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Indústria pesqueira viola padrão ambiental da ONU
Estudo diz que nenhum país merece nota maior do que 6,0 em gestão de pesca
Quatro das cinco nações
que mais capturam peixes tiveram nota abaixo de 5,0 num total de 10,0; Brasil ficou com conceito de 3,3
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
Quatro dos cinco países que
mais capturam peixes em áreas
costeiras no mundo -China,
Peru, Japão e Chile- receberam nota abaixo de 5,0 num estudo que avaliou o grau de adesão da pesca mundial a práticas
pesqueiras sustentáveis. O levantamento, que analisou os 53
países que mais pescam no
mundo (e respondem por 96%
do que é retirado dos oceanos),
concluiu que todos têm gestão
pesqueira reprovável.
"Nenhum país teve nota
maior do que 6,0 [sobre máximo de 10,0]. Portanto, se fosse
em uma escola, podemos dizer
que todos estariam praticamente reprovados", diz Daniela Kalikoski, geógrafa da Universidade Federal do Rio Grande e uma das autoras do trabalho, feito sob coordenação da
ONG WWF. "O estudo mostra
quão crítica está a questão da
política pesqueira mundial."
O ranking foi feito com base
na adequação dos países ao Código de Conduta para a Pesca
Responsável das Nações Unidas, e aponta que a pior prática
de pesca do mundo é a da Coréia do Norte (nota 0,9), país de
indústria pesqueira pequena.
Mas é quando se olha para as
notas dos países que mais pescam que a situação para a biodiversidade marinha e para a segurança alimentar das populações ficam piores. A China, que
comercializa 17,3% de tudo o
que é pescado no mundo, aparece apenas em 22º lugar (nota
4,2) no ranking de responsabilidade. Dos cinco países que
mais pescam no mundo, apenas os Estados Unidos tiveram
uma nota "razoável": 5,8.
"Em termos gerais, as notas
foram dadas com base nas práticas de conservação dos recursos, fiscalização das atividades
pesqueiras e na gestão socioeconômica das atividades de
pesca", escreveram os autores
do estudo em um artigo complementar na revista "Nature".
Arrastão nacional
Segundo Kalikoski, que estuda bastante a situação do Brasil,
o país está longe de ser um
exemplo, com nota 3,3. O país,
porém, não tem tanto peso no
mercado de pesca. Em termos
de qualidade de gestão, o Brasil
ocupa a 29ª posição, segundo os
dados usados no estudo, que
são de 1999. "Mas a ordem entre os países não tem mudado
muito desde então", afirma a
pesquisadora, que tem monitorado esses índices.
No Brasil 80% dos recursos
pesqueiros estão sendo superexplorados, diz a geógrafa. Ou
seja, a retirada é muito maior
do que a capacidade de reposição dos estoques. Sendo assim,
em alguns anos ou décadas, vários grupos de peixes podem
desaparecer do mercado brasileiro. Entre as grandes vítimas
da pesca em águas nacionais estão os cações, por exemplo.
A pressão sobre o tubarão-azul, capturado pela modalidade de pesca conhecida como espinhel, é gigantesca.
O pesquisador Jorge Kotas,
do Cepsul (Centro de Pesquisa
e Gestão de Recursos Pesqueiros do Litoral Sudeste e Sul),
contabilizou a retirada de 35
mil indivíduos das águas do Sul
do Brasil entre 1997 e 2005.
Essa espécie é uma das favoritas dos pescadores por ser fácil de apanhar e ter barbatanas
enormes, produto com alto valor comercial hoje, bastante
procurado pelos asiáticos. Só
dessa espécie, 2 milhões de
exemplares são retirados do
Atlântico Sul todos os anos.
Kalikoski reconhece, porém,
que o ranking possui algumas
distorções, por ter levado em
conta apenas a pesca em águas
territoriais. O Japão, por exemplo, fiscaliza muito sua área
costeira, mas não é tão rígido
com navios japoneses que pescam em águas internacionais.
O estudo já indica que adotar
certas medidas pode ser eficaz,
diz a cientista. O código de conduta da ONU, por exemplo, que
hoje é de adesão voluntária, deveria ser obrigatório. "Outra
coisa, além de aumentar a fiscalização, é fazer o pescador artesanal participar mais das decisões sobre a pesca."
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