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FHC e Clinton devem discutir estação orbital
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
enviado especial a Washington
É bem provável que a participação do Brasil na Estação Espacial
Internacional (ISS, em inglês) seja
abordada hoje na conversa entre
os presidentes Fernando Henrique
Cardoso e Bill Clinton, dos EUA,
prevista para durar 45 minutos.
Se isso ocorrer, FHC deverá dizer
a Clinton o que a Folha ouviu do
ministro da Ciência e Tecnologia,
Luiz Carlos Bresser Pereira, na
quinta-feira passada: o país pretende cumprir seus compromissos, mas tem de resolver os problemas orçamentários que surgiram.
O mais urgente é pagar US$ 15
milhões à empresa aeroespacial
Boeing, vencidos em dezembro de
1998, por estudos iniciais feitos para a confecção de seis equipamentos da ISS que o Brasil se encarregou de entregar à Nasa (a agência
espacial norte-americana).
A Boeing havia dado um prazo
fatal para o pagamento: 20 de
maio. Mas, um mês antes, em 20 de
abril, o Inpe (Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais), responsável
técnico pela participação do Brasil
na ISS, enviou à Boeing uma carta.
Nela, o Inpe explica os motivos
do atraso e promete começar a pagar (US$ 3,6 milhões) até o dia 28.
A Boeing deve aceitar o novo
prazo. A Nasa, por seu lado, diz
que, por enquanto, o Brasil está em
dia. Amanhã, chega a Brasília uma
equipe da agência para examinar
como vai o projeto no país.
Antes da avaliação desse time,
disse à Folha Daniel Hedin, chefe
do escritório de desenvolvimento
espacial da Nasa, a agência não vai
se manifestar sobre o Brasil.
Há uma certa apreensão entre dirigentes da Nasa em relação ao
país, observada pela Folha na semana passada. Uma das seis partes
que dependem do Brasil, o palete
expresso para experimentação
(Express), tem de estar pronta para
entrega em meados de 2001.
O prazo é curto. O fato de o Brasil
estar devendo e não ter incluído
em seu Orçamento para 1999 nada
para a ISS deixa a Nasa nervosa.
Não tanto quanto os atrasos russos porque, afinal, a tecnologia para fazer o Express está disponível
nos próprios EUA. Se a coisa apertar, a Nasa pode encomendar o
equipamento a uma empresa local.
O custo financeiro nem é muito
significativo. Toda a participação
do Brasil na ISS está calculada entre US$ 120 milhões e US$ 300 milhões. Muito pouco diante dos US$
60 bilhões totais do projeto.
Mas o custo político pode ser alto. Em especial para o Brasil, mas
também para os EUA, que irritaram aliados como Argentina e Israel ao preteri-los pelo Brasil.
Além disso, já há muito em andamento na participação brasileira,
como os experimentos de cristalização de proteínas para fins médicos e o treinamento do major-aviador Marcos César Pontes para ser o
primeiro astronauta do Brasil. Isso
é o que o país ganha em troca dos
seis equipamentos.
Há desacordo no governo brasileiro sobre a conveniência de o país
se manter no projeto da ISS.
No Ministério da Aeronáutica, a
maioria acha que os recursos do
país para o setor aeroespacial devem se concentrar no Veículo Lançador de Satélites (VLS).
Os EUA não têm nenhuma simpatia pelo VLS. Nem mesmo o Canadá, um dos mais fortes parceiros
dos EUA, tem um lançador -já
que a oposição norte-americana é
grande a qualquer projeto que possa resultar em portadores de mísseis de longa distância.
Por isso, para o governo dos
EUA, é bem mais conveniente que
o Brasil prefira a ISS ao VLS.
Também parece haver na Nasa a
convicção de que serão grandes os
benefícios da presença do Brasil na
ISS para o país. O vice-diretor da
Nasa para ciências da vida e microgravidade, Arnauld Nicogossian,
se negou a dizer isso com clareza à
Folha por receio, explicou, de parecer intrusivo aos brasileiros.
Mas Nicogossian não esconde
seu entusiasmo pelas possíveis
descobertas médicas que podem
resultar do trabalho na ISS, e essa é
uma das áreas de atuação do Brasil
previstas em sua participação.
O combate a doenças tropicais
(mal de Chagas, dengue, malária)
se tornou uma das prioridades da
Nasa na ISS. Sem a presença brasileira, essa meta será prejudicada.
Por isso, existe muita cautela, da
parte dos responsáveis pela Nasa,
ao abordar o tema Brasil na ISS.
Eles não querem ferir suscetibilidades, arvorar argumentos nacionalistas, capazes de inviabilizar a
participação brasileira, já complicada por causa das dificuldades financeiras do país desde agosto de
1998.
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