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Balão da Nasa "escuta" ruído misterioso no cosmo
Brasileiros participaram da descoberta, que dificulta estudo da origem do Universo
Cientistas do projeto ainda não sabem explicar qual é a fonte exata do estrondo primordial, que abafa sinal das estrelas mais velhas
Nasa/GSFC
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Ilustração reconstitui o voo do balão Arcade, lançado dos EUA
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
O Universo acaba de pregar
uma peça em pesquisadores
brasileiros e americanos. Um
experimento configurado para
medir a energia injetada no
cosmo pelas suas primeiras estrelas, em tese, achou muito
mais do que isso. Em vez do sinal fraco dos primeiros astros,
o Projeto Arcade registrou um
ruído de rádio seis vez maior do
que o previsto. O quebra-cabeça do início do Universo acaba
de ficar muito mais embaralhado, e a detecção das primeiras
estrelas, mais difícil.
"É uma surpresa total. A diferença é grande. Estamos diante
de um desafio totalmente novo", disse à Folha o astrofísico
Thyrso Villela, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). O cientista, ao lado de
Carlos Alexandre Wuensche,
também do Inpe, é um dos autores de quatro artigos científicos submetidos ao periódico
"The Astrophysical Journal"
descrevendo a descoberta.
Os cientistas estão classificando o novo estrondo primordial como algo misterioso porque todas as fontes já conhecidas para esse ruído foram descartadas. Não é um rastro de
nenhuma estrela antiga, de nenhuma fonte cósmica conhecida de ondas de rádio ou muito
menos um resquício de gás de
perto da Via Láctea.
Nem mesmo o resíduo do Big
Bang, a chamada radiação cósmica de fundo (energia "fóssil"
da infância do cosmo -os primeiros cem mil anos), pode estar na fonte do ruído misterioso -por causa da diferença de
intensidade entre ambos.
Grandes ruídos, por sinal,
podem ser boas trilhas para
importantes descobertas. O
eco do Big Bang nos anos 1960,
achado também de forma acidental, rendeu o Nobel de Física (1978) à dupla Arno Penzias
e Robert Wilson.
Tecnologia nacional
A detecção do novo ruído
misterioso também ocorreu
devido a instrumentos confeccionados em São José dos Campos, no Inpe: antenas que captam frequências de rádio de 3, 5
e 7 gigahertz.
Na prática, o Projeto Arcade
obteve todos os resultados processados agora com um único
voo, em 2006. O balão estratosférico da Nasa, no dia 22 de julho, atingiu 37 km de altura por
quatro horas. Os sensores do
equipamento, mergulhados em
aproximadamente 2.000 litros
de hélio, permitem que o sistema funcione próximo do zero
absoluto (-270°C).
Na astrofísica, os cientistas
relacionam a energia de radiação de um corpo com sua temperatura. O balão do Arcade estuda desvios de temperatura de
2,7 Kelvin (-267,3°C) em relação à radiação cósmica de fundo. Esse tipo de radiação primordial, medida há 20 anos,
tem uma temperatura homogênea de -270,25°C.
Nessas diferenças sutis de
temperatura estão as assinaturas cada vez mais "enigmáticas" do início do cosmo.
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