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ESPAÇO
Plano de 20 meses para lançamento do VLS-1 é negociado pelo Ministério da Defesa sem consulta à agência espacial
Russos farão revisão de foguete brasileiro
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando apresentar o relatório
da investigação do acidente que
matou 21 pessoas em Alcântara, o
Ministério da Defesa também deve revelar a solução que encontrou para lançar o quarto protótipo do VLS-1 (Veículo Lançador
de Satélites) até 2006, como prometido pelo presidente da República: pedir socorro aos russos.
Um acordo entre autoridades
brasileiras e russas já está em fase
de discussão para implementação, e reuniões de engenheiros estrangeiros com gerentes do projeto do lançador têm acontecido repetidas vezes no IAE (Instituto de
Aeronáutica e Espaço) do CTA
(Centro Técnico Aeroespacial),
entidade militar responsável pelo
desenvolvimento do VLS-1.
Segundo a Folha apurou, o projeto envolve um trabalho planejado para durar 20 meses -cumprindo a meta de lançar o foguete
ainda no mandato de Luiz Inácio
Lula da Silva, a despeito das perdas humanas e materiais causadas pelo acidente, ocorrido em 22
de agosto do ano passado.
Os quatro primeiros meses envolverão um trabalho de revisão
crítica do projeto, em que os russos poderão fazer sugestões de alterações em alguns dos elementos
do veículo lançador nacional. Por
esse trabalho de revisão dos sistemas, o governo brasileiro desembolsará cerca de US$ 1 milhão.
A ele se seguirá um trabalho
continuado de preparação dos
elementos para o lançamento, feito totalmente sob supervisão russa. Envolverá treinamento de técnicos responsáveis pela montagem e pelos testes das partes do
veículo, revisão dos procedimentos de operações e até a inclusão
de itens de bloqueio do acionamento intempestivo do mecanismo acionador dos motores.
Foi justamente o disparo prematuro de um dos motores do
primeiro estágio, por uma corrente elétrica de origem desconhecida, que causou o acidente
no Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão. Os 21 técnicos e engenheiros que trabalhavam na plataforma de lançamento foram incinerados quando o
acionamento do motor levou à
queima de todos os estágios do foguete, abarrotados por 41 toneladas de combustível sólido. Torre
de integração, lançador e satélites
em seu interior foram destruídos.
Era consenso entre especialistas
que não seria possível repor as
perdas e corrigir os problemas do
programa em tempo para realizar
um novo lançamento em 2006. O
plano de pagar pelo auxílio russo
contorna essas dificuldades, mas
deixa dúvidas sobre se os reais
problemas circundando as falhas
do VLS serão solucionados.
O relatório da investigação, já
concluído sob a coordenação do
brigadeiro-do-ar Marco Antonio
Couto do Nascimento, apontará
uma série de falhas na observância de procedimentos de segurança durante a preparação do terceiro protótipo do VLS, o que acabou levando à catástrofe.
O documento também trará sugestões para aprimorar o programa. Mas não terá uma causa exata
para o acidente -o que reforça a
necessidade de corrigir as falhas
gerenciais e estruturais do programa, que é supostamente civil,
mas está sob comando militar,
numa instituição militar.
A AEB (Agência Espacial Brasileira), que em tese deveria coordenar as atividades do programa espacial, não participou, nem foi
notificada, das negociações que
trouxeram os russos para a revisão e o desenvolvimento do quarto protótipo do VLS-1. Todas as
tratativas foram conduzidas pelo
Ministério da Defesa.
Segundo a Folha apurou na
agência brasileira, ela só está participando das discussões de um
projeto de cooperação mais amplo com os russos no futuro desenvolvimento de veículos lançadores. Seria um projeto de longo
prazo, com duração de mais de
uma década, envolvendo cifras na
casa das centenas de milhões de
dólares. Estaria contemplado aí o
futuro da série VLS, com o desenvolvimento de sucessores do primeiro lançador brasileiro, fazendo uso de tecnologias mais sofisticadas de propulsão líquida.
Por ora, o relatório da investigação segue em repouso na mesa do
ministro da Defesa José Viegas,
após ter sido levado a Brasília em
18 de fevereiro. "A última notícia
que eu tive era da expectativa de ir
a Brasília na quinta ou na sexta-feira após o Carnaval, para fazermos uma apresentação", diz Luciano Varejão, um dos membros
da comissão. "Mas não ouvi mais
nada desde então. Estou achando
até estranho esse negócio. Estou
tão ansioso quanto vocês."
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