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Grupo detecta antimatéria mais pesada
Colisões de núcleos de ouro em acelerador nos EUA produzem "anti-hidrogênio", átomo presente no início do Universo
Objetivo é entender por que
a matéria predominou no
Big Bang sobre sua "rival';
físicos da USP e da Unicamp
participaram de pesquisa
DA REPORTAGEM LOCAL
Um grande grupo internacional de cientistas diz ter recriado uma partícula que esteve
presente na origem do Universo. É o núcleo de antimatéria
mais pesado já visto.
A teoria do Big Bang postula
que, no surgimento do Universo, existiam quantidades iguais
de matéria e antimatéria (matéria composta de partículas
com cargas elétricas trocadas).
Mas, de alguma forma, a matéria acabou predominando e
formando quase tudo o que
existe. Ainda bem: como matéria e antimatéria se aniquilam
mutuamente, essa assimetria
inicial foi fundamental para
que o cosmo existisse. Hoje, os
cientistas procuram as antipartículas, "derrotadas", para entender como isso aconteceu.
A estratégia é acelerar núcleos de átomos até velocidades
próximas à da luz e colocá-los
para se chocar. Essas colisões
liberam grandes quantidades
de energia e "quebram" os átomos em várias subpartículas.
Se a trombada for forte o suficiente, algumas dessas partículas serão de antimatéria. A má
notícia é que elas duram frações mínimas de segundo, logo
se desintegrando.
Ainda assim, é melhor do que
nada, e os cientistas estão conseguindo, pouco a pouco, pedaços inéditos de antimatéria. É o
caso da pesquisa apresentada
na última edição da revista
"Science", em que se produziu
um antinúcleo de hidrogênio
superpesado, composto de um
antiquark chamado "estranho", visto pela primeira vez.
Os quarks são os elementos
básicos dos nêutrons e dos prótons do núcleo dos átomos. O
antiquark é um dos pedaços
mais básicos de antimatéria.
Até hoje, foram poucos os experimentos que conseguiram
energia o suficiente para produzir átomos inteiros de antimatéria, já que antiprótons e
antinêutrons se aniquilam antes de formarem um núcleo.
O grupo responsável pelo experimento envolve 584 cientistas em 12 países, incluindo brasileiros da USP e Unicamp. "O
jeito como fazemos experimentos em física nuclear e das
partículas mudou dramaticamente. Hoje, são sempre centenas de colaboradores", diz
Hans Georg Ritter, físico do Lawrence Berkeley National Laboratory, nos EUA.
Para produzir seu anti-hidrogênio com o quark "estranho", os cientistas fizeram núcleos de átomos de ouro se chocarem no Colisor de Íons Pesados (RHIC), em Long Island
(EUA). O aparelho, do tamanho
de uma casa, obtém energias
comparáveis à do Big Bang, dissolvendo os núcleos.
"As colisões produzem muitos tipos de partículas e núcleos, e o tipo de antimatéria
que procuramos é muito raro",
diz Ritter. Segundo ele, de 100
milhões de colisões, apenas 70
foram úteis para encontrar os
antiquarks "estranhos". Um
trabalho minucioso de análise
computacional é necessário para detectar as colisões certas.
(RICARDO MIOTO)
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