São Paulo, sábado, 10 de janeiro de 2009

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Aquecimento provocará crise alimentar

Estudo publicado na "Science" indica que metade da população pode sofrer com a falta de comida até o final do século No Brasil, estudo já apontou problemas do calor para culturas da soja, café, girassol, milho e algodão; só cana seria beneficiada

DA REPORTAGEM LOCAL

Metade da população mundial pode sofrer com a falta de comida até 2100 se nada for feito para adaptar a Terra ao aquecimento global. O alerta aparece em estudo publicado na revista "Science".
Segundo o artigo, no final deste século, há probabilidade de mais de 90% de as regiões tropicais e subtropicais conviverem com temperaturas mais altas do que os recordes de calor do século 20. Isso vai afetar as plantações e comprometer a produção de alimentos.
Nos trópicos, as temperaturas mais elevadas poderão comprometer de 20% a 40% da produção das principais culturas, como milho e arroz. Cada 1C a mais na temperatura pode significar uma redução média de produtividade agrícola entre 2,5% e 16%.
Segundo o principal autor do estudo, David Battisti, da Universidade de Washington, a temperatura vai causar uma pressão enorme para a produção de alimentos, e a pesquisa nem leva em conta, por exemplo, os problemas de abastecimento de água que serão provocados pelo aquecimento.
"Nós temos que repensar a agricultura como um todo, não somente em novas variedades, mas também reconhecer que muitas pessoas vão deixar a agricultura, e até mesmo se deslocar de terras onde vivem agora", afirmou uma das autoras do estudo, Rosamond Naylor, diretora do programa de Segurança Alimentar e Ambiente da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos.
Atualmente, vivem nas regiões tropicais e subtropicais cerca de 3 bilhões de pessoas. Espera-se que o número dobre até o fim deste século. A área analisada no Ocidente compreende desde o sul dos EUA até o norte da Argentina. No Oriente, vai do norte da Índia e sul da China até a Austrália. A África também foi estudada.
Para elaborar a pesquisa, os cientistas usaram 23 modelos de clima -programas de computador que projetam o futuro meteorológico com base no passado. Os autores citam episódios históricos que podem ficar mais frequentes. Entre eles, os recordes de calor na Europa Ocidental em 2003, quando 52 mil pessoas morreram. Na época, a temperatura média na França foi 3,6C mais alta. "Infelizmente, até o final deste século, é provável que o calor como o visto em 2003 seja normal no país", diz o artigo.
Na opinião de Battisti, ainda há como evitar parte da desgraça. "Você pode deixar que isso aconteça e se adaptar dolorosamente, ou você pode se planejar", diz o pesquisador. "Você também poderia atenuar o aquecimento e não deixar que isso ocorra, mas não estamos fazendo um trabalho muito bom sobre a questão."

Brasil quente
No ano passado, pesquisadores da Embrapa (Empresa Brasileira de Agropecuária) e da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas)- apresentaram um estudo sobre os reflexos da mudança climática para a agricultura brasileira.
De acordo com a pesquisa, o maior prejuízo ocorrerá nas plantações de soja. A área adequada ao grão diminuirá 34% até 2050 e a soja deve sumir, por exemplo, de grande parte do Rio Grande do Sul.
O aquecimento global também vai reduzir a área ótima para lavouras de café (queda de 17% na área de potencial cultivo), de girassol (-16%), de milho (-15%), de algodão (-16%), de arroz (-12%) e de feijão (-10%). Só a cana será beneficiada neste cenário - as áreas potenciais para a cultura crescerão 139%.


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