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TECNOLOGIA
Método para produzir combustível com óleos vegetais e etanol é mais rápido e eficiente; uso começaria em 2005
Álcool de cana permite diesel renovável
REINALDO JOSÉ LOPES
FREE-LANCE PARA A FOLHA
O primeiro biodiesel totalmente
renovável do mundo foi criado
por pesquisadores da USP, que
conseguiram incorporar à produção do combustível o álcool de cana. De quebra, a equipe conseguiu
reduzir o tempo necessário para
produzir o biodiesel de seis horas
para 30 minutos, um avanço que
pode ser crucial para que ele se
torne viável economicamente.
Biodiesel é o nome dado ao óleo
combustível produzido a partir
de óleos vegetais, e não derivado
de petróleo.
O combustível ainda é 10% mais
caro que seu similar produzido
usando metanol, mas as vantagens ambientais e mesmo econômicas compensam de longe a diferença, diz o coordenador da
pesquisa, Miguel Dabdoub, 40, do
Departamento de Química da
USP de Ribeirão Preto.
Uma delas é só usar fontes vegetais e, portanto, renováveis. Ao
contrário do metanol, normalmente obtido do petróleo, o álcool de cana (ou etanol) pode ser
reposto a cada safra, assim como
os óleos vegetais que são o componente principal da reação.
Dessa forma, o dióxido de carbono (CO2) gerado pela queima
do biodiesel pode ser reabsorvido
pelas plantas que são matéria-prima para os óleos vegetais, evitando assim os efeitos do gás sobre o
clima do planeta (ele é considerado o principal responsável pelo
aquecimento global).
Vegetais disponíveis para o processo é o que não falta, diz Dabdoub: "Podemos usar óleo de soja, girassol, milho, algodão, canola ou de qualquer oleaginosa",
enumera o pesquisador.
Testes têm mostrado que óleos
importantes para a economia de
algumas regiões do país, como o
de babaçu (uma palmeira do Norte e Nordeste), dendê (tipicamente nordestino) ou pequi (árvore
comum no Brasil Central) também funcionam, sem necessidade
de adaptar o motor.
Tanto o metanol quanto o etanol, que entram numa proporção
de 20% a 30% na reação que produz o biodiesel, são formas de álcool. Segundo Dabdoub, ninguém havia conseguido usar simples álcool de cana na reação:
"Uma das dificuldades que existem hoje é que a reação não se
processa com eficiência".
"A taxa de conversão [da mistura óleo e etanol em biodiesel" é
muito baixa", diz o pesquisador
da USP. "Mas o item mais importante é que o produto final forma
soluções entre o biodiesel e a glicerina, que é o outro resultante da
reação, e fica muito difícil separá-los", afirma.
O pulo-do-gato descoberto por
Dabdoub e seus colaboradores foi
usar catalisadores (substâncias
que não são alteradas nas reações
químicas, mas as aceleram e melhoram) capazes de dar entre 98%
e 100% de eficiência à reação.
Na verdade, o novo método usa
um catalisador e um co-catalisador. Dabdoub prefere não revelar
quais são para proteger os direitos
intelectuais sobre o processo.
"Mas o co-catalisador é à base de
argila e extremamente barato",
afirma o pesquisador.
Na reação, o etanol e o óleo vegetal reagem formando o biodiesel e a glicerina. Com os novos catalisadores, os dois produtos não
saem mais misturados, e é possível aproveitar ambos de forma
muito mais prática.
Poluição reduzida
O laboratório de Dabdoub já está equipado para produzir o biodiesel em escala piloto (mil litros
por dia), mas ele quer mais. Em
parceria com outras universidades brasileiras e com o MCT (Ministério da Ciência e Tecnologia),
já está em andamento o projeto
de misturar 5% de biodiesel ao
diesel usado em veículos no país.
"Mesmo essa proporção pequena reduziria em 17% a emissão de
enxofre [causador da chuva ácida] e em 13,5% a de material particulado em forma de fuligem [que causa problemas respiratórios]", estima o pesquisador.
Dabdoub afirma que, gradualmente, seria possível aumentar a
produção do biodiesel para que
ele fosse usado integralmente,
sem a mistura com o diesel tradicional. "Para isso, porém, teríamos de aumentar a área plantada para produzir os óleos vegetais."
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