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FÍSICA
Alexei Abrikosov, premiado por trabalho teórico sobre supercondutores, afirma que a ciência não pode ser planejada
Nobel prevê revolução da vida cotidiana
Frank Polich/Reuters
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Alexei Abrikosov, em seu escritório, dá entrevista por telefone |
DA REPORTAGEM LOCAL
As aplicações futuras dos supercondutores serão tão extraordinárias que é impossível antecipá-las completamente, afirma
Alexei Abrikosov, 75, um dos três
vencedores do Prêmio Nobel de
Física. Para ele, o começo dessa
revolução, com as atuais aplicações em eletrônica e trens velozes
que flutuam no ar, vai parecer
pouco diante do que promete o
futuro da tecnologia.
"Será uma completa revolução.
Todo o estilo de vida e os equipamentos que usamos irão mudar
por completo", disse.
De sua casa em Illinois, Abrikosov deu por telefone a seguinte
entrevista à Folha.
(SALVADOR NOGUEIRA)
Folha - O sr. esperava poder ganhar esse prêmio?
Alexei Abrikosov - Sabe, eu odeio
ficar na expectativa. Já havia sido
indicado duas ou três vezes antes
e não havia ganho. Então não estava com muita esperança de ganhar neste ano. Foi realmente
muito extraordinário.
Folha - Como o sr. se sente com
relação às descobertas que fez no
campo teórico?
Abrikosov - Acho que o que eu
fiz, predizer a existência de supercondutores do tipo 2 [veja quadro
à dir.] e começar a estudar suas
propriedades, lá nos anos 1950, foi
muito interessante. E é ótimo ver
muitas pessoas trabalhando nisso
hoje, até mesmo no Brasil.
Folha - E quanto ao potencial que
isso abriu?
Abrikosov - É um campo muito
rico. Começaram a surgir agora
supercondutores com temperaturas altas. Embora ainda estejam
no ponto de congelamento do nitrogênio, muitos graus abaixo de
zero, a tendência é que sejam descobertos supercondutores com
temperaturas cada vez mais altas,
o que é muito interessante.
Folha - Quanto tempo o sr. acha
que isso vai levar para acontecer?
Abrikosov - É absolutamente imprevisível. Aliás, eu sempre fui
contra planejamento em ciência.
Não funciona, não é assim que a
ciência caminha. As descobertas
são descobertas porque são completamente imprevisíveis.
Tempos atrás ouvi previsões
que se faziam antigamente do futuro da ciência e da tecnologia, e é
interessante ver que no final elas
se mostraram um absoluto disparate. Ciência e tecnologia foram
numa direção completamente diferente.
Folha - Dado o grau de imprevisibilidade, pode ser que supercondutores de temperatura ambiente
acabem nunca surgindo?
Abrikosov - Eu acho que as pessoas estão procurando isso, então
vão acabar encontrando. A ciência não traz sucesso e recompensas imediatas para quem a exerce,
mas é algo que precisa ser perseguido, pois diz respeito ao futuro
da humanidade.
Folha - E os supercondutores prometem uma revolução científica e
tecnológica para o futuro?
Abrikosov - Sem a menor sombra de dúvida. Hoje, os supercondutores de alta temperatura que já
existem estão sendo aplicados em
campos como o da eletrônica. Os
trens que podem flutuar no ar
graças à força de grandes campos
magnéticos, andando a enorme
velocidade, pois não tocam o
chão, já estão sendo desenvolvidos, no Japão e nos Estados Unidos, mesmo com o que já temos.
Folha - E quando os supercondutores de ambiente surgirem?
Abrikosov - Será uma completa
revolução. Todo o estilo de vida e
os equipamentos que usamos irão
mudar por completo.
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