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Aquecimento provocará crise alimentar
Estudo publicado na "Science" indica que metade da população pode sofrer com a falta de comida até o final do século
No Brasil, estudo já apontou
problemas do calor para
culturas da soja, café,
girassol, milho e algodão; só
cana seria beneficiada
DA REPORTAGEM LOCAL
Metade da população mundial pode sofrer com a falta de
comida até 2100 se nada for feito para adaptar a Terra ao
aquecimento global. O alerta
aparece em estudo publicado
na revista "Science".
Segundo o artigo, no final
deste século, há probabilidade
de mais de 90% de as regiões
tropicais e subtropicais conviverem com temperaturas mais
altas do que os recordes de calor do século 20. Isso vai afetar
as plantações e comprometer a
produção de alimentos.
Nos trópicos, as temperaturas mais elevadas poderão
comprometer de 20% a 40% da
produção das principais culturas, como milho e arroz. Cada
1C a mais na temperatura pode significar uma redução média de produtividade agrícola
entre 2,5% e 16%.
Segundo o principal autor do
estudo, David Battisti, da Universidade de Washington, a
temperatura vai causar uma
pressão enorme para a produção de alimentos, e a pesquisa
nem leva em conta, por exemplo, os problemas de abastecimento de água que serão provocados pelo aquecimento.
"Nós temos que repensar a
agricultura como um todo, não
somente em novas variedades,
mas também reconhecer que
muitas pessoas vão deixar a
agricultura, e até mesmo se
deslocar de terras onde vivem
agora", afirmou uma das autoras do estudo, Rosamond Naylor, diretora do programa de
Segurança Alimentar e Ambiente da Universidade de
Stanford, nos Estados Unidos.
Atualmente, vivem nas regiões tropicais e subtropicais
cerca de 3 bilhões de pessoas.
Espera-se que o número dobre
até o fim deste século. A área
analisada no Ocidente compreende desde o sul dos EUA
até o norte da Argentina. No
Oriente, vai do norte da Índia e
sul da China até a Austrália. A
África também foi estudada.
Para elaborar a pesquisa, os
cientistas usaram 23 modelos
de clima -programas de computador que projetam o futuro
meteorológico com base no
passado. Os autores citam episódios históricos que podem ficar mais frequentes. Entre eles,
os recordes de calor na Europa
Ocidental em 2003, quando 52
mil pessoas morreram. Na época, a temperatura média na
França foi 3,6C mais alta. "Infelizmente, até o final deste século, é provável que o calor como o visto em 2003 seja normal
no país", diz o artigo.
Na opinião de Battisti, ainda
há como evitar parte da desgraça. "Você pode deixar que isso
aconteça e se adaptar dolorosamente, ou você pode se planejar", diz o pesquisador. "Você
também poderia atenuar o
aquecimento e não deixar que
isso ocorra, mas não estamos
fazendo um trabalho muito
bom sobre a questão."
Brasil quente
No ano passado, pesquisadores da Embrapa (Empresa Brasileira de Agropecuária) e da
Unicamp (Universidade Estadual de Campinas)- apresentaram um estudo sobre os reflexos da mudança climática
para a agricultura brasileira.
De acordo com a pesquisa, o
maior prejuízo ocorrerá nas
plantações de soja. A área adequada ao grão diminuirá 34%
até 2050 e a soja deve sumir,
por exemplo, de grande parte
do Rio Grande do Sul.
O aquecimento global também vai reduzir a área ótima
para lavouras de café (queda de
17% na área de potencial cultivo), de girassol (-16%), de milho
(-15%), de algodão (-16%), de
arroz (-12%) e de feijão (-10%).
Só a cana será beneficiada neste cenário - as áreas potenciais
para a cultura crescerão 139%.
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