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CLIMA
Antes de estrear, "The Day After Tomorrow" desencadeia polêmica sobre acuidade de desastres do aquecimento global
Tormenta ronda filme sobre efeito estufa
STEVE CONNOR
DO "INDEPENDENT"
O filme começa com um pedaço
de gelo do tamanho da Escócia
caindo no oceano Ártico. Em velocidade estonteante, ele se converte em temporais de granizo do
tamanho de abacates bombardeando Tóquio, furacões golpeando o Havaí, tempestades de
neve em Nova Déli e tornados
varrendo Los Angeles.
Bem-vindo a "The Day After
Tomorrow" (Depois de Amanhã), o último superlançamento
de Hollywood, que apresenta a
mudança climática como uma série dramática de desastres que
varrem o mundo, num redemoinho de tempo horroroso.
Uma súbita mudança nas águas
quentes da corrente do Golfo leva
as temperaturas em Nova York e
Londres a cair instantaneamente
abaixo de zero, causando o tipo de
era glacial que não se via há milhares de anos.
Os realizadores do filme estrelado por Dennis Quaid e Jake Gyllenhaal insistem em que ele é baseado em ciência de verdade, mas climatologistas têm questionado
sua acuidade e criticado o modo
pelo qual ele mostra a velocidade
e o modo da mudança climática.
Os críticos dizem que o filme é
profundamente enganador e poderia tornar o público indiferente
à ameaça genuína posta pela mudança climática, ao vê-la trivializada pelo mesmo diretor de
Hollywood que fez "Independence Day". Mas o consultor científico da fita reagiu aos críticos argumentando que "The Day After
Tomorrow", que terá estréia
mundial dia 28, vai fazer mais para atrair a atenção pública à maior
das questões ambientais do que
todos os artigos científicos e documentários objetivos.
Michael Molitor, consultor na
área de mudança climática, diz
que já recebeu mais contatos da
imprensa, em razão de sua conexão com o filme, do que em 20
anos de trabalho com a ciência e a
política do aquecimento global.
"A quantidade de comentários
de climatologistas sobre esse filme tem sido inacreditável, o que
acho um tanto cômico", disse
Molitor. "O filme pode, de fato,
ajudar mais a mudar o nosso curso para a direção correta do que
todo o trabalho científico e todos
os depoimentos [no Congresso
dos EUA] juntos."
"The Day After Tomorrow" se
passa em algum momento do futuro não muito distante e se baseia na idéia de que o aquecimento global pode detonar uma mudança súbita e dramática no sistema planetário do clima. O diretor
Roland Emmerich escolheu um
colapso repentino da corrente do
Golfo e da gigantesca quantidade
de calor -equivalente à energia
produzida por 27 mil usinas elétricas- que ela leva do Caribe para a costa nordeste da América e
para a Europa Ocidental.
A corrente do Golfo depende de
uma outra corrente, de águas profundas, que segue na direção
oposta sobre o leito do oceano,
criando uma espécie de esteira rolante movida pelo afundamento
de águas frias e salinas no nordeste do Atlântico, fenômeno batizado como circulação termohalina.
Esse motor da corrente do Golfo
poderia, teoricamente, ser desligado pelo derretimento da camada de geleiras que recobre a Groenlândia. Isso lançaria enormes
quantidades de água doce no
Atlântico, diluindo a salinidade e,
com isso, a densidade das águas
de superfície.
"Uma mudança na circulação
termohalina do Atlântico Norte é
um dos cenários de mudança súbita do clima com que nós temos
familiaridade", diz Molitor. "Há
algum desacordo sobre a probabilidade, mas o fato de essa ligação ter sido feita é bem aceito.
Nesse aspecto, o filme é preciso."
"O ponto em que o filme se afasta de nosso conhecimento é que
as mudanças ocorrem no enredo
numa escala de tempo que é provavelmente mais rápida do que
esperaríamos."
Quando os climatologistas falam de mudanças súbitas, em geral se referem a alterações num
período de décadas ou mesmo séculos, mas isso é devagar demais
para acompanhar o ritmo de um
filme de Hollywood, diz Molitor.
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