|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Neandertais criaram joias sem ajuda de humanos
Espécie tinha mente capaz de abstração, sugere estudo
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Joias e cosméticos podem
parecer fúteis para algumas
pessoas, mas uma descoberta
anunciada ontem -a de que
neandertais já eram capazes de
produzir esses adereços 50 mil
anos atrás- significa que hominídeos pré-históricos já tinham pensamento simbólico.
Achados na Espanha, os artefatos indicam, que mesmo não
sendo ainda "anatomicamente
moderno", o tão desprezado
neandertal já era, inequivocamente, dotado de "modernidade comportamental", segundo
os autores do estudo, liderado
pelo arqueólogo português
João Zilhão, da Universidade
de Bristol, Reino Unido.
As "joias" eram basicamente
conchas marinhas furadas para
uso em colares. Algumas delas
tinham também pigmentos coloridos, principalmente amarelo e vermelho, que poderiam
ser usados como cosméticos.
Não são os primeiros adereços que são vinculados a neandertais; mas as descobertas anteriores eram controversas por
vários motivos. Há quem argumenta que a vinculação em determinados sítios seria resultado de mistura de material de
camadas diferentes do solo.
O argumento mais ofensivo
aos neandertais era que eles teriam "copiado" as joias dos seres humanos anatomicamente
modernos que saíram da África, durante um período de convivência que se deu na Europa
de 40 mil a 30 mil anos atrás.
Mas os novos achados, artefatos de até 50 mil anos, derrubam essa hipótese. O estudo,
assinado por Zilhão e outros 17
cientistas, está publicado na revista científica "PNAS".
Os dois sítios arqueológicos
onde foi feita a descoberta,
Cueva de los Aviones e Cueva
Antón, em Murcia. Em Aviones, uma caverna que na época
da ocupação humana distava
até 1,7 km do mar, foram achadas conchas de moluscos perfuradas ao lado de restos de corantes amarelo e vermelho.
Já em Antón, um abrigo de
pedra a 60 km da costa, foi
achada uma concha perfurada
pintada em seu lado externo de
branco com cor de laranja.
Zilhão conclui que as descobertas são evidência contra a
ideia de que os genes dos hominídeos determinavam seu comportamento: o que importava
eram as interações sociais.
Texto Anterior: Ensaio clínico: imunizante contra a doença entra em teste no Havaí Próximo Texto: Arqueólogos encontram mais antiga escritura em hebraico Índice
|