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Cai taxa de formação de doutores no país
Crescimento no número de titulados era de 15% ao ano em média no início da década e baixou para 6% de 2004 em diante
Só 24% dos professores das instituições de ensino superior possuem título;
no ano passado, foram formados 10.711 doutores
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
A letra do zoólogo Paulo Vanzolini ilustra bem a situação do
sistema de pós-graduação nacional: "De um lado tem maré
alta, do outro praia de fora."
O país rompeu a barreira
simbólica da formação de 10
mil doutores em 2008. Segundo número ainda não divulgado
pelo governo, 10.711 receberam
o título. Porém, a taxa de aumento de titulados, que era de
15% em média ao ano no início
da década, caiu para 6% de
2004 em diante - com uma
tendência de alta no último ano.
Dados mostram que a carência do setor acadêmico no Brasil continua enorme. De todas
as instituições de ensino superior do país, entre particulares
e públicas, só 24% dos professores são doutores.
E há três anos, pelo menos, a
taxa relativa mostra que o Brasil ainda está longe de alcançar
o número de formação dos
americanos. O resultado da divisão do número de titulados
nos EUA pela quantidade anual
de doutores brasileiros -um
dos indicadores mais usados
pelos estudiosos- está estagnado em 21%.
"É bastante preocupante",
afirma Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor-científico da
Fapesp (Fundação de Amparo
à Pesquisa do Estado de SP). O
fato de o intervalo entre os dois
países não diminuir, para o pesquisador e dirigente científico,
impede que o Brasil se aproxime das estatísticas de países
mais desenvolvidos.
Apesar de considerar que as
taxas de formação de doutores,
mesmo em queda, estão altas,
Eduardo Viotti, economista especialista em política científica,
concorda que o número de professores universitários que
possuem título de doutorado
ainda é muito reduzido e precisa ser elevado. Ele é um dos autores de um estudo sobre ensino superior publicado pelo
CGEE (Centro de Gestão e Estudos Estratégicos) em 2008.
O ministro da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, vê o
quadro com mais naturalidade
e com menos preocupação.
"Não é possível que um sistema
de pós-graduação cresça tanto
por um tempo muito longo",
disse ele à Folha.
O Plano Nacional de Pós-Graduação do Brasil prevê para
o fim do próximo ano a cifra de
16 mil doutores em um ano
-número que dificilmente será atingido. Mas o titular do
MCT sabe onde está um dos
gargalos: a inovação brasileira,
no setor privado, ainda não
ocorre na velocidade desejada.
Federais
Mesmo com as particulares
fora da conta, o número de doutores entre os professores do
terceiro grau é baixo. Quando
são analisadas apenas as universidades federais, por exemplo, a cifra é de 50%.
Das 55 universidades federais que o Brasil tem hoje, 9
(16,3%) não poderiam ter mais
esse nome se a discussão da reforma universitária, estagnada
no Congresso há anos, já tivesse sido encerrada. Pelo Projeto
de Lei, cada instituição deve ter
pelo menos 25% de doutores
no quadro de docentes para ser
denominada "universidade".
Em São Paulo, onde existem
ilhas de excelência, a taxa média nas três universidades estaduais é de 93%. Nos EUA, que
possui universidades mais voltadas para a pesquisa e outras
focadas quase exclusivamente
no ensino, as mesmas taxas ficam ao redor dos 73%.
Jarbas Bonetti, professor e
pesquisador na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), diz que a menor busca dos
alunos por doutorado pode ter
a ver com a maior dificuldade
para a obtenção de bolsas e falta de perspectiva de emprego
após conseguir o título.
Já Adalberto Vieyra, coordenador de área da Capes e professor da UFRJ, diz que os programas de pós-graduação cresceram em número e tamanho,
especialmente a partir de 2003.
"Mas o corpo de orientadores
qualificados, de formação demorada e cuidadosa, cresceu de
forma muito lenta, passando de
32 mil para 35 mil."
Segundo ele, o desafio não é
só superar o fosso dos 0,6 doutores por 1.000 habitantes contra os 30 da Alemanha, por
exemplo. "É preciso formar
pessoas capazes de liderar a
abordagem de complexos problemas nas fronteiras do conhecimento, no mesmo nível
que nos países desenvolvidos."
Para o consultor e ex-reitor
da USP, Roberto Leal Lobo e
Silva Filho, é importante aumentar a incorporação de doutores tanto na iniciativa privada, para a inovação, quanto no
setor acadêmico.
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