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SAÚDE
Procedimento desenvolvido no Instituto Butantan pode levar à construção da 1ª fábrica nacional de derivados do sangue
Técnica impulsiona droga anti-hemofilia
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Pesquisadores brasileiros desenvolveram um novo método
para realizar o processamento de
sangue e a separação de substâncias para uso no tratamento de
hemofilia. Segundo os cientistas, a
tecnologia pode fazer com que o
país construa a mais moderna
planta de hemoderivados (produtos obtidos a partir do processamento de sangue doado por voluntários) do mundo.
Isaias Raw, diretor do Instituto
Butantan, órgão responsável pelo
desenvolvimento da tecnologia,
tem reunião marcada para hoje
com o ministro Humberto Costa
(Saúde). Os dois devem se encontrar na sede da Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, no
lançamento do seminário Inovação em Saúde. Raw entregará ao
ministro uma versão atualizada
do projeto, com potencial para
substituir parte das importações
de hemoderivados do Brasil.
A técnica desenvolvida pelos
pesquisadores do Butantan, em
São Paulo, consegue separar o
chamado fator 8, uma substância
contida no sangue que estimula a
coagulação e que o organismo das
vítimas de hemofilia tipo A não é
capaz de produzir.
Diferentemente dos métodos
antigos, ela não precisa de temperaturas abaixo de zero grau Celsius e centrífugas para realizar a
separação. Em vez disso, lança
mão de um recurso conhecido como cromatografia. Segundo Raw,
só o Butantan e a gigante sueca
Pharmacia dominam a técnica.
A tecnologia da companhia européia ainda não foi aplicada em
nenhuma planta de processamento de hemoderivados. Se o
Brasil decidir construir a fábrica
no Butantan, como consta da proposta original que Raw apresenta
hoje ao governo, pode ser a primeira no mundo a empregar essa
técnica para o processamento de
todos os derivados do sangue.
A cromatografia consiste no uso
de tubos que separam os diferentes componentes do sangue a partir dos ritmos diferentes em que
eles decantam (se depositam no
fundo) ou se movem, impulsionados por um campo elétrico.
Além de não exigir temperatura
abaixo de zero para funcionar, o
que torna sua operação muito
mais barata, o sistema ainda é
duas vezes mais eficiente que o
método de crioprecipitação -o
esquema tradicional de processamento de hemoderivados.
Ele também impede a sobrevivência de vírus como o da Aids
que estejam presentes no sangue
dos doadores, evitando contaminação -e tragédias como a recentemente revelada envolvendo
a Bayer (leia texto à esq.).
Segundo Raw, o Brasil não possui hoje fábricas de produtos derivados do sangue. Houve uma
planta instalada em Recife, que
acabou fechada por problemas de
contaminação, diz o pesquisador.
Pernambuco ainda pretende
promover a construção de uma
nova planta, com transferência de
tecnologia estrangeira.
Em todo caso, a maior demanda
pelos hemoderivados está no sul
do país, de modo que, segundo
Raw, faz sentido montar uma fábrica em São Paulo. "E aqui no
Butantan já temos toda a mão-de-obra treinada", afirma.
O projeto está sendo pensado
como uma parceria entre o Ministério da Saúde e a Secretaria da
Saúde do Estado de São Paulo, e a
iniciativa mais forte tem partido
do governo estadual. O total de
investimentos seria da ordem de
R$ 100 milhões. "Se recebermos o
sinal verde, em 12 a 18 meses podemos iniciar as operações", diz o
diretor do Butantan.
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