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Sexo, partículas e ficção
Frank Wilczek, Nobel de física
de 2004, diz que não quer "atrapalhar" experimentos e começa a escrever um romance
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CLAUDIA DREIFUS
DO "NEW YORK TIMES"
Frank Wilcek, um dos
ganhadores do Prêmio
Nobel de Física de
2004, continua trabalhando avidamente
em suas teorias, mas diz não
querer visitar os experimentos
no superacelerador de partículas europeu LHC, que acaba de
voltar a funcionar. "Eu iria
atrapalhar", diz o cientista.
Aos 58, como professor no
MIT (Instituto de Tecnologia
de Massachusetts), o físico tem
se dedicado a estudar uma estranha classe de partícula elementar, os áxions, que por enquanto existe só em especulação. Eles podem, contudo, ajudá-lo a aprimorar a teoria que
lhe rendeu o Nobel, a cromodinâmica quântica -as leis das
forças que regem os quarks e
glúons, as partículas que formam os prótons e nêutrons
nos núcleos atômicos.
O único manuscrito que
Wilczek promete completar
em 2010, porém, é um romance
de ficção. "Estou colocando
muito sexo, música e filosofia
no livro", diz. Leia abaixo entrevista com o cientista.
PERGUNTA - Todos os pais acham
que seus filhos são gênios. O sr. foi
um mini-Einstein quando criança?
FRANK WILCZEK - Meus pais não
pensavam assim. Eles eram filhos de imigrantes da Polônia e
da Itália, pessoas bem humildes. Eu cresci no Queens [periferia de Nova York] e frequentei escolas públicas. Quando
criança, gostava de quebra-cabeças, tentava descobrir como
coisas abstratas se encaixavam.
PERGUNTA - E quando seus pais
perceberam que tinham um prodígio em casa?
WILCZEK - Fiz um teste de QI no
ensino básico. Os professores
disseram: "Hmm, talvez vocês
devam tirá-lo do ensino público". De repente, em vez de ter
uma criança que simplesmente
queria ser o manda-chuva, eles
tinham esse... fenômeno. Eles
davam conselhos com cautela,
mas eu frequentei uma escola
normal. Sempre estava alguns
anos à frente. Tinha acabado de
fazer 15 anos quando entrei na
Universidade de Chicago.
PERGUNTA - A descoberta que,
mais tarde, lhe rendeu o Nobel, foi
feita aos 21 anos, certo?
WILCZEK - Era minha tese de
doutorado. No começo dos
anos 1970, eu estava na pós-graduação em matemática, em
Princeton, mas não tinha certeza se queria isso. Por sorte, o
prédio de matemática estava ligado ao de física. De alguma
forma, fui parar lá e conheci
David Gross [físico com quem
dividiu o Nobel de 2004]. Havia
muita coisa interessante acontecendo em física naquela época. Quando segui naquela direção, não tive como voltar atrás.
PERGUNTA - O sr. poderia explicar a
tese para um leigo em física?
WILCZEK - Uma grande pergunta na época era: qual é a grande
força que mantém unido o núcleo do átomo? Havia muitos
fatos conhecidos sobre essa
grande força, a maior de quatro
conhecidas, mas nenhuma teoria real. Freeman Dyson [físico
de Princeton] tinha dito que levaria cem anos para que pudéssemos entender. Mas David e
eu progredimos para fazer uma
proposta para as equações fundamentais que governam essa
força. Também propusemos
experimentos para verificá-las,
e depois foram provadas.
O segredo era uma propriedade de quarks chamada "liberdade assintótica". Essa força é
algo único na natureza porque
ela se desliga quando partículas
se aproximam uma da outra.
De forma contrária, o poder da
força cresce com a distância. Isso foi visto através de experimentos, mas mostrou ser muito difícil relacionar com a mecânica quântica [teoria que explica o eletromagnetismo e as
forças nucleares] e a relatividade [que explica a gravidade].
Bem, David e eu descobrimos
que isso poderia estar relacionado. Porém, apenas em uma
teoria única, matematicamente
intricada e altamente simétrica
cujas lindas equações poderíamos escrever. Essa teoria é hoje
chamada de cromodinâmica
quântica, ou QCD. Ela nos ajudou a entender mais sobre o
Universo mais antigo e sugeriu
novas ideias sobre a unidade
das forças na natureza.
PERGUNTA - O sr. fez tudo isso em
menos de um ano. O que pensou depois de terminar?
WILCZEK - Que aquilo era lindo.
Filósofos, desde a época de
Aristóteles, diziam que a ciência fundamental era parecida
com a experiência do dia a dia,
onde só há princípios básicos
que não poderiam ser precisos,
pois você cairia em paradoxos e
contradições. Então, com a
QCD, pensei: "Puxa, a natureza
obedece a leis matemáticas".
PERGUNTA - A QCD mostrando a
energia como fonte da massa confirmou ideias de Einstein. Foi boa a
sensação de confirmar o mestre?
WILCZEK - Essa foi uma consequência maravilhosa daquele
trabalho; não a tínhamos previsto. Ele propôs essa possibilidade de converter massa em
energia, e vice-versa. Nós mostramos que a maior parte da
massa da matéria ordinária
vem da energia dos quarks e
glúons que se movem. Então,
confirmamos, estendemos e alcançamos suas ideias.
Einstein era um dos meus
maiores heróis quando eu era
criança. Acho que ele iria gostar
do meu trabalho. Assim espero.
PERGUNTA - Agora que o acelerador de partículas LHC retomou seus
experimentos, o sr. vai trabalhar lá?
WILCZEK - Não, eu iria atrapalhar. Porém, propus algumas
equações fundamentais, e espero que elas sejam testadas e
verificadas no LHC. Não me
envolvi com os detalhes.
No entanto, a QCD terá muita aplicação no LHC porque
grande parte do que acontece
ali é governado pela QCD.
PERGUNTA - Em que o sr. esteve trabalhando desde o Nobel?
WILCZEK - Tenho pensado sobre partículas chamadas áxions
e como elas influenciam a cosmologia. Estou tentando me
dedicar a unir tudo que eu pensei antes à supersimetria [teoria que prevê um novo tipo de
simetria entre os tipos de partículas elementares] e áxions.
Também tenho trabalhado
em uma eletrônica exótica. Peguei ideias desenvolvidas na física de altas energias, sobre
propriedades incomuns que as
partículas podem ter. Há algumas ideias nisso para possivelmente ajudar a fazer um computador quântico no futuro.
Além disso, estou escrevendo
um livro de mistério, que estou
chamando de "The Attraction
of Darkness" (A Atração da Escuridão). É a história de quatro
físicos, dois homens e duas mulheres, que colaboram e descobrem o que é a matéria escura
[um tipo misterioso de matéria
que não interage com radiação]. Por isso, eles devem receber o prêmio Nobel. Porém, as
regras dizem que no máximo
três pessoas podem dividir o
prêmio. Um dos quatro morre,
um suposto suicídio, mas depois vemos que talvez não. Estou colocando muito sexo, música e filosofia no livro.
PERGUNTA - De onde veio a ideia?
WILCZEK - Existem situações
assim. Há muitos casos onde alguma descoberta notável tem
suas origens contestadas. Às
vezes, há cinco ou seis pessoas
que podem ser candidatas a determinado prêmio. Comecei a
pensar nisso quando estava em
Estocolmo recebendo o Nobel.
Minha promessa de Ano Novo
é terminar o livro até meu aniversário, em meados de maio.
Tradução de GABRIELA D'AVILA
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