São Paulo, sexta, 10 de julho de 1998

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CIÊNCIA

Pesquisadora que analisou registros do médico italiano Di Bella diz que dados desmentem eficácia divulgada

Estudo nega sucesso de terapia de câncer

ADRIANA NIEMEYER
especial para a Folha, de Roma

O polêmico tratamento para o câncer proposto por Luigi di Bella, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Modena, na Itália, está sendo duramente contestado pela primeira vez em seus resultados.
Eva Buiati, epidemióloga encarregada de analisar o arquivo de Di Bella, afirma que os registros do médico negam os resultados por ele anunciados.
No início deste ano, em plena euforia de sua "cura revolucionária" do câncer, Di Bella disse que havia curado mais da metade de seus pacientes, que seriam de 15 mil a 20 mil, segundo ele.
A epidemiologista afirma que o arquivo do professor Di Bella registra 3.076 pacientes de 1971 até junho de 1997.
"Mais da metade dos casos não eram de tumores", disse Buiati em entrevista à Folha. "Apenas cerca de 600 desses casos realmente podiam ser avaliados."
Segundo Buiati, de cada 5 pacientes submetidos ao método de Di Bella, 4 morreram.
Na média nacional italiana, 1 em cada 3 doentes consegue se restabelecer com os tratamentos tradicionais. "Parece que esta não é realmente a cura para o câncer", disse a médica.
Devido à pressão popular, a ministra italiana da Saúde, Rose Bindi, foi forçada a aceitar a aplicação experimental do método em vários hospitais, indo contra relatórios científicos que duvidavam da eficácia do tratamento proposto.
Segundo uma comissão que assessorava o ministério, as origens do câncer são várias, e o tratamento de Di Bella não respeita essas diferenças.
"É tudo propaganda das indústrias farmacêuticas que têm medo de perder esse mercado, já que a somatostatina custa pouco", disse Di Bella, no início do ano, referindo-se à droga usada em sua terapia (leia texto ao lado).
Di Bella tornou-se a pessoa mais comentada de todos os jornais e revistas do país. A própria imprensa italiana, agora, admite não ter sido muito cautelosa.
Segundo um relatório da epidemiologista, os casos de cura efetiva são somente 20. Todos esses doentes já tinham passado por métodos tradicionais.
"Verificamos que, em alguns casos, os pacientes pioraram, o que não implica que a substância seja prejudicial, pois, do ponto de vista da sobrevivência, ela não teve grande influência", sublinha a médica.
"Porém, antes de tirar uma conclusão final, é melhor esperar os dados da experimentação oficial que está sendo feita na Itália", disse Buiati.
De acordo com ela, os primeiros resultados já serão conhecidos no final deste mês.


Colaborou a Redação



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