São Paulo, terça-feira, 09 de maio de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Próximo Texto | Índice

GENÉTICA
Dados poderão resultar em novas formas de tratamento da doença
Grupo decifra cromossomo da síndrome de Down

ISABEL GERHARDT
DA REPORTAGEM LOCAL

O cromossomo humano 21 já tem sua sequência de DNA totalmente conhecida, anunciou ontem o consórcio público do Projeto Genoma Humano.
Esse cromossomo é importante porque uma cópia extra na célula provoca a síndrome de Down, a causa genética mais frequente de retardamento mental, que afeta 1 em cada 700 recém-nascidos.
O cromossomo 21 é o segundo cromossomo a ter seu sequenciamento finalizado. O primeiro foi o cromossomo 22, completado em dezembro do ano passado, também pelo consórcio público.
O final do sequenciamento revelou que ele contém 225 genes, 127 conhecidos e 98 que ainda terão sua função determinada. Em comparação ao cromossomo 22, que tem 545 genes e quase o mesmo tamanho, o 21 parece ter grandes pedaços que aparentemente não servem para nada.
"A sequência completa e a listagem dos seus genes deverão permitir o desenvolvimento de novos tratamentos para os pacientes com síndrome de Down", disse Yoshiyuki Sakaki, diretor do grupo japonês do Projeto Genoma Humano, em entrevista à Folha.
Segundo Sakaki, metade do sequenciamento do cromossomo 21 foi feito no seu laboratório, no Centro de Ciências Genômicas Riken, em Tóquio.

Menos genes
Cada célula humana tem 23 pares de cromossomos. Neles estão contidos os genes, que são como receitas para a produção das proteínas que determinam as funções e características dos organismos.
O 21 é o menor de todos, com 33,8 milhões de pares de bases -as letras A, C, G e T, que formam o DNA-, o que equivale a cerca de 1% do genoma.
O número total de genes humanos inicialmente estimado era de 70 mil. Tomando-se a média de genes presentes no dois cromossomos já sequenciados, o número de genes deve ser menor, em torno de 40 mil.
Segundo o estudo, que será publicado na revista "Nature" da semana que vem, os pesquisadores conseguiram sequenciar 99,7% do cromossomo, sobrando três pequenas lacunas, que juntas correspondem a não mais do que 100 mil pares de bases.
O sequenciamento do cromossomo 21 foi obra do consórcio de instituições públicas internacionais reunidas no Projeto Genoma Humano, que concorre com a empresa privada Celera pela finalização do sequenciamento de todo o genoma ainda este ano.
A maior parte da sequência do cromossomo 21 foi decifrada por grupos de pesquisa de dois países: Japão e Alemanha.
"Devido à sua importância, há cinco anos formamos uma parceria entre alemães e japoneses para mapear e sequenciar esse cromossomo", afirmou Sakaki, que deverá participar do encontro sobre o cromossomo 21 e a síndrome de Down, que ocorre em setembro deste ano nos EUA e é organizado por um pesquisador brasileiro que conduz estudos sobre a doença (leia texto abaixo).
Apesar do próximo alvo de Sakaki ser o final do sequenciamento de outro cromossomo, o 11, o cientista disse que gostaria de participar dos estudos moleculares sobre a síndrome de Down.
"O foco principal será entender a função dos genes envolvidos no desenvolvimento do sistema nervoso central. Isso levará alguns anos", declarou.


Próximo Texto: Menos genes são boa notícia
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.