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São Paulo, quarta-feira, 08 de outubro de 2003

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FÍSICA

Alexei Abrikosov, premiado por trabalho teórico sobre supercondutores, afirma que a ciência não pode ser planejada

Nobel prevê revolução da vida cotidiana

Frank Polich/Reuters
Alexei Abrikosov, em seu escritório, dá entrevista por telefone


DA REPORTAGEM LOCAL

As aplicações futuras dos supercondutores serão tão extraordinárias que é impossível antecipá-las completamente, afirma Alexei Abrikosov, 75, um dos três vencedores do Prêmio Nobel de Física. Para ele, o começo dessa revolução, com as atuais aplicações em eletrônica e trens velozes que flutuam no ar, vai parecer pouco diante do que promete o futuro da tecnologia.
"Será uma completa revolução. Todo o estilo de vida e os equipamentos que usamos irão mudar por completo", disse.
De sua casa em Illinois, Abrikosov deu por telefone a seguinte entrevista à Folha.
(SALVADOR NOGUEIRA)
 

Folha - O sr. esperava poder ganhar esse prêmio?
Alexei Abrikosov -
Sabe, eu odeio ficar na expectativa. Já havia sido indicado duas ou três vezes antes e não havia ganho. Então não estava com muita esperança de ganhar neste ano. Foi realmente muito extraordinário.

Folha - Como o sr. se sente com relação às descobertas que fez no campo teórico?
Abrikosov -
Acho que o que eu fiz, predizer a existência de supercondutores do tipo 2 [veja quadro à dir.] e começar a estudar suas propriedades, lá nos anos 1950, foi muito interessante. E é ótimo ver muitas pessoas trabalhando nisso hoje, até mesmo no Brasil.

Folha - E quanto ao potencial que isso abriu?
Abrikosov -
É um campo muito rico. Começaram a surgir agora supercondutores com temperaturas altas. Embora ainda estejam no ponto de congelamento do nitrogênio, muitos graus abaixo de zero, a tendência é que sejam descobertos supercondutores com temperaturas cada vez mais altas, o que é muito interessante.

Folha - Quanto tempo o sr. acha que isso vai levar para acontecer?
Abrikosov -
É absolutamente imprevisível. Aliás, eu sempre fui contra planejamento em ciência. Não funciona, não é assim que a ciência caminha. As descobertas são descobertas porque são completamente imprevisíveis.
Tempos atrás ouvi previsões que se faziam antigamente do futuro da ciência e da tecnologia, e é interessante ver que no final elas se mostraram um absoluto disparate. Ciência e tecnologia foram numa direção completamente diferente.

Folha - Dado o grau de imprevisibilidade, pode ser que supercondutores de temperatura ambiente acabem nunca surgindo?
Abrikosov -
Eu acho que as pessoas estão procurando isso, então vão acabar encontrando. A ciência não traz sucesso e recompensas imediatas para quem a exerce, mas é algo que precisa ser perseguido, pois diz respeito ao futuro da humanidade.

Folha - E os supercondutores prometem uma revolução científica e tecnológica para o futuro?
Abrikosov -
Sem a menor sombra de dúvida. Hoje, os supercondutores de alta temperatura que já existem estão sendo aplicados em campos como o da eletrônica. Os trens que podem flutuar no ar graças à força de grandes campos magnéticos, andando a enorme velocidade, pois não tocam o chão, já estão sendo desenvolvidos, no Japão e nos Estados Unidos, mesmo com o que já temos.

Folha - E quando os supercondutores de ambiente surgirem?
Abrikosov -
Será uma completa revolução. Todo o estilo de vida e os equipamentos que usamos irão mudar por completo.


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