São Paulo, sábado, 08 de dezembro de 2007

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Desmate menor não influencia Bali, diz Krug

DO ENVIADO A BALI

Organizações ambientalistas comemoraram ontem a queda de 20% do desmatamento na Amazônia, anunciada na noite de anteontem pelo governo federal. Os delegados brasileiros na Conferência do Clima de Bali, no entanto, disseram que os dados não devem influir na negociação do regime climático pós-2012.
"Não melhora nem piora o rumo das negociações. É um dado bom para o Brasil", disse Thelma Krug, secretária nacional de Mudança Climática do Ministério do Meio Ambiente.
Para Rod Taylor, diretor do Programa de Florestas do WWF, a queda na devastação "cria confiança de que as florestas são parte da solução" para a crise climática, portanto, a cifra de 11.224 km2 -queda pelo terceiro ano consecutivo na taxa de desflorestamento- pode, sim, ser um dado positivo na conferência de Bali.
Os dados do Prodes (sistema que calcula a taxa anual de desmatamento) deverão ser anunciados na semana que vem em Bali pela ministra Marina Silva (Meio Ambiente). O governo esperava vir à conferência na Indonésia com a menor taxa já registrada desde que o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) começou a medi-la, no final dos anos 1980. Dados preliminares projetavam uma taxa de 9.600 km2. Seria a primeira vez que o desmatamento atingiria quatro dígitos.
Mesmo sem a queda esperada, o dado dá respaldo à política do governo brasileiro de incluir reduções verificáveis do desmatamento como o compromisso do Brasil para reduzir emissões de gases de efeito estufa no período pós-2012 e de cobrar verba dos países industrializados num fundo para implementar esse tipo de política em nações tropicais.
O representante da União Européia em Bali Arthur Metzger disse que a queda no desmatamento é uma "boa lição", mas evitou endossar a proposta brasileira -sinalizando que a UE não estaria disposta a colocar dinheiro num fundo sem ganhar em troca créditos por reduções de suas próprias emissões.
Paulo Adário, do Greenpeace, disse que os dados do Inpe são de "dupla leitura": por um lado, mostram que ações do governo de repressão do desmatamento surtiram efeito. Por outro, apesar da queda total, o desmate voltou a crescer após julho, em 2007, devido à alta dos preços das commodities. "Fica claro que há pressão sobre o desmatamento. No começo, a ministra insistia que ações governamentais eram as principais responsáveis pela queda, mas depois viu que havia uma influência forte da agropecuária", afirmou.
Segundo Adário, o governo só conseguirá segurar uma retomada forte do desmatamento em 2008 se a revisão do Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento, que está sendo preparada, incluir o chamado Protocolo Verde -segundo o qual somente proprietários que cumprissem uma série de padrões ambientais teriam direito a financiamento pelos bancos públicos, como o Banco do Brasil.
Para Mauro Armelim, do WWF, a queda por três anos consecutivos dá ao governo a oportunidade -rara- de planejar ações para os próximos anos. Armelim se queixou, por exemplo, do fato de o governo não ter criado nenhuma unidade de conservação em 2007, apesar de várias terem estudos prontos. Unidades de conservação, na maior parte das vezes, ajudam a segurar o desmate porque desestimulam a grilagem de terras. "Esperamos que o governo tenha aprendido com estes três anos para planejar os próximos", afirmou. "Só que, para planejar, o Brasil precisa ter metas internas de redução do desmatamento." Uma questão que o governo não quer abrir. (CA)


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