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Célula reprogramada trata mal de Parkinson em rato
Estudo usa técnica recém-desenvolvida que dispensa embrião humano em terapia
Experimento é o 1ª a tratar doença neurodegenerativa
dessa forma; cientista diz, porém, que pesquisa com embrião é imprescindível
CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA
Cientistas nos EUA conseguiram tratar mal de Parkinson
em ratos pela primeira vez
usando células da pele artificialmente transformadas em
células-tronco embrionárias.
O experimento é um grande
passo na direção de aplicar a recém-desenvolvida técnica da
pluripotência induzida para
tratar doenças em humanos.
Essa estratégia, em tese, dispensa o uso de embriões humanos em terapia. Por ela, uma célula adulta é reprogramada geneticamente para "achar" que é
uma célula-tronco embrionária, capaz de se converter em
qualquer tipo de tecido.
Os pesquisadores liderados
pelo alemão Rudolf Jaenisch,
do Instituto Whitehead, nos
EUA, provaram que células da
pele de camundongo reprogramadas e induzidas a se transformarem em neurônios conseguiram se alojar no cérebro de fetos de roedor e funcionar.
Num segundo experimento,
ratos adultos geneticamente alterados para terem mal de Parkinson (caracterizado pela falta
de uma molécula chamada dopamina em algumas regiões do
cérebro) receberam injeções
dessas células. Oito de nove
animais no teste tiveram melhora nos sintomas da doença, e
um deles ficou com níveis de
dopamina ainda mais altos na
região do transplante do que
em outras áreas do cérebro.
"É a primeira vez que a técnica é usada em uma doença neurodegenerativa", disse à Folha
o austríaco Marius Wernig, autor principal do estudo, publicado hoje na revista "PNAS".
Antes que alguém ache que
esse é o começo do fim do uso
de embriões em pesquisa, no
entanto, Wernig dá um alerta: a
técnica tem problemas sérios
de segurança, que precisam ser
superados antes de um eventual uso em humanos.
Primeiro, o veículo usado para a indução é um retrovírus
(veja quadro à dir.), um parente
do HIV. Depois, dois dos genes
usados na reprogramação são
genes de câncer. Vários dos camundongos no primeiro experimento morreram com tumores. "Há claramente um problema de segurança. Embora
os retrovírus sejam silenciosos,
há o temor de que eles possam
se ativar [nas células] e originar
tumores", disse Wernig.
Os ratos adultos que sofreram transplante também desenvolveram um tipo de tumor,
chamado teratoma, mas muito
fraco. Segundo Wernig, isso
aconteceu porque a transformação das células de pele reprogramadas em neurônios
não foi 100% completa. "Algumas células indiferenciadas
acabaram sendo transplantadas junto, mas esse problema
nós conseguimos eliminar."
STF
Sobre o uso de embriões humanos congelados, contestado
no Brasil por uma ação no Supremo Tribunal Federal, Wernig diz que uma proibição seria
"cientificamente seria muito
ruim". "Nós precisamos derivar essas células para termos
parâmetro de comparação com
as células reprogramadas", diz
o austríaco. "Quanto mais entendermos as células embrionárias humanas, melhor poderemos fazer a reprogramação."
Defensora da pesquisa com
embriões, a geneticista Mayana
Zatz, da USP, completa: "Estamos aprendendo com elas". Segundo Zatz, "é engraçado que
os religiosos queiram banir o
uso de embriões e aplaudam a
da reprogramação, que usa manipulação genética [humana]".
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