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CÂNCER
Grupo de hospital paulistano mapeou gene em 20 famílias brasileiras
Estudo acha variantes de tipo de tumor hereditário
REINALDO JOSÉ LOPES
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Pesquisadores do Hospital do
Câncer, em São Paulo, estão ajudando a desarmar uma bomba-relógio genética, capaz de causar
tumores no cérebro, na retina e
nos rins. Eles mapearam no Brasil
as alterações no DNA que causam
um tipo de câncer hereditário,
abrindo espaço para a prevenção
e cura precoce da doença.
"Nossas alterações [genéticas]
são diferentes das que aparecem
em todo o resto do mundo", afirma José Cláudio Casali da Rocha,
38, diretor do Departamento de
Oncogenética do hospital e coordenador do estudo. Mesmo assim, todas causam a síndrome de
Von Hippel-Lindau (VHL), cujos
portadores têm quase 100% de
chance de desenvolver algum tumor até os 65 anos.
Da mesma forma que alguns
cânceres de mama, a doença é
transmitida de pais para filhos. A
probabilidade de cada filho ser
portador da síndrome, independentemente do sexo, é de 50%.
Problema de família
O mais comum é que os casos
(um para cada grupo de 30 mil
pessoas, em média) se acumulem
dentro da mesma família, embora
os próprios pesquisadores tenham detectado pessoas em que
as mutações apareceram pela primeira vez, sem que houvesse uma
história familiar do problema.
As mutações estudadas pela
equipe não causam problemas
em lugares tão diferentes à toa. As
14 mil bases ou "letras" químicas
do gene ligado ao problema contêm a receita para a produção de
uma proteína que ajuda a manter
células de todo o organismo na linha. "É um gene supressor de tumores e ajuda a controlar a angiogênese [a formação de vasos sanguíneos]", conta Rocha.
Embaralhadas ou omitidas de uma sequência, as "letras" de
DNA podem causar resultados indesejáveis na proteína que codificam. Foi atrás dessas mudanças que a equipe passou a estudar 20
famílias de vários Estados brasileiros que já tinham parentes com
a VHL. Os 102 pacientes foram
acompanhados de 1998 ao fim de
2002 e tiveram o DNA do gene da
doença sequenciado (soletrado).
Ao combinar a análise genética
com a verificação de tumores nos
pacientes, a equipe percebeu duas
diferenças importantes em relação ao que se conhecia sobre a
VHL em outros países.
Nas moléculas de DNA, as mudanças mais frequentes apareciam no meio do gene (e não nas pontas), enquanto o resultado delas se refletia principalmente em
tumores nos rins. Em 70% dos casos, a troca ou apagamento de
uma só "letra" de DNA era suficiente para causar a síndrome.
As técnicas utilizadas por Rocha
e seus colaboradores permitiram
100% de identificação dos portadores da síndrome. Isso deve possibilitar uma ação preventiva mais eficaz, antes que os tumores
se tornem sérios (mesmo na versão benigna, eles podem comprimir o cérebro e a retina e causar hemorragias).
A análise genética abre espaço
para essa detecção da moléstia
antes dos sintomas. No futuro,
poderia ajudar as famílias nas
quais a síndrome está presente a
ter filhos sem o problema por
meio da seleção de embriões.
O trabalho foi publicado na edição on-line da revista científica
"Journal of Medical Genetics"
(www.jmedgenet.com) no mês
passado e ganhou prêmio de melhor pesquisa da Sociedade Americana de Oncologia Clínica.
Instituição faz 50 anos
O Hospital do Câncer comemora 50 anos de existência no próximo dia 14. Para celebrar a data, a instituição organiza o encontro
internacional "How Close Are We to Cancer Cure" (Quão perto estamos da cura do câncer), de 21 a 23 de agosto. As inscrições vão até
10 de agosto. Informações pelos telefones 0/xx/11/3079-0544 e 3079-2787.
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