|
Próximo Texto | Índice
Grupo faz parto virtual em neandertal fossilizado
Pesquisa sugere que infância do hominídeo era similar à dos humanos modernos
Equipe refaz digitalmente
crânios de bebês dessa
espécie extinta e conclui que desenvolvimento lento
bancava cérebro grande
DA REDAÇÃO
O primeiro parto já observado em neandertais está sugerindo aos cientistas que esses
hominídeos extintos eram
mais parecidos com os humanos modernos do que se imaginava, e pode ajudar a sepultar a
noção de que esses primos do
Homo sapiens foram levados à
extinção por sua baixa capacidade intelectual.
O nascimento, claro, não foi
documentado ao vivo. Ele foi
simulado nos computadores da
Universidade de Zurique, na
Suíça, com base em reconstituições virtuais de fósseis de
um recém-nascido e de uma
mulher neandertais.
O trabalho foi feito por um
grupo de cientistas da Suíça, do
Japão e da Rússia, liderado pela antropóloga boliviana (radicada em Zurique) Marcia Ponce de León. O objetivo era entender a velocidade do crescimento do cérebro e da maturação dos neandertais, algo que
pode ajudar a entender como
os humanos modernos adquiriram a própria inteligência.
Até agora, a maioria dos estudiosos da evolução humana
achava que uma das chaves para o desenvolvimento do intelecto da espécie estivesse na infância, prolongada em relação à
dos outros primatas.
Como é muito grande, o cérebro do Homo sapiens precisa
de mais tempo para amadurecer (5 a 7 anos) do que o de um
chimpanzé, por exemplo (4
anos). Durante esse período, a
criança humana recebe cuidados em tempo integral da mãe,
explora o mundo e aprende as
regras complicadas do convívio
em sociedade. Há quem sustente que a própria estrutura
da família humana, com a formação de casais, serve para fomentar esse amadurecimento.
Quando essas características
da infância humana evoluíram,
porém, ainda é um mistério. Os
poucos fósseis disponíveis de
hominídeos antigos sugeriam
até agora que o Homo erectus
-suposto ancestral do homem
moderno- tinha uma infância
curta, como a dos chimpanzés.
O mesmo se aplica aos neandertais. Apesar de terem o
maior cérebro entre todos os
primatas (maior inclusive que
o humano), os neandertais
amadureciam em ritmo de macaco. Infância curta significa
independência, o que significa
menos necessidade de uma
mãe presente o tempo todo e
de um pai por perto para sustentá-la. Isso, por sua vez, significa menos complexidade social. Em resumo, um ambiente
intelectual mais pobre entre
esses nossos parentes extintos
há 30 mil anos. Pelo menos era
o que se imaginava.
Pré-história digital
Entram em cena Ponce de
León e seus colegas, um deles
em especial: o cientista da computação Christoph Zollikofer,
seu marido. Para tentar responder como esses hominídeos
atingiam um volume cerebral
tão grande e verificar se tamanho nesse caso é documento
-ou seja, inteligência-, eles
precisariam superar a limitação imposta pelo registro fóssil.
Os programas de computador desenvolvidos por Zollikofer permitem reconstituir virtualmente ossos altamente
fragmentados e extrair deles
medidas precisas. Esse tipo de
informação é crucial para calcular o volume do cérebro.
O grupo reconstituiu os crânios de três crianças neandertais fossilizadas: um recém-nascido, desenterrado na Rússia, um bebê de um ano e meio e
um outro de dois anos, achados
numa caverna na Síria.
A comparação permitiu estimar o volume cerebral do
neandertal no momento do
parto em 399 centímetros cúbicos, mais ou menos o mesmo
de um humano moderno. O período de gestação também era
provavelmente similar.
Depois, os cientistas simularam o parto do recém-nascido
com base na reconstituição virtual de uma mulher neandertal.
Por fim, o grupo calculou a
taxa de crescimento do cérebro
do neandertal. Concluiu que,
apesar de uma taxa inicial mais
alta de crescimento do crânio
que a dos humanos, o cérebro
do neandertal continuava a
crescer -ou seja, os brutamontes também tinham infância
estendida, como o H. sapiens, e
à custa de uma mãe grande e de
amadurecimento lento.
"À luz da hipótese das limitações energéticas da mãe, nossos resultados sugerem que a
história de vida dos neandertais era tão lenta quanto a dos
humanos modernos", escrevem os autores.
Próximo Texto: LHC vai alimentar rede de 60 mil computadores Índice
|