São Paulo, quarta-feira, 10 de setembro de 2008

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LHC começa a operar hoje, "pela metade"

Maior máquina já construída, acelerador de partículas europeu será ligado com baixa energia e apenas com um feixe de prótons

Colisões que podem revelar aos físicos segredos íntimos da matéria só começam em um mês ou dois; primeiros resultados, só em 2010

Cern
Cientista em um dos detectores do LHC; máquina pode revolucionar compreensão do Universo

IGOR ZOLNERKEVIC
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Se tudo correr conforme o previsto, às 8h de hoje (hora de Brasília) a maior máquina já construída pela humanidade começa a funcionar. Cientistas na Suíça farão um feixe de prótons (núcleos de átomos de hidrogênio) circular quase à velocidade da luz pelo anel de 27 quilômetros do LHC (Grande Colisor de Hádrons), o acelerador de partículas europeu.
No entanto, quem quiser saber logo que segredos do Universo serão desvendados pelo aparelho -e eles podem ser muitos, desde a origem da massa até a estrutura da misteriosa matéria escura- vai ter de esperar mais um pouco: as colisões de prótons que devem revelar aos físicos a intimidade da matéria num grau jamais visto vão demorar para começar.
"Agora vamos testar um dos feixes, depois ainda tem o outro feixe, depois os dois ao mesmo tempo, depois testaremos o processo de focalização dos feixes para a colisão, que é extremamente complicado. Tudo isso vai demorar de um a dois meses", diz o brasileiro Denis Damázio, do Laboratório Nacional Brookhaven, nos EUA. Ele trabalha no Atlas, um dos quatro detectores do LHC.
Com tantos detalhes, a data de inauguração da supermáquina vinha sendo adiada nos últimos dois anos pelo Cern, o centro de física nuclear europeu que abriga o experimento.
O LHC foi construído em 14 anos pelo próprio exército de milhares de físicos de 80 países que vão usá-la.
Pesquisadores brasileiros participam do megaprojeto, tanto na construção e operação de seus quatro detectores quanto na análise da montanha nunca antes obtida de dados que as colisões irão gerar.
Com uma energia máxima de 362 megajoules cada uma -o suficiente para derreter uma tonelada de cobre-, as colisões arrebentarão os prótons. Da aniquilação podem surgir partículas desconhecidas, apenas previstas teoricamente.
Entre as previsões que aguardam confirmação está o bóson de Higgs, a partícula que daria massa a todas as demais. Outra previsão é a criação de miniburacos negros, que se desintegrariam rapidamente (sem engolir a Terra, portanto, como alguns temiam). Traços de miniburacos negros seriam evidência da existência de dimensões espaciais a mais.
Nem todos os físicos, porém, estão apostando alto nessas confirmações. Um dos membros mais ilustres da comunidade, ao contrário, está literalmente botando dinheiro contra algumas delas.
"Acho que será muito mais interessante se não acharmos o Higgs", disse o britânico Stephen Hawking à rádio BBC ontem. "Isso vai mostrar que algo está errado e que precisamos pensar melhor. Apostei US$ 100 como não vamos achar o Higgs." Ele continua: "Se o LHC produzir pequenos buracos negros, não tenho dúvida de que ganharia o Prêmio Nobel. Entretanto, acho que a probabilidade de que o LHC tenha energia bastante para criar buracos negros é menor que 1%."
O LHC começa funcionando com uma energia que é aproximadamente metade da energia do atual maior acelerador de partículas do mundo, o Tevatron, no Fermilab, nos EUA.
Segundo Damázio, o primeiro detector a tomar dados interessantes cientificamente será o LHCb, que pode funcionar com apenas um feixe.
"Não espero resultados novos até 2010", diz Pedro Mercadante, da Unesp, que participa de um dos detectores do LHC.


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