|
Próximo Texto | Índice
Proposta de lei de floresta anula meta nacional de CO2
Redução de reserva legal levaria a emissões de até 31 bilhões de toneladas
Cálculo feito por ONGs
foi mostrado a Marina
Silva, que desafiou
adversários a se oporem
a mudança na lei atual
BERNARDO MELLO FRANCO
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
LARISSA GUIMARÃES
DE BRASÍLIA
Se aprovada pelo Congresso Nacional, a proposta de reforma do Código Florestal
apresentada anteontem pelo
deputado Aldo Rebelo
(PCdoB-SP) poderia provocar
a emissão de 25 bilhões a 31
bilhões de toneladas de gás
carbônico só na Amazônia.
A cifra representa pelo menos seis vezes a redução estimada de emissões por desmatamento que o Brasil se
propôs a cumprir, e impediria o país de cumprir a meta
assumida antes da conferência do clima de Copenhague.
O cálculo, preliminar, foi
feito pelas ONGs Greenpeace
e Ipam (Instituto de Pesquisa
Ambiental da Amazônia).
Ele se baseia na quantidade de reserva legal (a porção
de florestas de uma propriedade rural que deve ser mantida em pé) que seria eliminada na região amazônica caso
o novo código fosse aplicado.
Segundo Paulo Adário, do
Greenpeace, a proposta de
Aldo para a reserva legal contém duas "perversidades": a
primeira é permitir o desmatamento de 100% em todas
as propriedades menores
que quatro módulos fiscais
-na Amazônia, cada módulo fiscal tem 100 hectares.
A segunda é calcular a reserva nos imóveis maiores
que quatro módulos (400
hectares) já descontando os
quatro módulos isentos.
"Isso permite rifar 85 milhões de hectares", afirmou.
"Vamos supor que metade
disso já esteja desmatado. Dá
pelo menos 12 bilhões de toneladas, ou quatro vezes a
meta brasileira", afirma André Lima, do Ipam.
MARINA
A pré-candidata do PV à
Presidência, Marina Silva,
desafiou ontem os adversários na corrida presidencial a
se manifestar sobre o texto,
que anistia desmatadores e
dispensa a reserva legal em
propriedades menores que
quadro módulos fiscais.
"Qualquer pessoa que
queira governar este país deve se pronunciar sobre o relatório, sob pena de se omitir
ou ser conivente", disse.
A ex-ministra, cuja candidatura será lançada hoje,
disse que o relatório atende a
"interesses retrógrados".
"Sem o Código, vamos dar
continuidade à destruição,
com graves prejuízos aos
ecossistemas e à biodiversidade", alertou. "Isso inviabiliza completamente a meta
brasileira de Copenhague.
Não podemos permitir que
todo aquele esforço se transforme numa farsa."
A cobrança aos adversários pode causar constrangimento aos presidenciáveis
José Serra (PSDB) e Dilma
Rousseff (PT), que são apoiados por expoentes da bancada ruralista. O tucano é aliado da senadora Kátia Abreu
(DEM-TO), e a petista, do deputado Moacir Micheletto
(PMDB-PR), entre outros.
COPA DO MUNDO
A votação da proposta de
Aldo Rebelo na comissão especial da Câmara que trata
do assunto foi adiada ontem.
Houve um acordo entre
seus membros para deixar
para a próxima quarta-feira
os pedidos de vista e a apresentação de emendas. Aldo
apenas leu seu voto.
Há a possibilidade de que
a votação do texto na comissão especial seja iniciada no
dia 23, e se depender da pressão dos ruralistas, deve ser
concluída até 15 de julho.
Depois de aprovado na comissão, o projeto precisa ser
votado no plenário da Câmara e tramitar no Senado.
Os deputados contrários à
reforma estão contanto com
as festas juninas e a Copa do
Mundo para tirar o ânimo em
votar o assunto.
"Essa Casa tem por obrigação encontrar um caminho e
esse caminho estamos formulando: um código florestal que atenda o meio ambiente, mas que também
atenda a agricultura", disse
Moacir Micheletto, presidente da comissão.
Colaborou Claudio Angelo, editor de Ciência
Próximo Texto: Proposta é equilibrada e não dá muito poder a Estados, diz Aldo Índice
|