São Paulo, segunda-feira, 09 de março de 2009

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Andar alto sofre mais com ozônio em SP

Estudo mostra que, em área com alta densidade de prédios, concentração do gás poluente é maior no topo dos edifícios

Morador do térreo, porém, é mais atacado por óxidos de nitrogênio e monóxido de carbono; dados saíram de medição no centro da cidade

AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL

Quem mora nos andares altos dos prédios em São Paulo tem a vantagem de manter os pulmões um pouco mais afastados do material particulado exalado pelos escapamentos dos carros. Um novo estudo, porém, mostra que nas áreas com grandes concentrações de edifícios essas pessoas estão mais suscetíveis a um outro tipo de poluente: o ozônio (O3).
A conclusão veio de uma medição da distribuição vertical desse gás realizada pelo LPAE (Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental), ligado à Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo). O ozônio é hoje o poluente que mais preocupa os órgãos ambientais e o que mais tem provocado dias com qualidade do ar ruim no Estado.
Um prédio de 19 andares na região da República, no centro da capital paulista, foi usado no estudo. A medição ocorreu no lado externo do prédio.
Enquanto a média diária de concentração no térreo foi de 22,89 microgramas de O3 por metro cúbico, no 4º andar foi de 38,35 e no 19º andar foi de 58,82 (veja quadro à direita). Já a concentração de dióxido de nitrogênio NO2, um outro poluente, se reduz com a altitude.
Segundo a bióloga Ana Julia Lichtenfels, que executou o estudo do LPAE. A concentração maior de ozônio no alto se deve ao fato de que a substância depende de luz solar para se formar. Em áreas com grande concentração de prédios, há muita sombra nas partes mais baixas, por isso o ozônio persegue quem está no alto. "É ilusão achar que, ao estar longe dos carros, as pessoas estão protegidas da poluição", diz.
Maria Helena Martins, gerente da divisão de qualidade do ar da Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental), diz que o resultado do estudo do LPAE faz sentido.
"Medições no pico do Jaraguá também encontraram alta concentração de ozônio", diz. Ela explica que os óxidos de nitrogênio -que formam O3 na presença de luz solar- por outro lado também podem reagir com o ozônio, destruindo-o. Por isso, perto dos carros a concentração do O3 é menor.
A pesquisa também mapeou como a poluição se manifesta horizontalmente em uma rua transversal ao Minhocão, via expressa elevada que liga o centro ao oeste de São Paulo. Junto à via suspensa, onde há muitos poluentes emitidos pelos carros, a concentração de ozônio é menor do que em trechos um pouco mais afastados, nas ruas perpendiculares.
A pesquisa não teve o objetivo de verificar se os valores de concentração dos poluentes ultrapassaram o padrão de qualidade do ar. Como o estudo observou as concentrações cumulativas ao longo de uma semana, não era possível registrar as oscilações e, consequentemente, os picos de concentração de poluição no período.
Diferentemente de quem mora em andares altos, quem está perto dos veículos sofre mais diretamente os efeitos de outros poluentes: material particulado, monóxido de carbono e óxidos de nitrogênio. "Por isso, desaconselhamos a correr em locais como a avenida Sumaré, muito próximo aos escapamentos", diz Martins.

Luta de classes
O médico Paulo Saldiva, mentor do trabalho no LPAE, apelidou o novo estudo de "luta de classes", alusão ao fato de apartamentos altos serem mais valorizados. A diferença da concentração de ozônio do térreo até o 15º andar, porém, pode ser um acréscimo de 100%.
"Este fato acrescenta uma nova complexidade para a determinação dos efeitos dos poluentes secundários. Por exemplo, mesmo que uma estação fixa de monitoramento de poluentes indique baixos níveis de ozônio, as concentrações deste poluentes podem ser significativamente mais elevadas a cerca de cem metros nos planos horizontal e vertical", diz.
Lichtenfels defende que medições como essa sejam feitas em outras regiões, e diz que observar a saúde de plantas ajudaria a medir o mal da poluição à saúde. Há um vegetal, o coração-roxo, que pode ser usado como monitor biológico. "Podemos verificar os efeitos mutagênicos na planta, principalmente na reprodução, e comparar com um grupo controle não exposto ao poluente", diz.


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