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São Paulo, segunda-feira, 09 de junho de 2003

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SAÚDE

Procedimento desenvolvido no Instituto Butantan pode levar à construção da 1ª fábrica nacional de derivados do sangue

Técnica impulsiona droga anti-hemofilia

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Pesquisadores brasileiros desenvolveram um novo método para realizar o processamento de sangue e a separação de substâncias para uso no tratamento de hemofilia. Segundo os cientistas, a tecnologia pode fazer com que o país construa a mais moderna planta de hemoderivados (produtos obtidos a partir do processamento de sangue doado por voluntários) do mundo.
Isaias Raw, diretor do Instituto Butantan, órgão responsável pelo desenvolvimento da tecnologia, tem reunião marcada para hoje com o ministro Humberto Costa (Saúde). Os dois devem se encontrar na sede da Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, no lançamento do seminário Inovação em Saúde. Raw entregará ao ministro uma versão atualizada do projeto, com potencial para substituir parte das importações de hemoderivados do Brasil.
A técnica desenvolvida pelos pesquisadores do Butantan, em São Paulo, consegue separar o chamado fator 8, uma substância contida no sangue que estimula a coagulação e que o organismo das vítimas de hemofilia tipo A não é capaz de produzir.
Diferentemente dos métodos antigos, ela não precisa de temperaturas abaixo de zero grau Celsius e centrífugas para realizar a separação. Em vez disso, lança mão de um recurso conhecido como cromatografia. Segundo Raw, só o Butantan e a gigante sueca Pharmacia dominam a técnica.
A tecnologia da companhia européia ainda não foi aplicada em nenhuma planta de processamento de hemoderivados. Se o Brasil decidir construir a fábrica no Butantan, como consta da proposta original que Raw apresenta hoje ao governo, pode ser a primeira no mundo a empregar essa técnica para o processamento de todos os derivados do sangue.
A cromatografia consiste no uso de tubos que separam os diferentes componentes do sangue a partir dos ritmos diferentes em que eles decantam (se depositam no fundo) ou se movem, impulsionados por um campo elétrico.
Além de não exigir temperatura abaixo de zero para funcionar, o que torna sua operação muito mais barata, o sistema ainda é duas vezes mais eficiente que o método de crioprecipitação -o esquema tradicional de processamento de hemoderivados.
Ele também impede a sobrevivência de vírus como o da Aids que estejam presentes no sangue dos doadores, evitando contaminação -e tragédias como a recentemente revelada envolvendo a Bayer (leia texto à esq.).
Segundo Raw, o Brasil não possui hoje fábricas de produtos derivados do sangue. Houve uma planta instalada em Recife, que acabou fechada por problemas de contaminação, diz o pesquisador.
Pernambuco ainda pretende promover a construção de uma nova planta, com transferência de tecnologia estrangeira.
Em todo caso, a maior demanda pelos hemoderivados está no sul do país, de modo que, segundo Raw, faz sentido montar uma fábrica em São Paulo. "E aqui no Butantan já temos toda a mão-de-obra treinada", afirma.
O projeto está sendo pensado como uma parceria entre o Ministério da Saúde e a Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo, e a iniciativa mais forte tem partido do governo estadual. O total de investimentos seria da ordem de R$ 100 milhões. "Se recebermos o sinal verde, em 12 a 18 meses podemos iniciar as operações", diz o diretor do Butantan.



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