalmente renovável do mundo foi criado por pesquisadores da USP, que conseguiram incorporar à produção do combustível o álcool de cana. De quebra, a equipe conseguiu reduzir o tempo necessário para produzir o biodiesel de seis horas para 30 minutos, um avanço que pode ser crucial para que ele se torne viável economicamente.
Biodiesel é o nome dado ao óleo combustível produzido a partir de óleos vegetais, e não derivado de petróleo.
O combustível ainda é 10% mais caro que seu similar produzido usando metanol, mas as vantagens ambientais e mesmo econômicas compensam de longe a diferença, diz o coordenador da pesquisa, Miguel Dabdoub, 40, do Departamento de Química da USP de Ribeirão Preto.
Uma delas é só usar fontes vegetais e, portanto, renováveis. Ao contrário do metanol, normalmente obtido do petróleo, o álcool de cana (ou etanol) pode ser reposto a cada safra, assim como os óleos vegetais que são o componente principal da reação.
Dessa forma, o dióxido de carbono (CO2) gerado pela queima do biodiesel pode ser reabsorvido pelas plantas que são matéria-prima para os óleos vegetais, evitando assim os efeitos do gás sobre o clima do planeta (ele é considerado o principal responsável pelo aquecimento global).
Vegetais disponíveis para o processo é o que não falta, diz Dabdoub: "Podemos usar óleo de soja, girassol, milho, algodão, canola ou de qualquer oleaginosa", enumera o pesquisador.
Testes têm mostrado que óleos importantes para a economia de algumas regiões do país, como o de babaçu (uma palmeira do Norte e Nordeste), dendê (tipicamente nordestino) ou pequi (árvore comum no Brasil Central) também funcionam, sem necessidade de adaptar o motor.
Tanto o metanol quanto o etanol, que entram numa proporção de 20% a 30% na reação que produz o biodiesel, são formas de álcool. Segundo Dabdoub, ninguém havia conseguido usar simples álcool de cana na reação: "Uma das dificuldades que existem hoje é que a reação não se processa com eficiência".
"A taxa de conversão [da mistura óleo e etanol em biodiesel" é muito baixa", diz o pesquisador da USP. "Mas o item mais importante é que o produto final forma soluções entre o biodiesel e a glicerina, que é o outro resultante da reação, e fica muito difícil separá-los", afirma.
O pulo-do-gato descoberto por Dabdoub e seus colaboradores foi usar catalisadores (substâncias que não são alteradas nas reações químicas, mas as aceleram e melhoram) capazes de dar entre 98% e 100% de eficiência à reação.
Na verdade, o novo método usa um catalisador e um co-catalisador. Dabdoub prefere não revelar quais são para proteger os direitos intelectuais sobre o processo. "Mas o co-catalisador é à base de argila e extremamente barato", afirma o pesquisador.
Na reação, o etanol e o óleo vegetal reagem formando o biodiesel e a glicerina. Com os novos catalisadores, os dois produtos não saem mais misturados, e é possível aproveitar ambos de forma muito mais prática.

Poluição reduzida
O laboratório de Dabdoub já está equipado para produzir o biodiesel em escala piloto (mil litros por dia), mas ele quer mais. Em parceria com outras universidades brasileiras e com o MCT (Ministério da Ciência e Tecnologia), já está em andamento o projeto de misturar 5% de biodiesel ao diesel usado em veículos no país.
"Mesmo essa proporção pequena reduziria em 17% a emissão de enxofre [causador da chuva ácida] e em 13,5% a de material particulado em forma de fuligem [que causa problemas respiratórios]", estima o pesquisador.
Dabdoub afirma que, gradualmente, seria possível aumentar a produção do biodiesel para que ele fosse usado integralmente, sem a mistura com o diesel tradicional. "Para isso, porém, teríamos de aumentar a área plantada para produzir os óleos vegetais."


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