|
Próximo Texto | Índice
Princípio que permitiu o iPod leva Nobel de Física
Sanduíche metálico nanométrico possibilitou criação de disco rígido compacto
Fenômeno que aumenta a sensibilidade de material condutor foi desvendado
pelo alemão Peter Grünberg
e pelo francês Albert Fert
Yoan Valat/EFE
|
Albert Fert concede entrevista após anúncio do prêmio |
DA REPORTAGEM LOCAL
O Prêmio Nobel de Física de
2007, anunciado ontem de manhã, está por trás da tecnologia
do aparelho que se tornou o sonho de consumo de milhões de
jovens mundo afora. O fenômeno chamado "magnetorresistência gigante" -descoberto
em 1988 pelo francês Albert
Fert e pelo alemão Peter Grünberg- é o que permitiu a criação de minúsculos discos de
memória de computador, como
os que existem nos miniaparelhos de música do tipo iPod.
"Você gosta de física?" disse
Fert, 69, a um grupo de jovens
ontem, no Centro Nacional de
Pesquisa Científica da França,
em Orsay (Grande Paris),
quando jornalistas o cercavam.
"Se você pode escutar música
no seu MP3, é um pouco graças
àquilo que fiz."
Em termos técnicos, o que os
dois físicos descobriram (cada
um de forma independente) foi
um modo de construir materiais mais sensíveis a campos
magnéticos (veja quadro na página 20), que se valem das propriedades esquisitas que os materiais assumem na escala nanoscópica (dos milionésimos
de milímetro). Foi uma das primeiras aplicações do campo
nascente da nanotecnologia.
Em uma década, foi possível
levar a descoberta a várias aplicações de informática- incluindo os discos rígidos de
computadores domésticos, que
hoje guardam mais informação
em menos espaço.
A descoberta, que teve também a participação do gaúcho
Mario Baibich (veja texto na
pág. 20) e de outros pesquisadores, renderá ao alemão e ao
francês o prêmio em dinheiro
de 10 mil coroas suecas (cerca
de US$ 1,5 milhão).
O francês disse que, na época
da descoberta, não previa tantas aplicações. "Nunca dá para
fazer previsões em física", afirmou. "Ultimamente, quando
vou a um mercado e vejo o dono
digitar em seu computador, eu
penso: uau, ele está usando
uma coisa que eu armei na minha cabeça. É maravilhoso."
Após verem a expansão da linha de pesquisa criada há 20
anos, porém, os físicos não se
surpreenderam tanto com o
anúncio do Nobel. "Como eu já
tinha recebido um monte de
prêmios, sempre me perguntavam quando viria o grande",
disse Grünberg, do Centro de
Pesquisas de Jülich.
O alemão também foi mais
visionário do que o francês ao
prever aplicações: patenteou a
descoberta e hoje recebe royalties de várias empresas de tecnologia, incluindo a IBM.
("Quando você tem três filhos,
é bom ter uma renda extra.")
A descoberta de Grünberg e
Fert, porém, não teria sido um
sucesso de mercado se um terceiro pesquisador não tivesse
dado sua contribuição posterior. A técnica usada pelos dois
europeus para produzir materiais com magnetorresistência
gigante (GMR, na sigla em inglês) era cara demais para aplicação em escala industrial.
EUA de fora
Foi o inglês Stuart Parkin,
trabalhando em um centro de
pesquisas da IBM em San José,
na Califórnia, EUA, que desenvolveu uma maneira de produzir o material necessário de forma mais barata. O critério de
premiação do Nobel, porém, leva em conta o pioneirismo da
idéia em si, e ele não esteve entre os agraciados. Esta foi a primeira vez desde 1999 que nenhum americano foi incluído
entre os laureados de física.
Para Ben Murdin, físico da
Universidade de Surrey (Inglaterra) o avanço trazido foi brutal. "Um disco rígido de computador usando um sensor GMR é
equivalente a um jato voando a
30.000 km/h a um metro de altura, e sendo capaz de ver e catalogar cada folha de grama no
chão", afirmou.
Nem só a leitura de dados,
porém, foi impulsionada pela
GMR: o princípio fundou a
spintrônica, uma nova eletrônica. Enquanto no modo convencional os aparelhos se valem apenas da carga elétrica para manipular informação, a
spintrônica usa o spin, uma
propriedade do elétron análoga
a um ângulo de giro.
Uma das aplicações da spintrônica que começa a entrar no
mercado agora é um novo tipo
de RAM, a memória rápida do
computador -aquela que registra o que digitamos antes de
o texto ser "salvo". Batizada de
MRAM, ela não se apaga quando não há energia.
Com agências internacionais
Próximo Texto: Fert gosta de rúgbi, de vela e de Almodóvar Índice
|