São Paulo, quinta-feira, 09 de fevereiro de 2006

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RUMO AO ESPAÇO

Devido a adiantamento da missão, brasileiro terá pouco tempo para praticar com experimentos que levará em nave russa

Prazo de treino preocupa, diz astronauta

Tuca Vieira/Folha Imagem
O tenente-coronel Marcos Cesar Pontes em simulador da espaçonave russa Soyuz, na Cidade das Estrelas (arredores de Moscou)


SALVADOR NOGUEIRA
ENVIADO ESPECIAL A MOSCOU

Apesar de todo o esforço feito pelo governo brasileiro para promover a primeira missão de um brasileiro no espaço antes das eleições, o astronauta Marcos Cesar Pontes, 42, quer despolitizar seu vôo à ISS (Estação Espacial Internacional), marcado para o próximo dia 30 de março.
"Não é minha função trabalhar com a área política", disse Pontes à Folha, por telefone, depois do fim da visita dos jornalistas à Cidade das Estrelas, centro de treinamento de cosmonautas nas cercanias de Moscou, ontem. "Minha preocupação é com a parte operacional e científica, e essa não tem como ser usada politicamente", complementou.
O astronauta brasileiro terá três oportunidades, durante sua visita de dez dias à órbita terrestre, para realizar teleconferências ao vivo. Na primeira delas, ele falará com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. As outras duas ainda não estão bem definidas, mas provavelmente envolverão jornalistas e perguntas do público.
O início das negociações com a Rússia para o lançamento de Pontes numa nave Soyuz tinha a janela de outubro de 2006 como data mais adequada. "Eu estava esperando [voar] em outubro, quando veio em março eu fiquei muito feliz", afirma o astronauta brasileiro. "Mas eu não sei por que aconteceu isso." A Folha apurou que a mudança, adiantando o vôo, ocorreu por escolha do governo brasileiro, motivada pelas eleições de outubro.
Isso encurtou enormemente o tempo de preparação para a missão na Cidade das Estrelas; às vezes leva-se até 13 meses para preparar uma tripulação para vôo. No caso de Pontes, o período foi de pouco mais de cinco meses, desde outubro de 2005.
A pressa levou à criação de um calendário muito apertado para o treinamento. Ao fazer um teste de sobrevivência na neve, por exemplo, Pontes teve de concluí-lo em um dia, quando o normal são três. Além disso, o tempo também é escasso para a preparação dos experimentos brasileiros que voarão com o astronauta para a estação. Até agora, menos de dois meses antes do vôo, a configuração final das experiências ainda não foi definida. Uma delas foi cancelada, pela impossibilidade de adequá-la aos requisitos do complexo orbital internacional.
Ainda não há na agenda de Pontes dias marcados para que ele (ou o comandante da missão, Pavel Vinogradov, que também tem essa obrigação) treine a execução dos experimentos. "Eu estou apreensivo com isso, aguardando esse treinamento", diz.
José Sérgio de Almeida, responsável pelo Laboratório de Simulação Espacial do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), disse que um funcionário do Inpe ou do IAE irá para a Rússia com as instruções e os experimentos e treinará Pontes durante uma semana. "Com certeza é tempo mais do que suficiente", afirmou.

Fome Zero
Pontes também desassocia sua imagem do envio de fitas do Senhor do Bonfim e outras peças para futura venda, como planejado pelo governo brasileiro como forma de alavancar verbas para o programa Fome Zero. "Essa é uma carga institucional, eu nem estou sabendo o que vai", diz. "Minha carga pessoal, de 1,5 kg, eu ainda nem defini completamente. Estou elaborando a lista."
Também já foi definido mais um item na lista de despesas do vôo do astronauta. Segundo Pontes, o governo pagará um seguro de vida no valor de US$ 1 milhão, para o caso de o brasileiro não sobreviver à missão. O valor, ainda de acordo com o astronauta, é o padrão acordado pelos 16 países participantes do programa da ISS para todos os tripulantes que embarcam no complexo.


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