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No Brasil, discussão é prematura
DA REPORTAGEM LOCAL
Um dos pesquisadores no
Brasil que mais conhece os
efeitos da Ritalina é o argentino Martín Cammarota, da
PUCRS (Pontifícia Universitade Católica do Rio Grande
do Sul). Em parceria com o
neurocientista Iván Izquierdo e outros colegas, ele conduziu o primeiro estudo em
pessoas mostrando o efeito
da droga sobre a persistência
de memórias adquiridas horas atrás. Antes disso, os efeitos conhecidos eram relacionados à atenção.
Ainda assim, Cammarota
disse à Folha que discutir o
uso de Ritalina para desempenho acadêmico é prematuro, sobretudo no Brasil. "O
melhor aprimoramento cognitivo que estudantes brasileiros podem ter é assistir a
aulas de professores que não
ganhem só R$ 200 de salário", afirma. "Essa discussão
toda é um pouco ingênua."
Segundo o neurocientista,
é equivocado chamar a Ritalina de aditivo para a cognição. "O que ela faz é melhorar certas partes do aspecto
de processamento de memória", diz. "Não foi demonstrado ainda que essas drogas
aumentam a cognição, a inteligência. Nenhum burro
vai se converter em um Einstein porque toma dez quilos
de Ritalina toda semana."
Para Cammarota, demonizar o uso de drogas "off label" também não é o caso.
"Eu não negaria a ninguém a
liberdade de tomar Ritalina,
mas diria que a chance de
que isso faça bem a você é
muito pequena se você não
tem nenhuma patologia que
requeira isso."
Uma vez que se tome cautela com a questão da segurança, diz o neurocientista,
não deve haver razão a priori
para a proibição. "Quando
aplico provas aqui, não faço
testes nos alunos para saber
o que eles tomaram antes",
afirma. "Hoje, você pode
conseguir em qualquer lugar
o Viagra, que é uma droga
que também tem efeitos colaterais. Por que não a Ritalina? Hoje em dia, discutir o
sexo é menos tabu do que
discutir a cognição e a inteligência humana."
(RG)
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