São Paulo, quinta-feira, 09 de agosto de 2007

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Novo fóssil complica evolução humana

Cientistas do Quênia mostram que espécie de hominídeo tida como ancestral de outra na verdade foi sua vizinha

Hipótese de que o "Homo habilis" teve como sucessor o "H. erectus" está em xeque; para cientistas, os grupos podem ter origem comum

DA FRANCE PRESSE

É verdade que o Homo habilis - dentro da escala evolutiva, a espécie humana mais antiga que se conhece - teve como sucessor o Homo erectus. Mas isso não significa, segundo estudo publicado hoje na revista "Nature", que eles não ocuparam ao mesmo tempo parte do solo da África oriental, como acreditavam os cientistas.
Dois novos fósseis descobertos por um grupo internacional encabeçado por Fred Spoor, do University College de Londres, na borda do lago Turkana, no Quênia, são as peças responsáveis por embaralhar a história da evolução humana na África.
De um lado, um fragmento de uma mandíbula superior de H. habilis. O mais recente osso achado dessa espécie até hoje. A datação mostra que ele tem 1,44 milhão de anos.
No outro, um crânio de H. erectus em muito bom estado de conservação. A peça, curiosamente, é mais antiga, ela tem 1,55 milhão de anos.
Para Meave Leakey, dos Museus Nacionais do Quênia, a líder do estudo, ambas espécies de hominídeo chegaram a viver simultaneamente na África por cerca de 500 mil anos. Isso contraria a hipótese mais aceita hoje, de que o H. habilis teria se extinguido antes.
Meave é nora de Mary e Louis Leakey (1903-1972), o descobridor Paranthropus boisei, hominídeo que coexistiu com o gênero Homo e não deixou descendentes.
A cronologia evolutiva construída até agora pela ciência mostra que o H. habilis havia surgido há 2,5 milhões de anos e desaparecido há 1,8 milhão de anos, época em que teria surgido o H. erectus.
Os primeiros ossos dessa espécie foram estudados em 1891, na Ásia. Eles tinham 800 mil anos. Mas, durante o século 20, ossos muito mais antigos do grupo foram encontrados.
Para os pesquisadores, a descoberta publicada hoje embaralha parte da história evolutiva humana. Esses fósseis tornam "pouco provável" a hipótese de que uma espécie tenha descendido da outra.
Os investigadores acreditam agora que ambas as espécies podem ter se desenvolvido a partir de um ancestral comum, que teria entre 2 milhões e 3 milhões de anos.
O problema agora, segundo os autores do estudo, passa a ser encontrar fósseis dessa época. E isso não tem sido fácil, dizem os pesquisadores.
Assim como gorilas e chimpanzés ainda hoje compartilham zonas comuns, o mesmo pode ter ocorrido no passado, segundo os estudiosos.


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