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São Paulo, terça-feira, 08 de abril de 2003

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Clone de gado raro nasce nos Estados Unidos

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Biotecnólogos e ambientalistas travaram uma rara aliança na semana passada para comemorar um episódio singular: duas vacas deram cria em Iowa, EUA. Os filhotes não são delas, mas clones de outra espécie, o banteng, um tipo de gado ameaçado de extinção.
A realização é fruto de uma parceria entre a companhia de biotecnologia Advanced Cell Technology, de Massachusetts, o Centro Sioux, de Iowa, e o Centro para Reprodução de Espécies Ameaçadas da Sociedade Zoológica de San Diego, na Califórnia.
Os dois nascimentos, ocorridos em 1º e 3 de abril, marcam o início de uma nova fase para um projeto que já atraía interesse -o Frozen Zoo (ou Zoológico Congelado, na tradução para o português).
A idéia, iniciada em 1976, era coletar e preservar criogenicamente (em baixas temperaturas) amostras celulares de animais ameaçados de extinção, com a esperança de estudá-los e, quem sabe, ressuscitá-los quando a tecnologia assim o permitisse.
Hoje, a coleção do Frozen Zoo, que é coordenado pelo geneticista Oliver Ryder, é a maior do mundo. São cerca de 1.800 amostras e 335 espécies diferentes com o material genético preservado.
O material vai desde os notórios pandas e condores até os menos conhecidos bantengs -parentes asiáticos raros do gado comum que estão à beira do esquecimento. Hoje há menos de 10 mil exemplares remanescentes.
A primeira tentativa de trazer um membro do Frozen Zoo de volta do mundo dos animais perdidos foi com um gauro, outra espécie rara de gado. Uma gravidez acabou levando ao nascimento de um animal, em 2001. O clone morreu dois dias depois.
Os dois bantengs produzidos em Iowa já viveram mais do que isso. Um deles, nascido no dia 1º, está em boa saúde. O segundo está mais debilitado. Mas Ryder não arrisca palpite sobre qual deles pode sobreviver. "Até mesmo o que está bem pode mudar de condição da noite para o dia", diz.
A fase crítica para os dois animais é de duas a três semanas. Depois desse período, quem sobreviver será levado ao Zôo de San Diego, onde viverá com seus colegas de espécie. A equipe não tem planos futuros de clonagem no momento. "Agora queremos ver como esses animais se comportam e como se reproduzem", diz Ryder. "Esse é um projeto para os próximos cinco ou seis anos."
Os dois filhotes, que ainda não têm nome, são cópias genéticas idênticas de um banteng macho que morreu no Parque Selvagem Animal de San Diego em 1980.
No início, a ACT preparou 30 óvulos de vaca, extraindo-lhes o núcleo e fundindo-os com células adultas preservadas do banteng de San Diego. A fusão, feita com ajuda de um choque elétrico, faz com que o óvulo se comporte como se tivesse sido fertilizado, iniciando o processo de divisão celular e criando um embrião. Ele é então implantado numa vaca, que serve como barriga de aluguel.
Clonar animais continua sendo uma tarefa difícil. Dos 30 embriões originais, 11 resultaram em gravidez. Desses, só dois chegaram ao nascimento.


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