São Paulo, terça-feira, 08 de julho de 2008

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Calor derrete geleira argentina gigante

Arco de gelo da Perito Moreno, glaciar de 60 metros de altura, deve desmoronar hoje pela primeira vez num inverno

Aquecimento global deve estar relacionado com o fenômeno, diz geólogo; alta temperatura faz massa de neve afinar mais rápido

Guillermo Rodríguez Adami/"Clarín"
Arco da geleira Perito Moreno, escavado pelas águas do lago Argentino; fenômeno precede desmoronamento, previsto para hoje

ADRIANA KÜCHLER
DE BUENOS AIRES

O aquecimento global é o provável culpado de um espetáculo fora de época na Argentina, onde a geleira Perito Moreno, próxima ao lago Argentino, na região da Patagônia, começou a se romper pela primeira vez durante o inverno.
O fenômeno normalmente é observado de novembro a abril, quando a região tem temperaturas mais altas e atrai milhares de turistas à região. A última ruptura havia ocorrido em março de 2006. Ontem, caíram grandes pedaços de gelo e o rompimento do bloco era esperado para a noite de ontem ou durante o dia de hoje.
"Esta é a primeira vez que a geleira se rompe no inverno", afirmou Carlos Corvalán, diretor do Parque Nacional Los Glaciares, onde fica a geleira, 2.800 km a sudoeste da capital Buenos Aires.
"Deve estar relacionado com o aquecimento global, pois o aumento de temperatura afeta a resistência do gelo.O gelo não deve ter mais a mesma dureza que de costume, já que sempre se rompe no verão, quando está mais fraco", disse Corvalán à imprensa local.
Com uma superfície de 275 km2 e 60 metros de altura, a Perito Moreno é a mais conhecida entre as 356 geleiras do parque nacional e forma parte do sistema chamado de Gelos Continentais. Em períodos que variam de quatro a seis anos, o bloco de gelo avança sobre o lago Argentino, se prende ao continente, e rompe depois com a pressão da água, normalmente no verão.
O rompimento das geleiras ocorre por conta de seu próprio peso, quando há perda de gelo na parte inferior. Infiltrações de água penetram os blocos de gelo até que eles se desprendem das geleiras. Ontem, caíram grandes pedaços da "ponte" de gelo arqueada que resta ao fim do fenômeno.
Além do fenômeno fora de época, as mudanças no clima também vêm reduzindo a área ocupada pelas geleiras. Nos últimos anos, as geleiras da Patagônia tiveram sua área reduzida entre 10% e 20%, segundo o Instituto Argentino de Neves, Geleiras e Ciências Ambientais de Mendoza. Cerca de cem geleiras passam por uma redução de suas áreas não apenas na Argentina, mas também em países como Chile, Áustria, Itália, Espanha e Suíça.
Segundo Norberto Ovando, especialista da Comissão Mundial de Áreas Protegidas, o rompimento da geleira no inverno é provavelmente um sinal das mudanças climáticas. Ainda assim analistas são cautelosos em afirmar que essas mudanças são cíclicas e é difícil atribuir um evento específico diretamente à interferência humana sobre o clima.

Cataclismo turístico
O fenômeno, que atrai dezenas de milhares de turistas ao local no verão, pegou a região de surpresa, na baixa temporada. Os moradores da cidade mais próxima, El Calafate, que quase nunca acompanham o fenômeno porque têm que trabalhar para os turistas, dessa vez são os principais espectadores do evento. No domingo, pouco mais de 300 pessoas visitavam a Perito Moreno.
Como era impossível aumentar o número de vôos para a região em cima da hora (no inverno, há apenas um vôo diário para a região), a secretaria de Turismo da Província de Santa Cruz, onde estão as geleiras, decidiu transmitir ao vivo, pela internet, a ruptura do Perito Moreno (http://epatagonia. gov.ar/glaciar). A direção do parque torcia para que a grande ruptura não acontecesse durante a noite, quando o parque é fechado e a filmagem interrompida por falta de luz natural. Até o fechamento desta edição, o arco de gelo da Perito Moreno ainda estava em pé.


Com France Presse



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