|
Próximo Texto | Índice
Calor derrete geleira argentina gigante
Arco de gelo da Perito Moreno, glaciar de 60 metros de altura, deve desmoronar hoje pela primeira vez num inverno
Aquecimento global deve estar relacionado com o fenômeno, diz geólogo; alta temperatura faz massa de neve afinar mais rápido
Guillermo Rodríguez Adami/"Clarín"
|
|
Arco da geleira Perito Moreno, escavado pelas águas do lago Argentino; fenômeno precede desmoronamento, previsto para hoje
ADRIANA KÜCHLER
DE BUENOS AIRES
O aquecimento global é o
provável culpado de um espetáculo fora de época na Argentina, onde a geleira Perito Moreno, próxima ao lago Argentino,
na região da Patagônia, começou a se romper pela primeira
vez durante o inverno.
O fenômeno normalmente é
observado de novembro a abril,
quando a região tem temperaturas mais altas e atrai milhares
de turistas à região. A última
ruptura havia ocorrido em
março de 2006. Ontem, caíram
grandes pedaços de gelo e o
rompimento do bloco era esperado para a noite de ontem ou
durante o dia de hoje.
"Esta é a primeira vez que a
geleira se rompe no inverno",
afirmou Carlos Corvalán, diretor do Parque Nacional Los
Glaciares, onde fica a geleira,
2.800 km a sudoeste da capital
Buenos Aires.
"Deve estar relacionado com
o aquecimento global, pois o
aumento de temperatura afeta
a resistência do gelo.O gelo não
deve ter mais a mesma dureza
que de costume, já que sempre
se rompe no verão, quando está
mais fraco", disse Corvalán à
imprensa local.
Com uma superfície de 275
km2 e 60 metros de altura, a Perito Moreno é a mais conhecida
entre as 356 geleiras do parque
nacional e forma parte do sistema chamado de Gelos Continentais. Em períodos que variam de quatro a seis anos, o
bloco de gelo avança sobre o lago Argentino, se prende ao
continente, e rompe depois
com a pressão da água, normalmente no verão.
O rompimento das geleiras
ocorre por conta de seu próprio
peso, quando há perda de gelo
na parte inferior. Infiltrações
de água penetram os blocos de
gelo até que eles se desprendem das geleiras. Ontem, caíram grandes pedaços da "ponte" de gelo arqueada que resta
ao fim do fenômeno.
Além do fenômeno fora de
época, as mudanças no clima
também vêm reduzindo a área
ocupada pelas geleiras. Nos últimos anos, as geleiras da Patagônia tiveram sua área reduzida entre 10% e 20%, segundo o
Instituto Argentino de Neves,
Geleiras e Ciências Ambientais
de Mendoza. Cerca de cem geleiras passam por uma redução
de suas áreas não apenas na Argentina, mas também em países como Chile, Áustria, Itália,
Espanha e Suíça.
Segundo Norberto Ovando,
especialista da Comissão Mundial de Áreas Protegidas, o
rompimento da geleira no inverno é provavelmente um sinal das mudanças climáticas.
Ainda assim analistas são cautelosos em afirmar que essas
mudanças são cíclicas e é difícil
atribuir um evento específico
diretamente à interferência
humana sobre o clima.
Cataclismo turístico
O fenômeno, que atrai dezenas de milhares de turistas ao
local no verão, pegou a região
de surpresa, na baixa temporada. Os moradores da cidade
mais próxima, El Calafate, que
quase nunca acompanham o fenômeno porque têm que trabalhar para os turistas, dessa vez
são os principais espectadores
do evento. No domingo, pouco
mais de 300 pessoas visitavam
a Perito Moreno.
Como era impossível aumentar o número de vôos para a região em cima da hora (no inverno, há apenas um vôo diário para a região), a secretaria de Turismo da Província de Santa
Cruz, onde estão as geleiras, decidiu transmitir ao vivo, pela
internet, a ruptura do Perito
Moreno (http://epatagonia.
gov.ar/glaciar). A direção do
parque torcia para que a grande ruptura não acontecesse durante a noite, quando o parque
é fechado e a filmagem interrompida por falta de luz natural. Até o fechamento desta
edição, o arco de gelo da Perito
Moreno ainda estava em pé.
Com France Presse
Próximo Texto: Frase Índice
|