São Paulo, terça-feira, 10 de agosto de 2010

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Governo e ONG divergem sobre desmate

Inpe aponta queda de 49% entre agosto de 2009 e junho deste ano; Imazon vê alta de 8% no mesmo período

Apesar da discrepância, taxa oficial, que vai ser divulgada até o fim do ano, deve acabar sendo uma das mais baixas


CLAUDIO ANGELO
DE BRASÍLIA

O desmatamento na Amazônia em 2010 deve ser, pelo segundo ano consecutivo, um dos menores da história, indicam dados de monitoramento por satélite. A questão é se a cifra será a menor ou a segunda menor. Depende de para quem se pergunta.
O governo federal prevê uma queda recorde, com base em dados preliminares do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). A ONG Imazon fala em um aumento discreto em relação a 2009.
No ano passado, a taxa foi a mais baixa da história: 7.400 km2, o equivalente a "apenas" cinco vezes a área da cidade de São Paulo.
Ontem, os ministros Izabella Teixeira (Meio Ambiente) e Sergio Rezende (Ciência e Tecnologia) divulgaram dados que indicam uma queda de 49% entre agosto de 2009 e junho deste ano.
Segundo o sistema Deter, que detecta o desmate com maior velocidade, mas menor precisão, foram 1.808 km2 desmatados nesse período, contra 3.537 km2 nos 11 meses anteriores.
Rezende chegou a arriscar que o Prodes, sistema que dá a taxa oficial do ano, mostrará uma devastação "em torno de 5.500 km2".
Já o SAD, sistema desenvolvido pelo Imazon e que usa o mesmo tipo de imagem de satélite que o Deter, aponta um aumento de 8% no acumulado agosto-junho.

QUENTE E SECO
Adalberto Veríssimo, do Imazon, aposta que o número final ficará em torno de 8.000 km2. "É um ano muito quente e muito seco na Amazônia, além de ser ano de eleição", diz. "Vamos torcer para 5.000 km2, mas não bate com nada do que estamos vendo aqui", continua.
Se a previsão do governo se confirmar, será a primeira vez na história que o desmatamento amazônico cai em um ano de eleição.
Um dos fatores que podem explicar a divergência grande entre o SAD e o Deter é a mudança no perfil do desmate amazônico.

CAFÉ PEQUENO
Em vez de grandes derrubadas, concentradas no sul, sudeste e leste (o chamado "arco do desmatamento"), o que se vê hoje são derrubadas pequenas.
Elas estão concentradas sobretudo no eixo da BR-163 e na Terra do Meio, no Pará e no sul do Amazonas (único Estado que teve aumento no desmate no período).
Segundo Gilberto Câmara, diretor do Inpe, o número de desmatamentos menores de 50 hectares (limite de detecção do Deter) subiu de 30% do total na Amazônia em 2002 para 75% em 2009.
"O Inpe reafirma que não dá para afirmar que o desmatamento caiu 50% por causa do problema dos pequenos desmatamentos", declarou.


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