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Biocombustíveis podem agravar fome, afirma ONU
Relatório vê risco de competição de lavoura energéticas com produção de comida
Avanço sobre florestas
também pode ocorrer,
sobretudo no sudeste da
Ásia; para brasileiro, álcool
representa menos perigo
DA REDAÇÃO
Um relatório da ONU (Organização das Nações Unidas) divulgado ontem pode ser considerado um sinal amarelo para a
política internacional de expansão do mercado de biocombustíveis. Se for mal implementada, a tecnologia que promete
ao mesmo tempo combater o
efeito estufa e liberar o mundo
do petróleo acabaria causando
fome e destruição de habitats.
"Os biocombustíveis líquidos
podem ameaçar a disponibilidade de suprimentos de comida adequados ao desviar terra e
outros recursos de produção
das plantações para alimento",
diz o relatório. "Muitas plantações hoje usadas como fonte de
biocombustível requerem terra
agricultável de alta qualidade
uso significativo de fertilizantes, pesticidas e água."
O documento de 64 páginas,
porém, reconhece que "sistemas de bioenergia modernos
bem projetados podem de fato
aumentar a produção local de
comida". Se o combustível ficar
significativamente mais barato, a cadeia de produção e distribuição de alimentos também
pode baratear o produto final.
"Mas esse não é o caso no
momento", diz Luiz Pinguelli
Rosa, secretário-executivo do
Fórum Brasileiro de Mudanças
Climáticas. Segundo o pesquisador da UFRJ, muitas das
preocupações manifestadas no
documento já são "discussão
vencida" no caso do álcool de
cana brasileiro."Aqui não há
falta de alimento, há falta de dinheiro para as pessoas comprarem alimento", diz.
Em alguns momentos, porém, o relatório faz eco às declarações do ditador cubano Fidel Castro de que os biocombustíveis podem aumentar a
fome no mundo.
"Adotar essa idéia para China
e Índia, países superpopulosos
onde não há tanta disponibilidade de terra, seria mais complicado", diz Pinguelli.
Segundo o último relatório
do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática), os biocombustíveis podem ocupar até 10% da matriz
do setor de transportes em
2030. O relatório não detalha
quais plantas são mais adequadas para expandir a produção
global de biocombustível, fazendo apenas algumas ressalvas. "Dependendo do tipo de
plantação, do que ela está substituindo e dos métodos de cultivo e colheita, os biocombustíveis podem ter aspectos positivos ou negativos no uso da terra, na qualidade da água e do solo e na biodiversidade".
Desmatamento
Na opinião do cientista brasileiro, uma preocupação mais
palpável é a de os biocombustíveis fazerem a fronteira agrícola avançar à custa da derrubada
de florestas. O relatório da
ONU, porém, lança mais críticas aos países asiáticos do que
ao Brasil quando o assunto é
desmatamento. Chega mesmo
a elogiar o estabelecimento de
20% de reserva legal de mata
em plantações de cana-de-açúcar em São Paulo.
"O que aconteceu, na verdade, é que o café já tinha feito o
serviço do desmatamento antes da cana", diz Pinguelli. "Se a
cana precisasse desmatar, ela
teria desmatado", diz.
NA INTERNET - Leia o relatório
completo (em inglês)
http://esa.un.org/un-energy/
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