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Clínica não descarta células preservadas por temor de problemas com a Justiça
JOHANNA NUBLAT
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Três anos depois de sancionada a Lei de Biossegurança,
são poucas as clínicas de reprodução que enviam embriões excedentes para estudo. Eles permanecem congelados por falta
de autorização dos genitores,
desconhecimento de quais são
as pesquisas "sérias" no país e
receio de problemas jurídicos.
O total de embriões conservados nas 15 maiores clínicas
do país chegava a 9.914 em
2005, segundo o último levantamento da SBRA (Sociedade
Brasileira de Reprodução Assistida). Deles, 3.219 estavam
congelados por pelo menos três
anos -exigência necessária para encaminhá-los à pesquisa.
Seis desses embriões congelados são da agricultora Marta
Helena Somilio, 45, de Olímpia
(SP). Ela já teve dois filhos e
afirma não querer mais engravidar. Mesmo assim, diz que vai
"tomar coragem um dia" para
inseri-los em seu útero.
"Não quero doar para pesquisa, não me sentiria sossegada
com isso. É como se eu tivesse
um pouco da minha família
congelada", disse.
A posição de Somilio é repetida por muitas pacientes de clínicas de reprodução que optam
por não mandar os embriões
para pesquisa.
A médica Silvana Chedid, da
clínica Chedid Grieco, diz que
só conseguiu, até hoje, autorização de dois casais e que, por
isso, nunca doou os embriões
para estudo. "Conheço um grupo de pesquisadores sério, o
problema é que os casais não
querem fazer a doação, o que é
uma pena. Os embriões estão
aqui sem ajudar ninguém e
dando despesa", afirmou.
O índice de doação para pesquisa também é baixo no centro de reprodução Franco Júnior, de Ribeirão Preto (SP),
que reunia o maior número de
embriões congelados em 2005.
Até hoje, apenas 55 casais deram a autorização para que
seus embriões fossem doados.
O diretor da clínica, José
Gonçalves Franco Júnior, diz,
no entanto, que a receptividade
das pacientes à pesquisa é grande, o que falta é estímulo.
Maria do Carmo Borges de
Souza, ex-presidente da SBRA,
também reclama da falta de interesse por parte de grupos de
pesquisa. "Temos vários casais
que assinaram termo dizendo
que doam para pesquisa, mas
precisamos ter um grupo de
pesquisa que diga que tem um
trabalho registrado e que venha
buscá-los", disse.
Uma última razão pela qual
clínicas deixam de oferecer
seus embriões para estudo é o
medo de ser questionada legalmente -apesar de o casal ter de
autorizar por escrito a doação.
É o caso do Hospital Pérola
Byington, em SP.
"É um serviço público, a exposição é grande e o gerenciamento disso é muito difícil.
Preferimos nem ter embriões
excedentes por questões administrativas. Já tivemos caso de
uma paciente que nos acusou
de ter perdido os embriões",
afirmou Mario Cavagna, diretor de reprodução humana do
hospital paulista.
Interesse nos embriões
Um dos poucos grupos de
pesquisa que utilizam embriões brasileiros é o da professora Lygia da Veiga Pereira, da
USP. Ela trabalha para desenvolver linhagens brasileiras de
células-tronco -o que nunca
foi feito no país.
Os embriões que ela utiliza
saem da clínica Fertility, de São
Paulo, onde, segundo o médico
Edson Borges, a aceitação das
pacientes à doação para pesquisa é grande.
Pereira diz que, nos últimos
anos, descongelou "dezenas"
de embriões, mas conseguiu
que apenas onze se desenvolvessem até o estágio necessário
à pesquisa. A maior parte dos
embriões excedentes não resiste ao descongelamento e tem
qualidade inferior aos utilizados no processo de reprodução.
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