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Bióloga vítima de jacaré volta para a Amazônia
Deise Nishimura, 24, teve a perna arrancada na região há menos de um ano
A cientista paulista é especialista em botos cor-de-rosa, mas agora não descata começar a estudar jacarés também
Bruno Fernandes/Folhapress
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A bióloga Deise Nishimura dá palestra em Manaus (AM)
GIULIANA MIRANDA
ENVIADA ESPECIAL A MANAUS
Menos de um ano após ter
a perna arrancada por um jacaré na Amazônia, a bióloga
paulista Deise Nishimura,
24, volta hoje para o local onde foi atacada. Ela vai retomar sua pesquisa com botos
cor-de-rosa da região.
No dia 30 de dezembro,
quando limpava peixe na varanda da casa flutuante onde
morava, em uma reserva florestal isolada no Alto Amazonas, foi atacada por um gigantesco jacaré-açu.
A região tem uma dos
maiores populações desses
répteis do Brasil, com cerca
de 90 animais por habitante.
O jacaré-açu, que é o maior
predador da América do Sul e
pode chegar a seis metros de
comprimento, pulou cerca
de um metro para alcançá-la.
O bicho a levou para o fundo do rio -com cerca de três
metros de profundidade- e
arrancou sua perna.
Deise só conseguiu escapar porque se lembrou de um
documentário que havia visto na televisão.
"Eles falavam que a parte
mais sensível do tubarão era
o nariz. Eu imaginei que também fosse assim com o jacaré. Então, quando e encontrei
duas aberturas na cabeça dele -que eu não sei se eram os
olhos ou o nariz- apertei
com toda força", diz.
Já refeita do susto, ela fala
em tom de brincadeira: "Foi
com tanta força que eu até
quebrei minha unha."
Depois de se livrar do animal, a bióloga conseguiu se
arrastar com dificuldade até
o deque onde ancoravam os
barcos e gritou por socorro
durante alguns minutos.
Em vão. Ninguém estava
por perto.
"Quando eu percebi que a
água estava muito vermelha
por causa do sangue, imaginei que poderia atrair mais
jacarés. Tinha de sair dali."
Ela precisou se arrastar
mais até a casa e pedir socorro por rádio. Cerca de 15 minutos depois, dois guias de
uma pousada local apareceram para socorrê-la.
"Até aquele momento,
graças à adrenalina, não estava sentindo dor. Só começou a doer mesmo quando eu
já estava no barco, já a caminho do hospital."
O jacaré que atacou a pesquisadora era conhecido no
rio. Deise já havia tirado algumas fotos do animal, que
costumava dormir bem embaixo da casa flutuante.
Ao ficarem sabendo do
ataque, moradores de uma
comunidade ribeirinha da região mataram o animal e recuperaram a perna da cientista. Mas, pelo tipo de lesão e
pelo tempo passado desde o
ataque, os médicos decidiram não reimplantá-la.
Apesar do trauma, Deise
fala com tranquilidade, normalmente sorrindo, sobre o
episódio. "Ainda estou
aprendendo a fazer as coisas,
realmente me adaptando à
nova realidade. Às vezes não
é fácil, mas eu não quero que
sintam pena de mim. Quero
ser um exemplo de superação", diz a cientista.
No fim de semana, ela foi
ovacionada ao contar sua
história em uma das palestra
do "TEDx Amazônia", um
evento que reuniu mais de
400 pessoas e 50 palestrantes em Manaus.
Foi a primeira vez que a
bióloga retornou à Amazônia
desde o incidente.
Nessa segunda-feira, ela
volta para o local do ataque,
onde ficará mais um mês trabalhando com o monitoramento de botos cor-de-rosa.
Ela tem planos de voltar
definitivamente para a reserva onde foi atacada.
"Os meses que eu passei
na Amazônia foram os melhores da minha vida. Eu estava muito feliz. Quero muito
voltar a viver na natureza."
Ela não descarta a possibilidade de também começar a
estudar jacarés. "Eu com certeza não recusaria a oportunidade de estudar esse animal tão interessante."
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