São Paulo, quarta-feira, 09 de junho de 2004

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ASTRONOMIA

Fenômeno que jamais havia sido visto por um ser humano vivo hoje foi visível na maior parte do planeta

Passeio de Vênus diante do Sol exerce fascínio na Terra

Ali Jarekji/Reuters
Beduínos acompanham o trânsito de Vênus pelo Sol na cidade desértica de Azraq, na Jordânia


SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O mundo parou ontem para ver Vênus desfilar na frente do Sol. Em apenas oito horas, o site do ESO (Observatório Europeu do Sul) criado para acompanhar o trânsito planetário, www.vt-2004.org, transmitiu a seus visitantes um total de aproximadamente 1,5 terabytes -informação equivalente a 1.500 edições completas da "Encyclopaedia Britannica".
O site foi uma das principais referências para o acompanhamento do fenômeno. De tão raro, ele nunca havia sido testemunhado por nenhum ser humano vivo atualmente. A última ocorrência havia sido em 1882, quando os astrônomos aproveitaram a ocasião para estimar a distância entre a Terra e o Sol.
A título de curiosidade, observadores repetiram o experimento, coordenados pelo ESO. Até a noite de ontem, 1.689 observadores haviam reportado seus dados, de um total de 2.108 participantes inscritos. A estimativa obtida até aquele momento da distância Terra-Sol era de 149.594.745 km, apenas 3.125 km aquém do valor adotado pela União Astronômica Internacional (erro de 0,002%).
O método para determinar a distância Terra-Sol a partir do trânsito de Vênus consiste em estimar a variação da posição solar no céu em várias partes do globo. Com um grande número de observadores, coordenados pela internet, esse foi o maior e mais preciso experimento do tipo já feito. Em 1882, a margem de erro ficava em 1 milhão de quilômetros.
O fenômeno só foi visível, do começo ao fim, na Europa e na maior parte da África e da Ásia. Na maioria das regiões na América do Sul e em parte da América do Norte, assim como no leste asiático e na Oceania, a visão foi parcial. Metade da América do Norte e as ilhas do Pacífico ficaram totalmente excluídas do espetáculo -uma região grande, mas menos populosa. O fenômeno esteve visível para cinco em cada seis habitantes da Terra.
Quem pôde ver, viu. No Brasil, nos locais onde o tempo não esteve nublado, logo pela manhã (o evento durou até aproximadamente 8h30, horário de Brasília), deu para ver uma mancha circular escura sobre o Sol, com um trigésimo do tamanho do disco solar. A observação, no entanto, exigiu o uso de filtros, para reduzir o brilho ofuscante da estrela.
A companhia aérea escandinava SAS chegou a distribuir óculos especiais para 3.500 passageiros em vôos regionais para ver o trânsito de Vênus durante a viagem.
No Observatório Real de Greenwich, no Reino Unido, mais de cem pessoas se reuniram para acompanhar o fenômeno, munidas de câmeras e telescópios.
No Egito, grupos de alunos testemunharam a passagem de Vênus ao pé das pirâmides. E, na Austrália, onde somente o início do fenômeno foi visível, no final da tarde, dezenas de astrônomos amadores se reuniram para acompanhar o evento.
A próxima oportunidade para observar um trânsito de Vênus pelo Sol vai acontecer em 2012, mas não será visível no Brasil. Depois disso, somente em 2117 e em 2125. O fenômeno sempre se repete aos pares, a cada 122 anos.

Com agências internacionais

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