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NEUROCIÊNCIA
Estudo usou celulose de consistência viscosa
Centros de recompensa no cérebro ignoram ingestão de falsa gordura
RICARDO BONALUME NETO
ENVIADO ESPECIAL A NATAL
O organismo humano é viciado
em comer gordura. Mas um estudo feito por um brasileiro no Reino Unido mostra que não adianta
tentar enganar a pessoa usando
uma falsa gordura. O cérebro não
se deixa ludibriar e continua clamando pelo alimento que, em excesso, causa problemas variados.
"Com a gordura, os sinais de saciedade parecem não funcionar",
diz Ivan Eid de Araújo, 32, pesquisador da Universidade Oxford. "E
não está claro na teoria como se
dá o controle do apetite pelo sistema nervoso central."
Araújo decidiu testar se haveria
um aspecto sensorial ligado ao tema. As pessoas tendem a usar a
viscosidade e a textura para identificar o grau de "gordurice" de
um alimento. Por isso, ele optou
por usar em seus experimentos
com voluntários uma espécie de
celulose comestível com alto grau
de viscosidade, que as pessoas associavam com gordura.
O estudo foi apresentado no 1º
Simpósio de Neurociências de
Natal, encerrado anteontem.
Além de não ter gosto nem cheiro, a substância podia ter seu grau
de viscosidade alterado de acordo
com a necessidade do experimento. Um óleo de cozinha tradicional -ou seja, gordura de verdade- também foi usado.
Araújo mapeou o local do cérebro estimulado pelo consumo
desses alimentos usando o método já clássico de ressonância magnética funcional, que permite visualizar quais pontos estão ativos.
Duas áreas responderam à gordura, o córtex pré-frontal ventromedial e o estriado ventral. "São
áreas ligadas à recompensa", diz
Araújo. Ou seja, o cérebro interpreta a gordura como algo bom. E
se comporta como um viciado:
quanto mais, melhor.
Essa atração se explica pela evolução humana. Na pré-história
era muito mais difícil a obtenção
de alimentos de alto teor energético. Havia estímulo para o corpo
humano evoluir achando que
gordura era algo importante.
Já a falsa gordura não ativou as
mesmas regiões, apesar de parecer mais adiposa que a gordura
verdadeira. "As áreas de recompensa não apareceram para a simples viscosidade", diz o pesquisador. Apesar de a pessoa achar que
estava comendo gordura, seu cérebro não se deixou enganar.
A indústria de alimentos tem interesse em conseguir compostos
que simulem a gordura e seus
efeitos nos circuitos de recompensa, sem efeito colateral.
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