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São Paulo, terça-feira, 09 de dezembro de 2003

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MEDICINA

Pesquisador trabalha em empresa farmacêutica

Remédios não funcionam para a maioria dos doentes, diz cientista

STEVE CONNOR
DO "INDEPENDENT"

A indústria farmacêutica engordou por muitos anos com base num mito -a crença equivocada de que todos os remédios funcionem para quase todas as pessoas.
No entanto, era um segredo de polichinelo no interior da indústria farmacêutica que a maioria dos remédios não funciona para a maioria dos pacientes, um segredo agora tornado público pela primeira vez por Allen Roses, que chefia o setor de genética na empresa GlaxoSmithKline (GSK), a maior empresa farmacêutica do Reino Unido.
Roses, um pesquisador acadêmico com destacada contribuição em genética médica, está acostumado a falar o que pensa, em especial sobre os benefícios de uma nova abordagem revolucionária para o desenvolvimento de remédios, a farmacogenômica.
Trata-se da ciência que aplica os resultados do Projeto Genoma Humano para criar medicamentos. Em essência, implica testar o DNA de pacientes para identificar aqueles para os quais um remédio particular vai funcionar.
Isso permitiria aos médicos separar os "não-responsivos", os quais, pelo menos, não teriam de tomar um remédio que na melhor das hipóteses seria inútil e, na pior, perigoso, em termos de efeitos colaterais prejudiciais.
No passado, empresas farmacêuticas do mundo todo desenvolviam remédios dirigidos à população mais ampla possível. Era a estratégia mais rentável, mas também ignorava um fato básico da biologia -que as pessoas são diferentes umas das outras.
Roses cita um estudo publicado três anos atrás sobre as taxas de eficiência de uma gama de remédios, realizado por Brian Spear, cientista sênior dos Abbott Laboratories, uma empresa de diagnóstico médico de Chicago. Ele constatou que as taxas de eficiência variam de um mínimo de 25%, no caso de drogas contra o câncer, a até 80%, no caso de analgésicos.
No caso de muitos medicamentos, porém, as taxas de eficiência flutuam em torno de 50%, ou menos. Como diz Roses: "O fato é que a vasta maioria dos remédios -mais de 90%- só funciona para 30% a 50% das pessoas".
Para Roses, a solução deve vir em perfis genéticos detalhados, que permitam saber como cada segmento da população responde a determinado remédio.


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