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Desmate menor não influencia Bali, diz Krug
DO ENVIADO A BALI
Organizações ambientalistas
comemoraram ontem a queda
de 20% do desmatamento na
Amazônia, anunciada na noite
de anteontem pelo governo federal. Os delegados brasileiros
na Conferência do Clima de Bali, no entanto, disseram que os
dados não devem influir na negociação do regime climático
pós-2012.
"Não melhora nem piora o
rumo das negociações. É um
dado bom para o Brasil", disse
Thelma Krug, secretária nacional de Mudança Climática do
Ministério do Meio Ambiente.
Para Rod Taylor, diretor do
Programa de Florestas do
WWF, a queda na devastação
"cria confiança de que as florestas são parte da solução" para a
crise climática, portanto, a cifra
de 11.224 km2 -queda pelo terceiro ano consecutivo na taxa
de desflorestamento- pode,
sim, ser um dado positivo na
conferência de Bali.
Os dados do Prodes (sistema
que calcula a taxa anual de desmatamento) deverão ser anunciados na semana que vem em
Bali pela ministra Marina Silva
(Meio Ambiente). O governo
esperava vir à conferência na
Indonésia com a menor taxa já
registrada desde que o Inpe
(Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) começou a medi-la, no final dos anos 1980. Dados preliminares projetavam
uma taxa de 9.600 km2. Seria a
primeira vez que o desmatamento atingiria quatro dígitos.
Mesmo sem a queda esperada, o dado dá respaldo à política do governo brasileiro de incluir reduções verificáveis do
desmatamento como o compromisso do Brasil para reduzir emissões de gases de efeito
estufa no período pós-2012 e
de cobrar verba dos países industrializados num fundo para
implementar esse tipo de política em nações tropicais.
O representante da União
Européia em Bali Arthur Metzger disse que a queda no desmatamento é uma "boa lição",
mas evitou endossar a proposta
brasileira -sinalizando que a
UE não estaria disposta a colocar dinheiro num fundo sem
ganhar em troca créditos por
reduções de suas próprias
emissões.
Paulo Adário, do Greenpeace, disse que os dados do Inpe
são de "dupla leitura": por um
lado, mostram que ações do governo de repressão do desmatamento surtiram efeito. Por
outro, apesar da queda total, o
desmate voltou a crescer após
julho, em 2007, devido à alta
dos preços das commodities.
"Fica claro que há pressão sobre o desmatamento. No começo, a ministra insistia que ações
governamentais eram as principais responsáveis pela queda,
mas depois viu que havia uma
influência forte da agropecuária", afirmou.
Segundo Adário, o governo
só conseguirá segurar uma retomada forte do desmatamento em 2008 se a revisão do Plano de Prevenção e Controle do
Desmatamento, que está sendo
preparada, incluir o chamado
Protocolo Verde -segundo o
qual somente proprietários
que cumprissem uma série de
padrões ambientais teriam direito a financiamento pelos
bancos públicos, como o Banco
do Brasil.
Para Mauro Armelim, do
WWF, a queda por três anos
consecutivos dá ao governo a
oportunidade -rara- de planejar ações para os próximos
anos. Armelim se queixou, por
exemplo, do fato de o governo
não ter criado nenhuma unidade de conservação em 2007,
apesar de várias terem estudos
prontos. Unidades de conservação, na maior parte das vezes, ajudam a segurar o desmate porque desestimulam a grilagem de terras. "Esperamos
que o governo tenha aprendido
com estes três anos para planejar os próximos", afirmou. "Só
que, para planejar, o Brasil precisa ter metas internas de redução do desmatamento." Uma
questão que o governo não
quer abrir.
(CA)
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