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Novo fóssil complica evolução humana
Cientistas do Quênia mostram que espécie de hominídeo tida como ancestral de outra na verdade foi sua vizinha
Hipótese de que o "Homo
habilis" teve como sucessor
o "H. erectus" está em xeque;
para cientistas, os grupos
podem ter origem comum
DA FRANCE PRESSE
É verdade que o Homo habilis
- dentro da escala evolutiva, a
espécie humana mais antiga
que se conhece - teve como
sucessor o Homo erectus. Mas
isso não significa, segundo estudo publicado hoje na revista
"Nature", que eles não ocuparam ao mesmo tempo parte do
solo da África oriental, como
acreditavam os cientistas.
Dois novos fósseis descobertos por um grupo internacional
encabeçado por Fred Spoor, do
University College de Londres,
na borda do lago Turkana, no
Quênia, são as peças responsáveis por embaralhar a história
da evolução humana na África.
De um lado, um fragmento
de uma mandíbula superior de
H. habilis. O mais recente osso
achado dessa espécie até hoje.
A datação mostra que ele tem
1,44 milhão de anos.
No outro, um crânio de H.
erectus em muito bom estado
de conservação. A peça, curiosamente, é mais antiga, ela tem
1,55 milhão de anos.
Para Meave Leakey, dos Museus Nacionais do Quênia, a líder do estudo, ambas espécies
de hominídeo chegaram a viver
simultaneamente na África por
cerca de 500 mil anos. Isso contraria a hipótese mais aceita
hoje, de que o H. habilis teria se
extinguido antes.
Meave é nora de Mary e
Louis Leakey (1903-1972), o
descobridor Paranthropus boisei, hominídeo que coexistiu
com o gênero Homo e não deixou descendentes.
A cronologia evolutiva construída até agora pela ciência
mostra que o H. habilis havia
surgido há 2,5 milhões de anos
e desaparecido há 1,8 milhão de
anos, época em que teria surgido o H. erectus.
Os primeiros ossos dessa espécie foram estudados em
1891, na Ásia. Eles tinham 800
mil anos. Mas, durante o século
20, ossos muito mais antigos
do grupo foram encontrados.
Para os pesquisadores, a descoberta publicada hoje embaralha parte da história evolutiva humana. Esses fósseis tornam "pouco provável" a hipótese de que uma espécie tenha
descendido da outra.
Os investigadores acreditam
agora que ambas as espécies
podem ter se desenvolvido a
partir de um ancestral comum,
que teria entre 2 milhões e 3
milhões de anos.
O problema agora, segundo
os autores do estudo, passa a
ser encontrar fósseis dessa
época. E isso não tem sido fácil,
dizem os pesquisadores.
Assim como gorilas e chimpanzés ainda hoje compartilham zonas comuns, o mesmo
pode ter ocorrido no passado,
segundo os estudiosos.
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